sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O que um parto domiciliar pode nos ensinar?

Há duas semanas, visitei uma amiga que recebeu uma menina. O amor daquela família nos alimentava enquanto os víamos em harmonia plena de emoções. Minha querida amiga contou-nos como foi seu momento de parto domiciliar.
Peço desculpas se não utilizar os nomes corretos para cada momento ou instrumento. Sou leiga nesta área.
A esperada criança já passava das 38 semanas e a mãe começou a ficar aflita no dia em que a gestação completou a 42ª semana. A parteira que acompanhava a visitou neste dia e sugeriu a realização de um exame de ultrassom para tranquilizar a família. Ela me explicou que depois da 41ª semana, a medicina ocidental entende que a criança entra em sofrimento, por isto a preocupação.
O exame indicou saúde: a menininha estava numa boa. Na noite deste dia as contrações começaram. O pai acompanhou tudo: cronometrou as contrações em duração e intervalos. A parteira lhe indicou quais seriam os índices críticos para o parto. Pai e mãe caminharam durante toda a noite e relataram, com espanto que nos foge, a percepção de tempo completamente alterada pelo grande acontecimento.
Ambos perderam completamente a noção do tempo e não se sentiram cansados com os trabalhos do parto. Ele a apoiava quando as contrações vinham e sentia a força de seu corpo sob suas unhas em seus braços. Sofreu por não poder compartilhar as dores com sua companheira. Ela, afirma que não pode chamar o que sentia de dor, era algo diferente. O primeiro filho do casal também participou do parto. Um amigo do casal fez questão de apoiar o momento dando suporte material e acompanhando o menino.
Ouvir a mãe falando de seu parto foi algo indescritível e encantador. A fala do pai emocionou a mim e a amiga que me acompanhava na visita. Quanta força e emoção essa família viveu em conjunto naquele dia!
A confiança que as pessoas depositaram umas nas outras, a atenção total que disponibilizaram, a alegria com que contam como tudo deu certo é algo muito bonito de presenciar.
Sei que deve ter havido angústia e medo durante todo o processo, antes até da concepção da criança tão esperada. E é por isso mesmo que podemos pensar na imensa coragem que envolveu todo o desenvolvimento da pequena, a mudança que promove nas pessoas que a cercam e com as quais agora forma a nova família.
Eu e a amiga que visitávamos os novos seres ali unidos dissemos que gostaríamos de estar mais tempo com nosso amigo pai. Ouví-lo nos mostrou um acontecimento não imaginado por mim. Foi realmente surpreendente escutar as emoções de um homem acompanhando a chegada de sua filha com presença e emoção intensa.
Isto que foi negado ao mundo masculino nos assombra e estarrece. Que surpreendente é a emoção de um homem. Como aquele relato mostrou nosso amigo pequenino em sua imensa vontade de ajudar sua esposa no parto e grandioso em sua vibração e envolvimento.
Este casal lindo e seus dois filhos mostram-nos que estamos construindo uma forma de vivermos juntos de forma diferente dessa que estamos acostumados. A frieza da medicina ocidental, o isolamento que esta cultura nos impõe, esse excesso patológico de higiene vem sendo superado centímetro por centímetro, lentamente por cada um de nós em suas práticas cotidianas.
Eu entendo que o envolvimento afetivo real entre as pessoas, entre profissionais e seus clientes, entre transeuntes na rua, pode transformarmos internamente. Um sorriso verdadeiro entre pessoas desconhecidas transforma ambas.