tag:blogger.com,1999:blog-16184056880949154222024-03-13T19:23:04.555-03:00Psicologia Escolar - Um Espaço Para DebateExposição de experiências em Psicologia Escolar, espaço para discussões, informações para estudantes de psicologia sobre a realidade atual, questões típicas da área, trocas entre profissionais em atuação e acadêmicos.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.comBlogger97125tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-58305603377651616842020-03-13T22:17:00.000-03:002020-03-13T22:21:59.498-03:00Jogos eletrônicos e sala de aulaHá anos ouvimos que uma professora em sala de aula não consegue competir com equipamentos eletro-eletrônicos se considerarmos o interesse das crianças.<br />
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Usar um computador, tablete ou celular é mais motivador do que assistir uma aula. Os equipamentos são individuais, apresentam luzes, movimentos, opções de reinício, portas para outros sítios, jogos. Ultimamente, trazem opções de interação com outras pessoas em conversas, jogos, brinquedos e sei lá mais que coisas. As alternativas, alcances, graus, escalas são tantas... como eu pesquiso muito pouco na área, não posso descrever aqui.<br />
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Mas isto tudo me parece muito restrito e limitante.<br />
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A movimentação possível é muito pequena. Pouca mobilidade ocular, baixo uso de pálpebras a ponto de ressecar os olhos, mobilidade de apenas alguns dedos e uso dos demais e da mão em posição estática de pressão e suspensão. Entendo que o correspondente em estimulação interna (cognitiva), de exigência de informações novas e formação destas não seja tão grande ou intensa como pregam os amantes da modernidade.<br />
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Há quem diga que em breve os professores serão substituídos ou tornar-se-ão supérfluos porque as crianças aprendem com os computadores e suas mídias e aplicativos sociais ou não. Mas aprendem o quê?<br />
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Em uma sala de aula há outros seres humanos com os quais a criança irá se encontrar todos os dias da semana, desde que frequente a escola devidamente conforme preconiza a lei nacional. A estimulação oferecida diariamente durante todo o período da aula é visual, olfativa, gustativa, tátil, auditiva, vestibular e cinestésica (para quem considera apenas cinco sentidos, na psicologia estudamos estes dois a mais, totalizando sete). Eu acredito que um computador nunca conseguirá alcançar um nível tão elevado de estimulações quanto uma sala de aula oferece. Vamos aprofundar um pouquinho.<br />
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Em contato com outras pessoas, temos estímulos visuais de diversas ordens: cores, desenhos, movimentos, profundidade, texturas, amplitude, brilhos, reflexos. Lemos as expressões faciais das demais pessoas ou da pessoa que focamos. Talvez as máquinas nos dêem isto.<br />
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No ambiente real ainda teremos os sons locais próximos e distantes estimulando meu exercício de escolha através do foco auditivo. Todos os sons chegam ao mesmo tempo na orelha e precisam ser elaborados para que se use o som desejado. Esta estimulação a máquina não me oferece. Para que um filme, áudio, programa, jogo ser aceito deverá apresentar um som limpo. O som ambiente captado por um aparelho tem toda uma técnica para que seja suportável. É tanto que há um prêmio de cinema exclusivo para a realização desta captação. Devemos considerar que há estimulação auditiva no uso de eletrônicos. Entretanto, esta já é purificada e perde muito de sua capacidade informativa e fomentadora de desenvolvimento para o humano.<br />
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Encontra-se em pesquisa a associação de imagens e sons com aromas. Há cientistas estudando odores básicos como os quatro sabores já classificados de modo a produzir uma máquina que os misture em graus e provoque o olfato de expectadores de filmes e programas a distância. Imagina o quão interessante para a indústria alimentícia será um equipamento que emita os odores de refeições prontas para o consumo? Como este advento ainda não está disponível, temos este tipo de estímulo possível apenas na natureza, no mundo concreto e presente. Digo isso porque mesmo a memória olfativa nos trai. Ela nos chega através de odores semelhantes e, sim, nos provocam evocações geralmente afetivas e algumas vezes muito antigas. Este efeito do olfato na memória tem sido estudado por psicólogos com resultados bastante interessantes. O cheirinho dos colegas e da professora que vai se modificando durante o passar do tempo e o significado disto. Um odor ruim, indescritível que nos informa que há algo de errado com os intestinos de alguém, o anúncio da chegada do lanche antes da porta se abrir, a poda de árvores ou da grama que cresce ao redor da escola são estimulações possíveis de serem exploradas pela docente. As interpretações de cada odor descrito aqui são passíveis de pesquisa em sala de aula, tornando-se foco de interesse da turma e aumentando a motivação nas aulas. Várias são as fontes de odores e muitos são os usos possíveis deles.<br />
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Falamos de comida. O lanche da escola é um fator que também pode ser explorado em sala de aula. E nos traz o sentido da gustação. Em minha atual escola é comum aulas de culinária. As nossas professoras trabalham conceitos matemáticos, demonstram a ideia de processo (o que fazer antes, o que depois para que tenhamos quais efeitos), indicam a necessidade de espera quando a receita exige forno ou fogo, chegando ao resultado próximo, mas não mais o desejado pela docente, da degustação. E a apreciação de sabores também pode ser alvo de aprendizagem e motivação por parte de todos. Quais são as possibilidades de uso de sabores em uma aula? Poderemos usar o lanche que cada criança traz de casa para fomentar uma discussão, um aprendizado, uma problematização? E o quanto os sabores são ligados à amorosidade? Alimentamos-nos inicialmente de nossa própria mãe. Ela já foi o mundo inteiro para nós e, após sairmos de dentro dela, na imensa maioria das vezes, ela nos mostrou o mundo de seus braços e nos alimentou em seu seio, de seu próprio corpo. A implicação emocional deste fato inicial para todos nós faz com que a alimentação seja também muito afetiva. Há sempre uma relação emocional entre o alimento, como o tomamos e seu efeito sobre nós.<br />
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Ah, falamos de afetividade ligada aos aromas e sabores. E quanto ao tato? Eu entendo este sentido como o mais emocional de todos. É certo que quando vemos, ouvimos, degustamos ou cheiramos algo podemos chegar a nos espantar, arrepiar, chorar; mas as sensações que nos tocam diretamente a pele estão necessariamente em contato conosco. Pressão, temperatura, textura, tempo, cobertura, ritmo... são algumas das informações que nos chegam através da pele. Há que se atentar que parte das sensações decorrentes da alimentação são também táteis. Toques, carinho (e carícias), beijo, abraço são contatos físicos absolutamente emotivos. Esses gestos humanos nos trazem mais informações do que as características táteis listadas logo acima. Existe muito mais delicadezas e comunicações envolvidas nessas trocas. Elas são lidas por cada pessoa de um modo que ainda nos foge em denominações e, provavelmente, em estudos. Em uma oficina de abraços, que levou justamente esse nome, as pessoas se emocionaram tanto e tantas vezes com os diferentes amplexos que deram e receberam que não considero justo afirmar que este é um sentido restrito a esses elementos físicos.<br />
Há mais, muito mais em informação quando os trocamos.<br />
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E as crianças, que são movimento e emoção sem muita polidez ainda, trocam muito mais contato do que nós, adultos. Elas se seguram, se tocam, se estapeiam, se mordem, se beijam, se esmurram, chutam, abraçam, empurram, trombam, cascudeiam (esse verbo existe?), cutucam, beliscam, arranham, espetam com a unha, lápis, caneta, compasso... ai! quantas possibilidades! E a cada uma dessas reações, dependendo de quem é o objeto da ação, de quem é o sujeito, do momento em que cada uma delas ocorre, da intenção de cada uma, do contexto envolvido, do dia de cada um dos personagens é possível uma reação e re-reação diferente.<br />
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Perante a imensa possibilidade de ações e reações das crianças entre si, entre si e a professora e de si para si mesmas perante as ocorrências ambientais, não há nenhum equipamento eletrônico que supere uma sala de aula. Porque há nela uma confiança gerada pelo tempo de convivência e a segurança de estar em um local onde os pais lhe entendem bem guardada/o. E agir em um local tão seguro, com regras a seguir e a romper, no qual se conhece as saídas e entradas e a quem recorrer se algo der errado, agir na escola não é como atuar em nenhum outro lugar porque este lugar é seu. A escola é da criança por excelência. Nenhum outro lugar é tão definido por esta fase da vida. Talvez um parquinho, né? É, acho que um parquinho também é definido pela infância.<br />
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E um parquinho e a escola são insuperáveis quanto às potencialidades de emoções, vivências e aprendizados gerados pela sua característica essencial, a saber grupos de crianças conhecidas se desenvolvendo em conjunto. Um jogo eletrônico perdeu em agregação e emoção, perdeu!<br />
Resta-me falar dos sentidos vestibular e cinestésico. O sentido vestibular nos dá a sensação de que posição estamos em relação ao solo. Se estamos em pé, sentados, deitados, com um pé no chão, mão, pés, mãos, pés e mãos, joelhos, de lado... As informações táteis de todo o nosso corpo alimentam essa sensação global. Sem este sentido não podemos nos manter em nenhuma posição, não podemos mudar de posição nem caminhar.<br />
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O sentido cinestésico nos informa onde cada um dos nossos membros e suas divisões particulares e a cabeça estão em relação ao nosso corpo. Mesmo ao retornar de um período inconsciente (sono) ou ao cairmos (de para-quedas ou não) sabemos onde cada uma de nossas partes está e podemos movermos-nos em relação a nós mesmos a partir dessa ciência.<br />
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Ambos sentidos são e devem ser muito trabalhados nas escolas em jogos coletivos: Pic-Pega, Pic-Esconde, Pic-Altas, Pic-Bandeirinha, Pic-Cola, jogo de bola de gude, Cinco Marias, trenzinho, todas as danças e coreografias, ações de desenhar, escrever, pegar algo, arremessar, tomar, passar. Entendo que muito pode se avançar explorando esses dois últimos sentidos mas, principalmente, nos falta estudar e estimular o tato com nossas crianças.<br />
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Essas informações chegam-nos em tempo real sem depender de haver energia em qualquer aparelho ou disponível na rede elétrica para usarmos. Quero dizer, se não houver energia elétrica disponível, a estimulação ainda estará ativa. Elas têm sido menosprezadas pela nossa cultura e há reflexo disso na escola. Atentemo-nos para evitar erros de estimulação do desenvolvimento de nossas crianças e nossos, inclusive.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-92180549747998055312020-01-26T19:41:00.002-03:002020-03-13T16:04:36.840-03:00Livro Psicologia no Ambiente EscolarEis que pago a promessa feita há alguns anos!<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibGwJXRypiCTRdqcJf2Norho3as7Uj1O7Nf8xuXvdSniF3_wAYm6uYXGjbLHZ-eApqNT4Oujxr-sgGujk8Kzp8WTbNaiWRJ1df6aalm8pXOT9FGIgAfkGeFXJxnHko-KRZJ9LimnxLkeg/s1600/Propaganda+do+Livro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="769" data-original-width="737" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibGwJXRypiCTRdqcJf2Norho3as7Uj1O7Nf8xuXvdSniF3_wAYm6uYXGjbLHZ-eApqNT4Oujxr-sgGujk8Kzp8WTbNaiWRJ1df6aalm8pXOT9FGIgAfkGeFXJxnHko-KRZJ9LimnxLkeg/s320/Propaganda+do+Livro.jpg" width="306" /></a></div>
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O livro já está a disposição na editora para compra.<br />
O lançamento será dia 20 de março de 2020 em Brasília.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-86997318067576532812019-11-29T12:01:00.001-03:002019-11-29T12:01:38.147-03:00O que um parto domiciliar pode nos ensinar?Há duas semanas, visitei uma amiga que recebeu uma menina. O amor daquela família nos alimentava enquanto os víamos em harmonia plena de emoções. Minha querida amiga contou-nos como foi seu momento de parto domiciliar.<br />
Peço desculpas se não utilizar os nomes corretos para cada momento ou instrumento. Sou leiga nesta área.<br />
A esperada criança já passava das 38 semanas e a mãe começou a ficar aflita no dia em que a gestação completou a 42ª semana. A parteira que acompanhava a visitou neste dia e sugeriu a realização de um exame de ultrassom para tranquilizar a família. Ela me explicou que depois da 41ª semana, a medicina ocidental entende que a criança entra em sofrimento, por isto a preocupação.<br />
O exame indicou saúde: a menininha estava numa boa. Na noite deste dia as contrações começaram. O pai acompanhou tudo: cronometrou as contrações em duração e intervalos. A parteira lhe indicou quais seriam os índices críticos para o parto. Pai e mãe caminharam durante toda a noite e relataram, com espanto que nos foge, a percepção de tempo completamente alterada pelo grande acontecimento.<br />
Ambos perderam completamente a noção do tempo e não se sentiram cansados com os trabalhos do parto. Ele a apoiava quando as contrações vinham e sentia a força de seu corpo sob suas unhas em seus braços. Sofreu por não poder compartilhar as dores com sua companheira. Ela, afirma que não pode chamar o que sentia de dor, era algo diferente. O primeiro filho do casal também participou do parto. Um amigo do casal fez questão de apoiar o momento dando suporte material e acompanhando o menino.<br />
Ouvir a mãe falando de seu parto foi algo indescritível e encantador. A fala do pai emocionou a mim e a amiga que me acompanhava na visita. Quanta força e emoção essa família viveu em conjunto naquele dia!<br />
A confiança que as pessoas depositaram umas nas outras, a atenção total que disponibilizaram, a alegria com que contam como tudo deu certo é algo muito bonito de presenciar.<br />
Sei que deve ter havido angústia e medo durante todo o processo, antes até da concepção da criança tão esperada. E é por isso mesmo que podemos pensar na imensa coragem que envolveu todo o desenvolvimento da pequena, a mudança que promove nas pessoas que a cercam e com as quais agora forma a nova família.<br />
Eu e a amiga que visitávamos os novos seres ali unidos dissemos que gostaríamos de estar mais tempo com nosso amigo pai. Ouví-lo nos mostrou um acontecimento não imaginado por mim. Foi realmente surpreendente escutar as emoções de um homem acompanhando a chegada de sua filha com presença e emoção intensa.<br />
Isto que foi negado ao mundo masculino nos assombra e estarrece. Que surpreendente é a emoção de um homem. Como aquele relato mostrou nosso amigo pequenino em sua imensa vontade de ajudar sua esposa no parto e grandioso em sua vibração e envolvimento.<br />
Este casal lindo e seus dois filhos mostram-nos que estamos construindo uma forma de vivermos juntos de forma diferente dessa que estamos acostumados. A frieza da medicina ocidental, o isolamento que esta cultura nos impõe, esse excesso patológico de higiene vem sendo superado centímetro por centímetro, lentamente por cada um de nós em suas práticas cotidianas.<br />
Eu entendo que o envolvimento afetivo real entre as pessoas, entre profissionais e seus clientes, entre transeuntes na rua, pode transformarmos internamente. Um sorriso verdadeiro entre pessoas desconhecidas transforma ambas.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-30923824726897838482015-01-26T15:53:00.001-03:002015-02-10T13:53:41.738-03:00Livros lidos em 2015Markides, Kyriacos C. (2005). Cavalgando o leão: à procura do cristianismo místico. São Paulo: Editora Pensamento.<br />
Este sociólogo greco-estadunidense expõem as teorias sociológicas que embasam fenômenos místicos de forma muito didática e quase romanceada. Através de diálogos e apresentando-se como personagem de várias viagens, Markides escreve de forma leve fundamentando teoricamente suas impressões, conforme seu costume acadêmico.<br />
<br />
De Lucca, José Carlos (2012). Alguém me tocou - porque eu senti que de mim saiu poder. São Paulo; Intelítera Editora.<br />
Este livro me foi presenteado por um amigo. Trata-se de reflexões sobre passagens do novo evangélio. Convites para reflexão de ações simples e cotidianas à luz de ensinamentos do mestre espiritual mais conhecido do mundo ocidental. Uma leitura cardecista.<br />
<br />
Gutman, Laura (2012). A maternidade e o encontro com a própria sombra. Rio de Janeiro: BestSeller.<br />
Gutman escreve a partir de sua experiência de atendimento psicanalíticos individuais ou em grupos de mulheres em puerpério principalmente. As relações emocionais observadas como padrão na díade mãe-bebê são descritas de forma inteligível, tocando a sensibilidade do leitor. A pérola com que Gutman nos brinda refere-se à confusão emocional que acontece logo que o bebê nasce.<br />
Um grande amigo que me ofereceu o livro, tem-no como o livro mais louco que já leu. Acredito que isso se explica pela linguagem psicanalítica da obra. A leitura é realmente emocional e, por isso, investi bastante tempo para completá-la. Não é um livro comum.<br />
Esta autora nos acolhe enquanto mulheres, mesmo as que não têm filhos, permitindo as sensações que temos e que não são compreendidas por nós ou nossas parceiras de vida porque não nos foi apresentada a possibilidade de sentirmos cruamente. Assim, ela nos possibilita.<br />
Laura Gutman estará em Brasília no dia 16/05, no Parlamund. Eu vou!<br />
<br />
Reich, Wilhelm (1936/1984). A revolução sexual. São Paulo: Círculo do Livro. Tradução: Ary Blaustein.<br />
Reich apresenta a fundamentação da moral sexual paternalista que sustenta o sistema capitalista e como ela se dá na primeira parte. A segunda é dedicada à descrição das novas relações esboçadas pela sociedade socialista russa nas primeiras décadas da revolução. A revolução sexual necessária à superação do paternalismo é malograda e Reich expõem sua explicação para tal.<br />
Reich desconstrói toda a base óbvia que sustenta as relações sociais em que vivemos e acreditamos ser a melhor. Mudá-la será realmente revolucionário e assustador. Foi o que aconteceu aos russos. Ele nos mostra com bastante clareza o quanto estamos restritos em nossa possibilidade de desfrutar o prazer sexual e porquê. Trata-se de leitura bastante interessante que propõe um outro olhar sobre nossas relações tradicionais.<br />
<br />
Jung, C.G. (2014). Sobre sentimentos e a sombra: sessão de perguntas de Winterthur. Petrópolis: Vozes. Tradução: Lorena Richter.<br />
Jung apresenta de forma direta e fácil suas ideias acerca de questões de amigos com os quais se encontrava periodicamente. Os dois últimos encontros foram gravados e a transcrição das fitas foi publicada. Somente no ano passado, a tradução desta obra foi apresentada ao Brasil.<br />
O título é um excelente resumo. Trago trechos marcantes do texto:<br />
"Passamos por uma renovação pessoal somente quando nos assumimos. Entretanto, pessoas que têm como hábito projetar desejam sempre responsabilizar as outras pessoas, como se os outros fossem responsáveis pelas asneiras que cometemos. Por exemplo, alguém acha que a esposa deve tratá-lo de forma diferente, pois ele mesmo se trata de modo estúpido. Assim a esposa deveria fazer a coisa certa! E assim por diante." (p. 42)<br />
"Estamos de mãos atadas. Pois a sombra é um arquétipo e ela age tomando-nos, apoderando-se de nós. Ninguém é tão burro assim a ponto de cometer de propósito um evidente pecado, pois as desvantagens são tão grandes de modo que nós mesmos o evitamos. (...) E isso é muito desagradável. Não nos permitimos tais coisas, isso não se faz. O que podemos evitar, evitamos de qualquer maneira. Mas diacho! - a questão é que essas coisas se apoderam de nós. Não temos nenhuma saída, nem dá tempo. O pecado foi cometido antes de percebermos que estamos pecando." (p. 62-3)<br />
<br />
Castro, Mary Garcia; Abramoway, Mirian e da Silva, Lorena Bernadete. (2004). Juventudes e Sexualidade. Brasília: UNESCO.<br />
As autoras apresentam resultados de pesquisa com adolescentes, seus pais, mães e professores nas capitais das unidades federadas de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo acerca de suas impressões relativas a sexualidade, a saber iniciação sexual, gravidez juvenil, contracepção, aborto, violência sexual/preconceitos e discriminações/incesto.<br />
Considero bastante abrangente e importante os resultados da pesquisa realizada. Porém trata-se de nutrição para proposta robusta de intervenção social na fase em estudo. As recomendações apresentadas pelas pesquisadoras versam sobre o fundamental papel da escola, esquivando-se de alertar órgãos governamentais e supra-governamentais (ONU) da ausência de instituições de agrupamentos juvenis independentes de educação ou religião.<br />
Uma recomendação específica salta particularmente aos meus olhos e aqui a transcrevo:<br />
"A pesquisa aponta algumas diretrizes de trabalho específicas, mais relacionadas com a comunicação escolar, a saber:<br />
(...)<br />
'incentivo em espaço para escuta e debate com os pais e, principalmente as mães sobre temas relacionados à sexualidade dos jovens." (p. 314)<br />
Aqui mostra-se questionável porque tendenciosa e paternalista o acento na responsabilidade da mãe sobre a sexualidade juvenil. Mais uma vez a ciência cumpre seu papel de mantenedora de <i>status quo</i>.<br />
Quase um século depois da primeira edição de "A revolução sexual" de Wilhelm Reich, temos um estudo extenso que sequer menciona a necessidade de se possibilitar locais seguros e adequados para encontros sexuais entre adolescentes.<br />
<br />
Foucault, Michel. (??/1984). Doença mental e Psicologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. Trad.: Lilian Rose Shalders. Coleção Biblioteca Tempo Universitário.<br />
Foucault expõe a impossibilidade de paralelo entre a patologia orgânica e a mental. Apresenta categorias de análise das doenças mentais - evolução humana, história individual, questões existenciais, interpretações culturais.<br />
Suscinto, muito filosófico e, às vezes, complicado, o texto possibilita visão ampla básica para o estudante de Psicologia. Oferece a necessária visão crítica para lidarmos com a avalanche de diagnósticos que enfrentamos atualmente. Com certeza, Foucault teria se divertido lendo O Alienista, se é que não o fez.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-82837152629557278612014-10-29T07:51:00.001-03:002014-10-29T07:51:29.023-03:00Segurança<div class="MsoNormal">
Quem trabalha ou já trabalhou com criança pequena percebeu o
quanto é repetitivo o comportamento deles em informar às professoras acerca das
ações dos demais. Quando as crianças têm idade de entrar para a escola, já
aprenderam sobre comportamentos certos e errados. Eles sabem perfeitamente
identificá-los e justificá-los.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Parece até natural que os pequenos venham de cinco em cinco
minutos dizer à autoridade local que este ou aquele colega fez isto ou aquilo
que não deve ser feito. Esta ação, no entanto, é muito combatida nas escolas em
que atuo ou atuei.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sim, há momentos em que as crianças interrompem a aula para
“dedurar” os colegas. A medida em que o tempo passa, as coibições são tão
frequentes que o comportamento cede. A vigilância constante é muito percebida
nos jardins de infância (crianças de três a cinco anos).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ela ocorre também quando um aluno é repreendido. Neste caso,
o pequeno aponta todos os colegas que estão fazendo algo como ele ou que já
fizeram e quando. Há, entretanto, duas formas pelo menos de explorarmos esta
ação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A indicação de comportamento impróprio por parte de uma
criança força uma ação do adulto. Significa uma solicitação de providência, um
pedido de ajuda ou justiça. Assim, à professora é exigido afastar-se do seu
fazer presente e tomar uma atitude em relação àquele pedido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se a professora atende a cada pedido destes, sua aula ficará
bastante interrompida porque manter a atenção de vinte pessoas ao mesmo tempo
não é nada fácil. Mais grave é pensar que o atendimento de cada pedido aumenta
a probabilidade de novas solicitações por parte de toda a turma: a frequência
do comportamento vai aumentar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O comum é o adulto repreender a criança dedo-duro
alertando-a do desconforto que seu comportamento trás para a professora e para
o colega objeto. A ação é classificada como inconveniente, chata, fofoca. Em
geral, se oferece a alternativa da/o pequena/o se focar em sua própria tarefa e
não atentar para o que fazem os demais, incentivando-se assim o individualismo
e a omissão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se um coleguinha risca a carteira na escola, uma criança de
quatro anos logo chama a professora. Mas se nós, adultos, notamos alguém
riscando um dos muros do nosso bairro, como deveremos agir?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Assistindo aos noticiários atuais, percebo os avanços em
investigações policiais que utilizam a delação premiada. Ora, o que foi coibido
por gerações agora é tratado como auxílio ao Estado. E, se pensarmos que o
Estado somos nós, então o que nos foi ensinado a vida inteira como errado é, de
fato, certo. Ou era errado e agora é certo? Ou é errado e a justiça nos premia
por agirmos erroneamente?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se a delação premiada beneficia investigações criminais,
será que as professoras devem agir de modo diferente com seus alunos? Ou será
que a justiça dos adultos não se relaciona com as ações na pré-escola? Será que
um interrogatório em CPI não interfere na pedagogia?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu, particularmente, sou adepta da informação. Acho até que,
sendo psicóloga, devo ser assim porque quanto mais ouvimos, mais condições
temos de ajudar nossos clientes. Penso que uma sociedade em que todos somos
fiscais uns dos outros funcionará melhor do que esta em que uma pessoa joga
papel no chão ou fura um sinal e todos os outros fingem que não estão vendo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Implicar-se em suas ações, preocupar-se em não perturbar a
vida da pessoa ao lado, cuidar, zelar o bem público podem ser atitudes
benéficas para o desenvolvimento desta sociedade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando a professora diz ao seu pequeno aluno: “Já falei pra
você se ocupar com a sua tarefa. Eu cuido da turma.”, ela diz também: “Só o que
eu vejo importa.” Todos os alunos aprendem, assim, que fazer o proibido sem ser
visto é permitido. Logo, cometer ato ilícito legalmente enquanto adulto não
envolve nenhum problema, desde que ninguém veja e, se vir, quem sabe uma
conversa resolve. “Talvez um cafezinho?”</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entendo que, sendo todos fiscais, as ações impróprias serão
reduzidas até que a necessidade de fiscalização diminua intensamente. E não há
risco da escola ficar enfadonha por este motivo: há muito mais coisas
permitidas que proibidas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lembrando que uma premiação para as crianças muitas vezes é
apenas uma palavra ou um gesto afetuoso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então as duas formas que exploro aqui ao interpretar esta
questão são seguirmos nos omitindo e individualistas não prestando socorro
quando algo vai mal ou respeitamos nosso co-cidadão que nos alerta sobre um
comportamento indevido nosso. Talvez o grande clamor por mais segurança pública
passe por este caminho. Uma rota de mais atenção um com os outros, com mais
compaixão e solidariedade, em uma sociedade em que não seja necessário gritar
“fogo” para receber ajuda em caso de assalto ou ameaça de estupro, como é
orientado por policiais. Uma cultura onde um pedido de socorro seja ouvido e
atendido prontamente ao invés de ser interpretado como sinal de risco de morte
e fuga instantânea. </div>
Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-91237069675234817902014-10-08T12:18:00.001-03:002014-10-08T12:33:53.837-03:00Todas as postagens<div class="MsoNormal">
Busco uma ferramenta para listar minhas postagens pelo
título. Enquanto não encontro, manterei tal lista como postagem atual de forma
a facilitar o acesso dos visitante aos textos mais antigos. Cada endereço se
refere aos títulos elencadas logo abaixo.</div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-04-01T00:00:00-03:00&updated-max=2009-05-01T00:00:00-03:00&max-results=5">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-04-01T00:00:00-03:00&updated-max=2009-05-01T00:00:00-03:00&max-results=5</a></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Objetivos de Criação<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Prioridades<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Parcerias para o trabalho em Psicologia Escolar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Acolher o problema<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Excesso de exigência parental<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-06-01T00:00:00-03:00&updated-max=2009-07-01T00:00:00-03:00&max-results=2">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-06-01T00:00:00-03:00&updated-max=2009-07-01T00:00:00-03:00&max-results=2</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Separação por capacidade<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Facilitando o aprendizado<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-07-01T00:00:00-03:00&updated-max=2009-08-01T00:00:00-03:00&max-results=4">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-07-01T00:00:00-03:00&updated-max=2009-08-01T00:00:00-03:00&max-results=4</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Conhecimentos de Psicologia utilizados em Psicologia Escolar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O que espera a escola<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Comunhão Orientação Educacional<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O Poder Psicológico<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Angústia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2010-01-01T00:00:00-03:00&updated-max=2011-01-01T00:00:00-03:00&max-results=27">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2010-01-01T00:00:00-03:00&updated-max=2011-01-01T00:00:00-03:00&max-results=27</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Famílias Desestruturadas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Outros tipos de famílias<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Homofobia na escola<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dificuldade de publicação e conhecimentos insabidos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Redes Sociais<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O afeto como vacina anti-drogas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Desenvolvendo habilidades sociais em adolescentes<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dinâmica laboral de uma escola<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Um caso de indisciplina grave<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Redes interinstitucionais<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Psicologia Escolar na internet - uma pesquisa de conteúdo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Violência contra educadores<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sobre indisciplina coletiva<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Curso de prevenção de uso de drogas para educadores de
escola pública<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Curso de escutatória<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Forúm Mundial de Educação Profissional e Tecnológica<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2010-01-01T00:00:00-03:00&updated-max=2011-01-01T00:00:00-03:00&max-results=27">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2010-01-01T00:00:00-03:00&updated-max=2011-01-01T00:00:00-03:00&max-results=27</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Elaborando um Plano de Ação<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Projeto de Lei 3512 de 2008<o:p></o:p><br />
Taare Zameen Par: Every Child is Special (Como Estrelas na Terra: toda criança é especial)</div>
<div class="MsoNormal">
Utilizando a técnica da leveza</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quando começa o atendimento psicológico<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Devolutivas de atendimento<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
As necessidades de relações interpessoais<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Necessidades de trocas afetivas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Reconhecimento de trabalho e frustração<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
As questões da Mariane<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ecologia Prática<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Cultura e fragilidade humana<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Fortalecimento de Ego<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Formação continuada<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Dificuldade de aprendizagem<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sobre o autismo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Teste de inteligência: Matrizes Progressivas Coloridas de
Raven<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ainda sobre o autismo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Jogos de computador e desenvolvimento cognitivo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2011-01-01T00:00:00-03:00&updated-max=2012-01-01T00:00:00-03:00&max-results=23">http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/search?updated-min=2011-01-01T00:00:00-03:00&updated-max=2012-01-01T00:00:00-03:00&max-results=23</a></div>
<div class="MsoNormal">
Conselho de classe<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Detalhes de educação<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Relação professor/a aluno/a<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A presença do psicólogo na escola<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Atuação preventiva<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ciclo de Vida na Psicologia Escolar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Novo tipo de autismo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Valorização da profissão<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Medicalização e Pedagogia<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Valorizando propensões<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Tecnologia psicológica nacional <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Utilizando jogos: Can Can<br />
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/utilizando-jogos-can-can.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/utilizando-jogos-can-can.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Utilizando jogos: Xadrez<br />
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/utilizando-jogos-xadrez.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/utilizando-jogos-xadrez.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Utilizando jogos: Damas Chinesas <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/utilizando-jogos-damas-chinesas.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/utilizando-jogos-damas-chinesas.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Brincadeiras naturais<br />
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/brincadeiras-naturais.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/10/brincadeiras-naturais.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Possibilidades de Gênero<br />
<a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/11/possibilidades-de-genero.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/11/possibilidades-de-genero.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Avaliações institucionais ou O despreparo dos psicólogos <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/11/avaliacoes-institucionais-ou-o.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2011/11/avaliacoes-institucionais-ou-o.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Doenças escolares e desenvolvimento cognitivo <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2012/06/doencas-escolares.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2012/06/doencas-escolares.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Paternagem <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/03/paternagem.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/03/paternagem.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Cuidadores e auto-cuidado <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/03/cuidadores-e-auto-cuidado.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/03/cuidadores-e-auto-cuidado.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Paternidade <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/03/paternidade.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/03/paternidade.html</a><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Paternagem e guarda compartilhada <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/04/paternidade-e-guarda-compartilhada.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/04/paternidade-e-guarda-compartilhada.html</a><o:p></o:p></div>
Viva o Futebol <a href="http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/04/viva-o-futebol.html">http://www.atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/04/viva-o-futebol.html</a><br />
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-39805331116550060602014-04-27T00:06:00.002-03:002014-04-27T00:47:20.091-03:00Viva o futebol!Os homens precisam de contato físico tanto quanto as mulheres e os outros animais mamíferos. A proibição explícita da aproximação homoafetiva é, literalmente, driblada no Brasil. Aqui, os homens desde tenra idade suprem esta necessidade fisiológica através do futebol.<br />
<br />
Nesta atividade, toda a afetividade masculina tem ocasião de se expressar. Assisti ontem a uma partida de futebol com mais de trinta jogadores em uma das escola onde atuo. É claro que houve trombadas, empurrões, pisões, chutes, apertos, amassos. Deve ter sido delicioso e satisfatório para os meninos. E eram só meninos!<br />
<br />
Observei o jogo por mais de uma hora. Os conflitos eram resolvidos espontânea e rapidamente. As faltas eram cobradas, escanteios, haviam vários goleiros em ambas as traves. Tudo certo. Até que um garoto foi notado por mim no canto do campo segurando a barriga. Fui verificar se ele precisava de auxílio. Explicou-me com dificuldade e muita energia - um tanto confusa e emotiva - que outro lhe chutara a mão em um momento do jogo.<br />
<br />
Perguntei-lhe se queria um gelo para acalmar a lesão. Usamos gelo com frequência como remédio para contusões na escola posto ser proibida expressamente o uso de qualquer medicamento químico. Dei-lhe a opção de continuar no jogo. Aí, notem quanta beleza!, um dos colegas posicionou a bola para que ele batesse a falta. Eu desapareci instantaneamente para o garoto. Percebi imediatamente a mudança emocional dele e me retirei rapidamente do campo. Ele bateu a falta e fez o único gol da partida! E o gol foi bonito, viu?<br />
<br />
O garoto foi acolhido pelos pares. Quem disse que existe mão no mundo!?! O conflito foi resolvido, não percebi reclamação, nenhuma confusão ou discussão.<br />
<br />
A energia ativa, ríspida, forte típica do masculino é exercida com vigor no futebol. Os meninos correm e se batem sem agressividade. E entendem isso com seu âmago. Compreendem entradas maldosas e se acertam rapidamente. A ausência de solicitação de auxílio de adultos mostra, a meu ver, é claro, que a homeostase está sendo atingida e mantida.<br />
<br />
Para mim, mulher, adulta e ainda por cima psicóloga, o início da partida citada era prenúncio certo de conflitos e machucados graves. Ao final, e agora, percebo porque o deus Ares é símbolo do masculino. Firme, rígido, direcionado, guerreiro, objetivo, o deus grego da guerra mostra como o ímpeto natural do homem deve ser exercido para sua saúde global ser preservada e/ou alcançada.<br />
<br />
Nós, mulheres, educadoras, não estamos atentas a isso. Talvez não estejamos preparadas para tal. Não gostamos que as crianças corram, pois temos medo que se firam. Não gostamos de bola com os meninos porque acreditamos que ela gera confusão. Não permitimos que os meninos se organizem externa e internamente. Será isto um dos fatores que influenciam o aumento da agressividade entre os pequenos e deles em relação a nós? Qual o impacto dessa escola pacificadora, moderadora na constituição masculina adulta?<br />
<br />
Temos observado melhora de comportamento em alunos diagnosticados com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) após a frequência semanal em escolas de futebol, lutas marciais e outros esportes. A atividade física direcionada muda bastante a relação do indivíduo com ele mesmo e com os outros. Notem que as lutas são marciais - de Marte - o deus Ares no panteão romano.<br />
<br />
É inegável a influência que a cultura grega ainda exerce sobre nós, nosso berço apesar de tudo. Jung trás a importância da mitologia e seu impacto sobre o comportamento humano moderno. Talvez possamos aproveitar mais o que os mitos nos ensinam para potencializar o desenvolvimento dos nossos alunos.<br />
<br />
Enquanto isso, em se tratando de Brasil, viva o futebol!Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-65645405944948428212014-04-21T17:47:00.003-03:002014-04-21T17:47:58.582-03:00Paternidade e guarda compartilhada<div class="MsoNormal">
Um amigo querido perguntou quando eu escreveria mais sobre
paternidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É mesmo assustador que um homem faça esta pergunta para mim.
Mas tudo bem, quem provocou fui eu, né, começou, vai até o fim. Vamos lá!</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vejo algumas pessoas se confundirem quando falam em guarda
compartilhada. A guarda é considerada assim quando a criança fica o mesmo tempo
com o pai e com a mãe em suas respectivas residências. Visitas todo final de
semana não se constitui guarda compartilhada. Isso porque a semana tem sete
dias, não cinco, nem dois, mas sete.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Durante a semana, a criança e o adulto têm compromissos a
cumprir. A partir dos seis anos de idade, os pais são obrigados a manter as
crianças matriculadas e frequentes em escolas regulares. Essa obrigação dá um
grande trabalho porque não é só o transporte que está envolvido nisso. A
higiene pessoal, cuidados com educação e saúde estão incluídos no pacote. Sem
contar o trânsito. Nossas escolas funcionam em meio período. Por isso, a pessoa
que fica com a criança durante a semana deve permanecer com o pequeno em casa
no horário contrário à frequência na escola, contratar alguém para fazê-lo ou
transportar a criança nos afazeres do contraturno.</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então, como pensar que quem fica com a/o filha/o no final de
semana tem o mesmo trabalho e gasto financeiro com a criança do que quem fica
durante os dias "úteis"?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Além disso, é nos dias de maior atividade que a imposição de
regras é mais importante e mais usada. Se a criança teima em fazer algo e por
isso atrasa a chegada na escola, a professora vai chamar a atenção do
responsável por ela, não a atenção dela. A profissional não sabe o que
aconteceu nem terá tempo de perguntar. Enquanto isso, quem fica com a criança
no final de semana nem sonha com o que aconteceu. Pequenos dissabores
enfrentados todos os dias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu desconheço a jurisprudência deste tema. Nem sei se posso
usar este termo. Digo, entretanto, que é importante que os pequenos fiquem preferencialmente
com sua mãe até os sete anos. Até esta idade há uma ligação muito forte entre a/o
estreante e a adulta que lhe gestou. Mas o período de permanência com a mãe não
precisa ser exclusivo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois deste tempo, é importante que os meninos fiquem mais com
os pais. Os homens devem assumir os garotos e transmitir-lhes o que é próprio
do mundo masculino. Nós mulheres não podemos ensinar aos homens o que é ser
homem. É-nos impossível! Prejudicamos os homens quando tentamos fazer isso. É
preciso que esta informação seja massificada. E ela nos chega através dos
resultados de constelações familiares. A teoria advinda da terapia das constelações
nos apresenta esta verdade abertamente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não há duvida de que as mulheres apresentam-se hoje mais
seguras que os homens. Quanto a segurança emocional não posso dizer sobre
nenhum gênero, posto que estamos absolutamente confusos. Porém, a proximidade
das mulheres com suas mães proporciona ampla apropriação de bens culturais
próprios do feminino. Os cuidados com a beleza, com a casa, com as crias, com a
própria saúde estão garantidos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estamos vivendo um momento de reconstrução de relações entre
os gêneros. Faz parte disso a aceitação de gêneros não hegemônicos. Em relação
a isto, temos também que contemplar as crianças que são criadas por casais
homossexuais. Há que se ter garantida a convivência da/o menina/o com um adulto
do mesmo sexo independente de ser do gênero hegemônico ou não. Existem coisas
que só recentemente estão sendo pensados pela ciência que devem ser passados
pelos homens aos homens e pelas mulheres às mulheres.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estar efetivamente com o/a filho/a é essencial para o melhor
desenvolvimento psicológico das crianças. Esse <i>estar com</i> não é compartilhar um ambiente ou a mesma casa. <i>Estar com</i> é compartilhar uma atividade
realizada com consciência. Pode ser uma tarefa que o adulto necessite
desempenhar, como cozinhar, lavar o cachorro ou o carro, tirar a poeira da
casa, plantar, varrer o quintal, fazer compras. Pode ser uma atividade que a
criança precise fazer, como o dever de casa, banhar-se, brincar com carrinhos,
bonecas, jogar video-game ou um jogo de tabuleiro (tenho preferência particular
por este último). Não importa exatamente <i>o
que</i>, mas <i>como</i> estão fazendo a
atividade. Juntos, a ação deve ser conjunta e corriqueira. Mães/pais devem
estar junto ao/às filha/os de modo cotidiano, ensinando-o/as a como agir
sobre/no mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Possibilitando isso, a proposta de guarda compartilhada se
encaixa muito bem para casais separados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Em tempo, devo acrescentar que não cabe pensão alimentícia
nos casos de guarda compartilhada porque cada um terá gastos semelhantes com a
criança. Se houver diferença no tempo de guarda, então cabe a quem ficar menos
tempo com a/o filha/o pagar a pensão. E se ocorre doença, os pais deverão
conversar para dividir as despesas como civilizadas pessoas que são.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que se diz aqui é algo bem moderno. Eu não quero dizer com
isso que estou na vanguarda. Escrevo sobre o que vejo acontecer. São as pessoas
que reinventam os padrões sociais. As gerações que criam seus pequenos estão
inovando bastante. Devem ser admiradas por isso. Nossos pais não estiveram
conosco, mas nós nos esforçamos para estarmos efetivamente com nossas crianças.
A voz dada às crianças é um fenômeno recente. E é lindo ver e ouvir as opiniões
criativas dos estreantes. Suas perguntas fazem-nos repensar o que estamos
fazendo, como pensamos e julgamos as outras pessoas. Eu não me lembro de ter
sido ouvida enquanto menina. Porém, alguma coisa nossos pais nos possibilitaram
para que não nos assustássemos com a fala de nosso/a filho/a. Somos grato/as a
ele/as por isso, então.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Retomo o meu assombro, exposto inicialmente, com o pedido de mais explicações sobre o tema da paternidade. Trata-se justamente da necessidade em se abordar o tema. Com a mudança de comportamento tão acentuada, precisamos que profissionais da área de educação e de psicologia escrevam sobre isto. Mais uma vez a Psicologia Escolar é chamada para explicitar questões referentes ao desenvolvimento humano. O/as pais e mães estão sedentos por saber qual é a melhor forma de agir com sua/seus filha/os. Em relação a isso, não vejo diferenças entre as classes sociais que atendo. Vejo, sim, a grande oportunidade que a Psicologia tem em servir a população da qual culturalmente faz parte.</div>
Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-74574928769799332832014-03-26T21:02:00.002-03:002014-08-11T19:55:29.475-03:00Livros lidos em 2014<div class="item" style="margin: 0.25em 0px 0px; padding: 0px;">
Não posso precisar agora qual foi a ordem em que li os livros. Talvez até faltem alguns, mas o objetivo é sempre mostrar de onde eu retiro algumas ideias que aparecem nas postagens.<br />
<br />
AvóDezanove e o Segredo do Soviético - Ondjáki<br />
Sim, eu li este livro de novo. Ele é uma verdadeira poesia. A resenha é a mesma exposta em 2012, mas fiquei mais emocionada desta vez.<br />
<br />
Banquete - Platão<br />
São Paulo: Marin Claret, 2002.<br />
Platão transcreve a defesa que cada filósofo que esteve presente ao banquete apresenta sobre o amor.<br />
<br />
João de Ferro: um livro sobre Homens - Robert Bly<br />
Rio de Janeiro: Campus, 1991.<br />
Através da análise do conto João de Ferro, Robert Bly explora com profundidade o mundo masculino. Cada uma das fases da passagem da infância a maturidade do homem é analisada e as falhas possíveis são apontadas e suas consequências indicadas.<br />
<br />
Vozes Anoitecidas - Mia Couto<br />
Curiosa para aprender mais sobre autores de países africanos de língua portuguesa, recebi a indicação de Mia Couto. Que grata surpresa! Mia é o mais famoso deles e eu descobri porquê.<br />
Este livro é uma prosa poética. São contos que falam da morte, do amor torto, da incompreensão, da pobreza, da fome. Mia fala de um ser humano que não conhecemos, com profundidade e com leveza, graça, poesia.<br />
Mia Couto precisa ser lido.<br />
Recebi uma palestra dele e compartilho aqui.<br />
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=ahb9bEoNZaU" rel="nofollow nofollow" style="background-color: white; color: #3b5998; cursor: pointer; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-decoration: none;" target="_blank">http://www.youtube.com/watch?v=ahb9bEoNZaU</a><br />
Não há o que comentar. Aproveitem!<br />
<br />
Os transparentes - Ondjaki<br />
São Paulo: Companhia das Letras, 2013.<br />
Apaixonada por Ondjáki, adquiri esta obra. Este jovem autor angolano apresenta a vida de um grupo de moradores de um edifício abandonado no centro de Luanda. As agruras para sobreviverem, detalhes da vida angolana, o impacto da guerra prolongada são alguns dos ingredientes que compõem este lindo romance. Há um toque de fantasia também.<br />
<br />
Cavalgando o leão: à procura do cristianismo místico - Kyriacos C. Markides<br />
São Paulo: Pensamento, 2005.<br />
Este livro é o mais próximo que já li de misticismo e ciência. Markides é sociólogo e estuda o misticismo.<br />
<br />
No centro sentimos leveza: conferências e histórias - Bert Hellinger<br />
São Paulo: Cultrix, 2006.<br />
Bert Hellinger é o sistematizador da constelação familiar, técnica ancestral mantida pelo povo Zulu. O então padre, Hellinger, esteve por anos em missão catequizadora dos Zulus em África do Sul. Finalizou sua visita catequizado e nos brindou com este método terapêutico surpreendente.<br />
Nesta obra, Hellinger apresenta alguns conceitos básicos da constelação familiar em conferência e os ilustra com poesias e exemplos clínicos.<br />
<br />
As ordens da ajuda - Bert Hellinger<br />
Nesta obra, Hellinger dispõem sobre as formas que terapeutas podem efetivamente ajudar seus clientes. Ele teoriza enquanto realiza as constelações. Assustador e intrigante, Hellinger mostra que a confusão de papéis de terapeuta e pais prejudica de forma contundente o cliente, impedindo a ajuda. Esta obra muda a forma de atendermos os nossos clientes. Obriga-nos a deixá-los independentes de nós. Isto é realmente novo.<br />
<br />
Polar - Renato Fino<br />
Brasília: Siglaviva, 2014<br />
Há um carinho especial com esta leitura porque Fino é um amigo querido. Foi ao lançamento do livro e o li três dias depois.<br />
O livro trata do abandono. Fui tomada de assalto porque, como todo ser humano, também fui abandonada. Entre abandonos e abandonamentos, Fino discorre sobre a inevitabilidade de repetirmos o que foi feito a nós. Sem parágrafos, Fino nos obriga a ler seu livro de uma só vez. Nos entristece com sua profunda tristeza, mas esta é a função do artista, nos levar com o seu sentimento.<br />
Polar é um livro gelado.<br />
No final do dia em que li o livro, encontrei-me com Fino e ele me perguntou se eu gostei. Eu lhe disse que o livro não é para ser apreciado. É para ser sofrido. Sim, eu sofri Polar.Escrevi um texto sobre ele no dia seguinte. Está aqui mesmo neste blog, chama-se Paternidade http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2014/03/paternidade.html<br />
<br />
O caminho do touro - Léo Buscaglia<br />
Este lindo e leve livro de Léo mostra-nos o que temos a ganhar em viagens quando nos deixamos envolver pelas pessoas. Durante várias viagens ao oriente, Léo Buscaglia aprendeu coisas suaves, doces e profundas através de diferenças culturais radicais. Lindo como tudo o que ele escreve.<br />
Não tenho as referências editoriais porque presenteei um amigo e esqueci-me de anotar. Sinto muito.<br />
<br />
Pai ausente, filho carente: o que aconteceu com os homens - Guy Corneau<br />
São Paulo: Brasiliense, 1989-1993.<br />
Esta obra complementa o João de Ferro anteriormente citado aqui. Aprofunda a análise e estende a discussão. Não sei resumí-lo e terei que relê-lo para melhor aproveitá-lo. Tem livro que suga a gente.<br />
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Os sofrimentos de Werther - Goethe<br />
Técnoprint e Ediouro, 1774-19??<br />
Esta obra prima inaugura minha admiração por Goethe. O livro é estudado no mundo inteiro. É um ícone do romantismo. Todas as características desta escola literária estão muito bem apresentadas em Werther: idealização do ser amado, elevação da natureza, desprezo pelos ideais sociais, elogio à vida simples, campesina, amor impossível, dor e sofrimento intangíveis, suicídio como solução aos males do amor.<br />
Com seu estilo epistolar, Werther é exposto visceralmente ao leitor. A suavidade das primeiras cartas vão intensificando-se emocionalmente até o desfecho. A obra é de todo emotiva.<br />
Há que ser lido em sua tradução por Ari de Mesquita que se esmerou em nos trazer a concepção mais próxima possível que Goethe a escreveu, segundo o próprio Ari. A escrita rebuscada usando termos arcaicos amplia o vocabulário extensivamente.<br />
Essencial para quem gosta de clássicos mundiais.<br />
<br />
Você é um de nós - Marianne Franke-Gricksch<br />
Patos de Minas: Atman, 2002-2009<br />
Tradução do alemão de Décio Fábio de Oliveira Júnior e Tsuyuko Jinno-Spelter.<br />
Marianne é professora e terapeuta em Constelação Familiar. Neste livro, apresenta sua experiência usando esta técnica com sua turma na escola. Ela explica como começou a usar os "jogos familiares" com seus alunos, como os efeitos eram percebidos pelos pais, como os adolescentes esperavam para trabalhar seus problemas uma vez por semana.<br />
O que vemos na escola é bem explicado por Marianne: ela mostra que em cada sala de aula tem bem mais gente atuando do que os olhos podem ver. Uma experiência simples pode ser transcrita para cá. Durante as provas, ela sugeria aos alunos que imaginassem os pais atrás de si, o pai à direita e a mãe à esquerda. Como os resultados foram muito melhores do que o habitual e as crianças se sentiam mais seguras, passaram a buscar mais informações e demonstrar mais interesse pelos exercícios de constelação.<br />
<br />
A identidade - Milan Kundera<br />
São Paulo: Companhia das Letras, 1997-1998<br />
Tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca.<br />
Trata-se da história de um casal e de como a relação dos dois os torna mais eles mesmos. Um aprofundamentos nas questões pessoais através do relacionamento amoroso.<br />
Uma passagem é especialmente interessante para mim. Milan, através de sua personagem Chantal, mostra-nos a mudança do papel masculino nos nossos tempos.<br />
<br />
O muro - Jean-Paul Sartre<br />
São Paulo: Círculo do Livro, 1939-1990<br />
Tradução: H. Alcântara Silveira.<br />
Quatro contos e uma mininovela compõem este livro: O Muro, O Quarto, Erostrato, Intimidade, A Infância de um Chefe.<br />
Os textos mostram a genialidade de Sartre. Ele nos arrasta para os sentimentos dos seus personagens insólitos. Sempre surpreendente em suas formas de ver a própria vida e encará-la de frente com suas desgraças e encantos, os personagens de Sartre nos convidam a observar experiências inusitadas.<br />
Excelente experiência.<br />
<br />
A filha do capitão - Alexandre S. Pushkin<br />
Editora Tecnoprint<br />
Tradução direta do russo: Boris Solomonov.<br />
Pushkin descreve a revolta popular liderada brilhantemente pelo cossaco Pugatchov em 1773. Trata-se de uma novela que romanceia um fato histórico. O autor mostra seu fascínio pelo líder revoltoso, sem deixar de defender a monarquia russa.<br />
Mais um esplêndido autor russo. E, pelo que nos conta Otto Maria Carpeaux na introdução, Pushkin é considerado o Goethe russo.<br />
<br />
Histórias íntimas: sexualidade e erotismo na história do Brasil - Mary Del Priori<br />
São Paulo: Editora Planeta do Brasil<br />
Mary Del Priori é uma das maiores historiadoras do nosso país. Além de ser super competente em sua área de atuação, ela escreve tão bem que não dá pra largar o livro. Del Priori conta a evolução das relações íntimas desde os tempos da colônia até os dias atuais. Com base em processos jurídicos, periódicos, livros médicos e jurídicos ela vai tecendo e revelando que não chegamos a este ponto de "liberdade" sexual facilmente, muito menos de uma hora para outra. É possível vislumbrar o sofrimento feminino e sua luta; a pressão masculina e seu estado atual de torpor e desnorteamento. A história da sexualidade abarca os dois gêneros e, obviamente, os gêneros que estão sendo colocados à luz agora.<br />
Obra indispensável para os estudiosos de gênero e para os que querem entender o que se passa entre o masculino e o feminino hoje.</div>
Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-44431489211852161092014-03-23T21:08:00.002-03:002014-03-23T21:22:04.834-03:00Paternidade<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">A paternidade se relaciona intimamente com a
maternidade. Uma não acontece sem a outra. E falar sobre um ou outro toca a
psicologia do gênero porque só é pai quem é homem e só é mãe quem é mulher,
independentemente da orientação sexual. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Não existe quem não tenha pai. Ninguém aqui é
abelha. Mesmo que haja alguns homens que temam pela revolução feminista chegar
a total exclusão masculina da face da Terra, não creio que isto um dia vá
acontecer. Na verdade, também tenho medo do ser que pode nascer de dois óvulos.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Já afirmei que minhas orientações para as mãe dão
efeito positivo e, em casos de grande turbulência e desespero, levam a mudanças
significativas de comportamento. No texto Paternagem dou um exemplo de
intervenção sobre um pai bastante alterado que também mostrou melhoras na ação
de sua pequena filha.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Estou pesquisando sobre as características que
definem a paternidade saudável. Acabo de ter uma ideia de como encontrá-la:
entrevistando pais considerados bem sucedidos. Enquanto isso, o que tenho a oferecer
aos pais que me procuram é o mesmo que indico às mães: presença real e física.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Lendo Robert Bly, me instruí sobre a importância do
pai mostrar ao filho seu ofício. Estar próximo a ele fisicamente, dividir as
atividades cotidianas (lavar carro, consertar uma cadeira, lavar louças, trocar
uma lâmpada, apertar um parafuso, fazer o almoço, jogar videogame ou um jogo de
tabuleiro), acariciá-lo são atividade que também transmitem a masculinidade
adulta ao infante. No caso de um escritor, escrever com seu filho em seu colo.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Um exemplo dilacerante do efeito da ausência
paterna está no livro que acabo de ler. A solidão e a dificuldade em poder
traçar outro destino para a própria vida são transcritas de forma viceral:<o:p></o:p></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"Essa era a dor do meu pai, tão parecida com a
minha própria dor por não saber também o seu paradeiro." (15)</span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"Ter crescido sem ele foi o mesmo que ter
sentido sede e fome que bebida e comida nenhuma podem saciar. E morrerei com
essa sede e essa fome de conhecer o meu pai. Talvez eu já seja avô sem saber e
talvez alguma criatura ande triste demais pelo mundo assim como eu, por não
conhecer o pai ou o avô desaparecido que sou." (85)</span></blockquote>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Como eu já disse antes, a presença física do pai e
o compartilhar de ações transmite à criança a segurança necessária para sua
constituição psicológica saudável. Vários são os efeitos da distância entre
estes entes e percebo, pelas leituras, que provavelmente os sintomas de TDAH
estejam dentro desta "síndrome".<o:p></o:p></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"Antecipava na mente o seu primeiro choro, o
seu primeiro riso, a sua primeira sílaba pronunciada, o seu primeiro passo sem
estar seguro em minhas mãos e sem estar seguro em nada mais, pisando sozinho
sem meu apoio, como eu estive a vida inteira, sem segurar as mãos do meu
pai." (12)</span></blockquote>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Mas a paternidade não pode ser pensada muito
distante da maternidade. E é claro que a opressão feminina que durou tantos
séculos tem sua marca sobre a relação de mãe e filho/as.<o:p></o:p></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"Do mergulho dado em seus olhos saí como um
escafandrista exausto. Foi difícil recolher de sua alma a pérola que me propus
arrancar de sua ostra. Mas após tantas redes lançadas eis que consegui arrastar
algum tesouro precioso de dentro daquela mulher naufragada. Entendi que estava
só, não por ter abandonado um homem ou por ter sido abandonada. Estava só porque
sempre esteve só e nunca havia amado ou sido amada. Sua opção de vida a fazia
indiferente aos homens. No entanto, notei que era inconsciente a sua opção e
que ela nunca havia pensado sobre o assunto de ter ou não ter um macho ao seu
lado, a quem ela pudesse servir ou ser servida, como uma diva, uma dama, uma
rainha. Do mergulho em suas águas eu trazia ainda outra informação, a
secretária estava só porque nunca havia se permitido ao amor, por um lado seria
por conta das lições de sua mãe, que, cedo, viu o seu urso partir para nunca
mais voltar e, por outro lado, porque, se fosse possível explicar de alguma
maneira científica, talvez a secretária carregasse uma carga genética de
aversão aos homens, angariada por suas fêmeas ancestrais ao longo dos milênios de
maus tratos que a história da humanidade bem conhece."(20-1)</span></blockquote>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">A distância entre homens e mulheres traz impactos
severos sobre as gerações pós-revolução feminista e sexual. Temos agora o árduo
trabalho de refazer as nossas relações, não retornando ao que sabemos ter dado
errado. Reinventar a forma de ser mulher e de ser homem trará consigo novas
formas de maternidade e paternidade. Ainda enfrentamos a ilusão de que nós,
mulheres, podemos tudo e conseguimos resolver tudo sozinhas.<o:p></o:p></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"... resolveu tocar o barco da família
sozinha. Não que ela estivesse certa de que este era o melhor caminho, mas a
pressão do mundo sobre as mulheres sempre foi terrível e, então, todas as
fêmeas deram para acreditar que não necessitavam mais de homem algum ao lado
delas para poder viver. É um pensamento coletivo contagiante sobre o novo mundo
feminino, uma imposição machista nascida na alma da própria mulher."
(96)</span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"Por pouco a doutora não perguntou quem era eu
e não lamentou o fato de minha mulher estar grávida de um homem. Captei no seu
ar a voz silenciosa que dizia à Magna que um dia as coisas seriam diferentes e
que as mulheres não mais precisariam fazer a ecografia em tão más
companhias." (25)</span></blockquote>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">E pode alguma mulher que me lê, ou seus filhos,
dizer que, sim, deu conta de levar sua família com saúde e prosperidade a
momentos mais felizes, mais seguros sem a figura masculina avassaladora que os
acompanhou no passado. Mas a custa de quê esta mulher segue sozinha? Participo
de um grupo psicoterápico cujas mulheres entre 35 e 45 anos se reorganizam por
terem sido criadas por mulheres que não tiveram tempo ou estrutura para
nutrí-las emocionalmente. Estavam ocupadas demais em sustentar a família.
Estavam sobrecarregadas, exaustas por fazerem os papéis masculino e feminino e
não lhes sobravam energia para a maternagem.<o:p></o:p></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"Ainda hoje, quando observo os ursos e vejo
uma fêmea passar acompanhada da sua cria e sem um macho ao seu lado, penso na
infelicidade que deve ser a sua vida, penso em como se arrependem as ursas que
deixam seus amores para trás em busca de autonomia e liberdade." (95)</span></blockquote>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Cabe às gerações atuais construir novas formas de
relações que incluam ao invés de excluir. O crescimento é restrito no
isolamento. Nossas crianças nos apontam seu sofrimento interno por não terem
informações relacionais, movimentos que só podem ser apreendidos quando
assistidos de perto e cotidianamente. As famílias monoparentais são
consideradas mais seguras, mas não são tão ricas estruturalmente para nenhum
dos participantes delas quanto uma família na qual os pais se relacionam
intimamente.<o:p></o:p></span></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">"É tolice acreditar que a felicidade esteja na
autonomia e que a autonomia venha da liberdade. A felicidade mora entre duas
pessoas, jamais na solidão. A liberdade de um ser só existe se amarrada a outro
ser."(95)</span></blockquote>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Não quero aqui restringir as famílias à Do Ré Mi já
tratada anteriormente neste blog (Famílias Desestruturadas http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2009/08/familias-desestruturadas.html e Outros Tipos de Famílias http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com.br/2009/08/outros-tipos-de-familia.html<span style="text-indent: 0cm;">). Mas a evitação do relacionamento por parte
do pai ou da mãe provoca um enfraquecimento da experiência humana que pode ser
crucial para o desenvolvimento do/as filho/as.</span></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Mais uma vez a arte avança sobre a ciência e traz
em seu bojo as questões que queremos tratar, mas temos dificuldades em
encontrar as palavras corretas. Talvez por medo de sermos chocantes ou de não
sermos bem compreendidos, não digamos logo a que viemos. A literatura, o
desenho, o cinema são formas de perceber a realidade como um espelho. Sem tanta
luz, sobe o enfoque do artista, é possível transcorrer sobre assuntos de
difícil acesso.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<div align="left" class="MsoNormal" style="text-indent: 0cm;">
<span style="font-family: inherit;">Agradeço ao poeta prosador Renato Fino por seu
romance Polar (editora Siglaviva) de onde saíram os trechos que iluminam, ou
obscurecem, este meu texto.</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></div>
Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-38934048643235647592014-03-21T19:15:00.000-03:002014-03-21T19:15:27.214-03:00Cuidadores e auto-cuidadoAprendemos, durante o curso de Psicologia, que os profissionais clínicos precisam de supervisão para auxiliar nos casos em que se encontra mais dificuldade. Há situações em clínica que a evolução do/a cliente emperra por causa de demandas nossas. Não podemos fazê-lo/a avançar porque temos questões impeditivas para ele/a e para nós. Assim, a supervisão é um dos instrumentos da psicologia para aumento da segurança do trabalho.<br />
<br />
Este instrumento é constituído por um profissional da psicologia mais apto do que nós na mesma área em que atuamos. Por isto este nome: super-visão. Alguém com maior experiência e, provavelmente, maior competência, poderá alertar para erros de condução, conduta e questões pessoais.<br />
<br />
Lembrando que sou psicóloga escolar pública, tenho muitos colegas que atuam na mesma área e com as mesmas atribuições que eu na mesma instituição. Nos encontramos todas as semanas para informações da nossa central, haja vista a quantidade de núcleos a que pertencemos. Quem é servidor público sabe que quem está na área fim responde a uma infinidade de chefias. Quando temos questões complicadas no trabalho, pedimos a um/a do/as colegas para nos ouvir rapidamente durante o momento do café nas reuniões semanais. Isso nos alivia e oferece novos horizontes. Percebemos que não estamos <b>tão</b> sozinha/os como imaginávamos. Muitas vezes, aquele/a colega que nos ouve tem o mesmo problema ou sua questão é bem mais grave e assustadora que a nossa. No fim a ajuda acaba sendo mútua.<br />
<br />
Como esse tempo é curto, embora semanal, as minhas questões começaram a extrapolar o campo laboral e invadir a área social. Minhas/meus amiga/os mais próxima/os passaram a ouvir minhas angústias. Ela/es me ouviam muito bem, mas eu não podia entrar em detalhes. Algumas vezes perguntaram coisas que me faziam entender o meu erro. Isso também atrapalhava a minha relação com ela/es. Enfim, percebi que minha atitude era absolutamente inadequada.<br />
<br />
Busquei, então, um atendimento psicológico individual diverso ao espaço de supervisão. Frequento uma psicoterapia cujo único tema é o meu trabalho desde dezembro de 2013. Fui frequente inclusive nas férias, durante as quais municiei minha psicoterapeuta com informações estruturais da minha função e instituição de modo que, quando as encrencas começassem, ela já estaria preparada e entenderia os personagens e as ações enredadas.<br />
<br />
É-me impossível exprimir o alívio que eu sinto com este instrumento funcionando!<br />
<br />
Sinto-me mais leve, trabalho melhor, com mais rapidez. Ajo com mais diligência, prudência, integridade. Minha memória melhorou. Agora sou eu quem lembra as colegas pedagogas dos casos em atendimento. E ainda estimulo-as a aumentarem sua produtividade!<br />
<br />
Tenho uma hora por semana para ser ouvida e cuidada por uma profissional competente, habilitada na função da escuta. A fala desta semana durou 45 minutos. Quando terminei, perguntei: quanto tempo temos? Ainda faltam quinze minutos, ela respondeu. Ah, ainda falei uns vinte! Que delícia!<br />
<br />
Correta estava Anna O.: esvaziar a chaminé é realmente fantástico.<br />
<br />
Há uma experiência que não posso deixar de compartilhar. Eu trabalho em quatro escolas. Uma delas é pouco iluminada e ventilada, seu pátio amplo é pouco ornado, as pessoas são pouco afáveis, parecem distantes. Esta é a minha percepção e isto fez com que meu trabalho surtisse pouco efeito. Como não me sinto bem lá, meu desempenho caiu sensivelmente e meus horários de frequência na escola passaram a ser torturantes. Enfim, quando minha visita ocorria no período vespertino, eu tinha indisposições físicas.<br />
Quando voltei das férias, uma das minhas sessões foi de lamúrias sobre a escola. Minha psicóloga identificou o problema e aplicou uma técnica de fantasia, segundo ela. Pois a tal técnica funcionou perfeita e imediatamente.<br />
<br />
Hoje, atuo nesta escola de forma mais fluida e ágil. Converso com os colegas, mesmo quando estão emburrrados e principalmente se assim estão. Atendo-os. Esforço-me para alegrar a escola e logo, logo darei sugestões para transformar o ambiente, deixando-o mais vivo. Entendo que, muito provavelmente, não sou somente eu que me sinto desta forma, mas cabe mim modificá-lo.<br />
<br />
Definitivamente, minha atuação profissional mudou completamente depois da introdução de auto-cuidado. E para muito, muito melhor!<br />
<br />
Nada de desídia!Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-77553363759521596572014-03-17T22:08:00.000-03:002014-03-23T21:21:20.441-03:00PaternagemHá tanto tempo não escrevo no meu blog que não tenho desculpa para dar. Neste último ano e meio investi muito em mim mesma e de fato não sobrou desejo para mais nada. De qualquer forma, peço desculpas pela tão prolongada ausência.<br />
<br />
Tenho um grupo de amigos que discutem muito sobre o ser feminino e o ser masculino. Não é a toa que estou envolvida com estas pessoas. Eu estudo Psicologia do Gênero desde a minha graduação. Fiz esta disciplina com Maria Helena Fávero em 1996 ou 97. Faz um tempão. Depois, cursei a disciplina de mesmo nome na pós-graduação, mas com outras docentes e com menos brilho. Quem foi aluna/o de Fávero sabe do que estou falando.<br />
<br />
Hoje, na escola, tenho me questionado sobre a orientação de pais-homens. Como indicar-lhes um caminho? De que ponto partir? Como tratar os filhos, os meninos-homens, as meninas-mulheres? Deve haver diferença? Se sim, que diferença? Como o homem pode oferecer colo para os filhos? Deve oferecê-lo para meninos e meninas igualmente? E eu, enquanto mulher, posso fazer essas orientações? Deveria eu consultar um outro psicólogo-homem para me ajudar a respondê-las?<br />
<br />
Vamos começar a falar do meu próprio ponto: do ponto da mulher falando para outra mulher em um mundo feminino. A escola é um terreno feminino. Podem discordar se quiserem. Eu firmo minha opinião aqui. Os espaços do cuidado e da educação são femininos. A maioria da categoria profissional de educador é mulher. Não há como deixar de ser quem se é para se atuar profissionalmente. Isso tem um impacto sobre a formação das crianças. Qual será o impacto desse espaço dominado pelo feminino nas crianças do sexo masculino?<br />
<br />
Eu oriento mães. A maioria dos responsáveis que vem falar conosco quando chamados pela escola é mulher -- a mãe, a madrasta, a avó, a tia mesmo que paterna, a irmã. Falando de mulher para mulher, indicamos as incertezas, as falhas, as possibilidades. Ficamos lado a lado com a outra, nos colocamos em seu lugar de trabalhadora com filhos para sustentar, criar, educar, alimentar, afetar, adular, ninar e mimar.<br />
<br />
Hoje atendemos, eu e minha colega pedagoga, uma mãe zelosa, mas que não sabe como educar sua filha. Minha primeira intervenção foi a dela oferecer seu colo, abraçar a filha sempre, acariciá-la. Já falei sobre o impacto do contato físico em nós, animais aqui. Bem, ela tomou um grande susto.<br />
Imagine se fosse o pai da criança?<br />
<br />
Será que se eu der a mesma orientação para um pai de aluna, o efeito será parecido? Dessa pergunta eu tenho resposta: não. NÃO! Atendi há alguns meses um pai de aluna com comportamento altamente sexualizado. Suas brincadeiras ocorriam com meninos da mesma idade, mas eram muito frequentes e avançadas, assustando as educadoras da escola e o pai. Ao abordar o assunto do colo, o pai ficou absolutamente transtornado. Foi necessário realizar uma intervenção e o senhor reagiu com uma forte catarse. Ora, me desculpem, uma catarse é sempre forte, mas não posso deixar de dar ênfase ao fato. Ele simplesmente disse-nos que não o faria porque tem pânico em imaginar que pode abusar sexualmente da filha.<br />
<br />
Então, vejamos: um pai entra em pânico quando a psicóloga da escola da filha indica que ele deve afagar a sua filha, mostrando seus sentimentos em relação a ela de forma física. Uau! Não é novidade para ninguém que nossa sexualidade está distorcida. Não entrarei nessa seara por enquanto. Mas se eu não posso pedir ao pai que o faça, a responsabilidade ficará toda sobre a mãe? Acrescento, então, que a mãe da menina em questão é falecida. E agora? Solicitamos a madrasta? A nova esposa foi abusada enquanto criança ou adolescente e tem dificuldades com toque físico. E agora?<br />
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Como sempre eu mostro aos meus leitores que ser psicóloga escolar não tem nada a ver com jardim ou paraíso. Nossas questões são as mais pesadas, assim como de toda a nossa categoria. O que eu defendo neste blog desde a minha primeira postagem é a assunção do nosso papel profissional. Vou expor qual foi a minha orientação para o pai no caso acima descrito.<br />
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Após realizar o atendimento emergencial do pai, eu o orientei para mudar radicalmente sua postura em relação a filha e oferecer, sim, seu colo à pequena. Infelizmente, só é possível confiar nos pais para realizar as massagens necessárias ao bom desenvolvimento psicológico durante a infância. Corremos um risco, mas o menor. Ensinei-lhe a se vigiar, já que se sente tão amedrontado com a possibilidade de abuso. Também indiquei uma psicoterapia para ele. A menina reduziu as brincadeiras sexuais a ponto das queixas escolares se anularem. Ela mostra-se menos triste (havia também o luto da mãe).<br />
E se esta nossa pequena cliente fosse um menino? Como teria sido a reação do pai?<br />
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Vejo uma crescente participação dos pais-homens na educação formal de nossas crianças. Isso é absolutamente louvável e deve ser respeitado para que o movimento prossiga. Digo isso porque é comum que nós mulheres digamos: "E já não era sem tempo!" Sim, estamos sobrecarregadas, mas o homem também tem problemas que sequer sonhamos. E eles têm um ponto negativo contra: não têm com quem falar de sentimentos e emoções. Não lhes foi permitido sentir ou falar sobre o que vai com eles.<br />
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Será que é coincidência que os meninos são encaminhados em maior número para o neurologista, psiquiatra, escolinhas de esporte? A delinquência juvenil, o abuso de drogas, a agressividade física descontrolada, a morte precoce, o suicídio são mais comuns em homens. Estudiosos apontam para a necessidade da criação de secretarias de estado especializadas na atenção à saúde do homem. De fato, o Ministério da Saúde já instituiu alguns programas nesse sentido.<br />
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O livro Pai Ausente, Filho Carente de Guy Corneau, indica, em sua página 30,<br />
<blockquote class="tr_bq">
"Os filhos que não receberam uma 'paternagem' adequada enfrentam com frequência os seguintes problemas: na adolescência tornam-se confusos quanto a sua identidade sexual e muitas vezes apresentam uma feminização do comportamento; <span style="color: blue;">falta-lhes amor próprio; reprimem sua agressividade e, com ela, sua necessidade de afirmação, sua ambição e sua curiosidade exploratória. Podem também ter</span> <span style="color: blue;">problemas de aprendizagem. Demonstram muitas vezes dificuldade em assumir valores morais e responsabilidades e em desenvolver o senso do dever e de obrigação em relação ao outro. A ausência de limites se manifestará tanto na dificuldade de exercer a autoridade, quando na de respeitá-la; finalmente, a falta de estrutura interna ocasionará certa fraqueza de temperamento, ausência de rigor e, em geral, complicações na organização da própria vida. </span>Além do mais, as pesquisas indicam que têm maior propensão ao homossexualismo do que os filhos cujos pais estiverem presentes. Têm também maior suscetibilidade a problemas psicológicos: a pior hipótese será a delinquência, a droga e o alcoolismo, tudo isso envolvido por uma revolta infinda contra a sociedade patriarcal, revolta que devolverá ao pai faltoso a imagem de sua ausência."</blockquote>
Este livro foi publicado em 1989, traduzido e editado no Brasil em 1991. Tem tempo!<br />
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Ressaltei, em azul claro, os sintomas que considero parecidos com o conjunto a que damos o nome de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Quando foi que Leon Eisenberg juntou os sintomas para denominar de TDAH?<br />
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Mais adiante em seu livro, Corneou afirma:<br />
<blockquote class="tr_bq">
"É absolutamente necessário que os homens comecem a afagar seus filhos, em particular os meninos; assim abrirão para eles a porta da sensibilidade e, ao fazê-lo, descobrirão também sua própria sensibilidade. Isso significa que a sensualidade [não confundir com sexualidade] não será mais proibida aos homens e que as mulheres não mais serão ali isoladas; os homens também têm um corpo, e as pessoas têm necessidade de ser tocadas para manter seu equilíbrio e saber que existem." (pág. 38)</blockquote>
Agradeço à Elizabeth Carneiro por me oferecer este livro. Salvou-me. Sim, porque ser pioneiro é muito difícil, imagina ser pioneira?<br />
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Escrevi tudo isto para contextualizar as questões que atualmente me afligem. Como será que eu, enquanto mulher, posso auxiliar os homens-pais a fazer a sua paternagem?<br />
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Faço aqui um apelo às minhas colegas psicólogas escolares: os homens precisam de ajuda. Eles não sabem ser pais. Muitos acham que buscar na escola, oferecer o sustento, dar presentes e estar em casa é ser um excelente pai. Nós precisamos descobrir o que é ser um bom pai, que atitudes e comportamentos constituem este ser de forma a suprir as necessidades dos filhos, meninos-homens e meninas-mulheres, em relação ao seu desenvolvimento global. Precisamos descobrir para depois ensinar a eles!Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-35706458000642943452012-06-08T11:47:00.001-03:002012-06-10T15:08:26.993-03:00Doenças Escolares<br />
Vemos uma profusão de novas “doenças” afetando nossos alunos. As dificuldades de aprendizagem agora têm subtipos em interseção com diversas deficiências. Assim, temos a deficiência no processamento auditivo, no processamento visual, deficiência de atenção com ou sem hiperatividade. Essa última também pode vir isolada. Dislexia, dislalia, disgrafia, discalculia...<br />
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Lembro que essas “doenças” são culturais, ou seja, são decorrentes do nosso modo de operar na sociedade e das ferramentas que esta cultura nos disponibiliza. É por isto que são detectadas na fase escolar, quando os humanos tem o seu primeiro grande momento de socialização. Pensamos assim porque durante o convívio exclusivamente familiar é possível evitar situações impactantes para as crianças.<br />
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A escola tem por função o desenvolvimento do ser em sua potencialidade. Para tanto é necessário desenvolver ações básicas a todos os seres para atuar nesta sociedade. Além disso, na escola devemos detectar quais são as propensões de cada criança e possibilitar meios e instruções para propiciar seu crescimento.<br />
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Quais são as ações básicas necessárias para uma inclusão mínima em nossa sociedade? Como todos sabem, não sou especialista em educação, sou psicóloga escolar. A partir de minha experiência enquanto socializada e participante da comunidade escolar acredito que são atividades básicas na cidade o controle corporal, o controle emocional, o raciocínio lógico, a leitura, a escrita, a percepção ambiental, o respeito a regras simples e de convivência, o cálculo mental simples.<br />
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Essas habilidades estão previstas no currículo básico ditado pelo Ministério da Educação. Sendo assim, as escolas têm o dever de fazê-lo cumprir. Nunca li um documento afirmando isto, mas acredito que o aumento do ensino fundamental em um ano vai de encontro a esta ideia. Quero dizer que as crianças agora entram obrigatoriamente na escola aos seis anos para propiciar seu desenvolvimento pré-escolar.<br />
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Lembro aos leitores que a obrigação pela educação das crianças é da família e da escola. Este dever é constitucional e há instrumentos legais para garantir o direito das crianças à educação de qualidade. Pensando nisso e verificando o fracasso escolar, passamos a avaliar o desempenho da instituição escola.<br />
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A criança apresenta desenvolvimento motor adequado para o aprendizado da escrita aos sete anos. Os teóricos do desenvolvimento humano apontam esta idade como uma divisão muito provavelmente por isto. A partir desta idade é esperado e exigido um comportamento diferenciado das crianças. O período anterior a este é chamado pré-escolar.<br />
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Pois bem, a pré-escola existe para desenvolver habilidades anteriores a escrita e preparar o corpo para os conhecimentos que virão. A principal atividade na pré-escola é a psicomotricidade. A pedagogia propõe o ensino de conceitos básicos como baixo/alto, grande/pequeno, frente/costas, identificação de cores, de formas geométricas antes da entrada na escola. Assim sendo, entendo que estes conceitos sejam conteúdo da pré-escola.<br />
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Estes conceitos são importantes porque a nossa sociedade é organizada através deles. Os sinais de trânsito, a disposição de barracas ou gôndolas nos mercados, os banheiros, os cardápios de restaurantes, as instruções de uso de aparelhos usam estas premissas. Todos os nossos textos começam na esquerda encima e seguem para a direita abaixo.<br />
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Falar disso em um texto técnico parece tolice. Porém, esta organização é social, não inata. Estas ideias estão de tal maneira arraigadas em nós, que as tratamos aprioristicamente. Luria já derrubou esta hipótese de organização universal através de seu clássico estudo de classificação com adultos em fazendas coletivas russas. As crianças precisam ser ensinadas sobre isto. Algumas aprendem rapidamente sem intervenção direta dos adultos. Mas a garantia deste aprendizado é dever da escola, mais precisamente da pré-escola e, na ausência desta, no primeiro ano do ensino fundamental de nove anos.<br />
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Porém, isto não tem sido feito. E, pior, exige-se das crianças o que a escola deveria estar disponibilizando a elas! Ouço professoras de primeiro ano reclamarem de crianças que não sabem o nome das cores ou das formas geométricas. Sei de casos de crianças encaminhadas para o serviço especializado de psicopedagogia por apresentarem problemas de psicomotricidade aos cinco e seis anos de idade. Crianças que não sabem que organizamos textos da esquerda para a direita e de cima para baixo terão dificuldade em copiar textos da lousa. Seus cadernos serão bagunçados. Crianças que não tiveram oportunidade de correr, saltar, trepar, escorregar terão dificuldades em conter seus movimentos em espaços físicos restritos.<br />
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Aproveitamos para alertar que o momento do recreio escolar não é um descanso concedido às profissionais, mas a oportunidade da criança se soltar, possibilitando um novo período de restrição de movimentos em seguida. Este tempo na sala de aula que reduz a mobilidade natural do animal que somos é violento para a criança. Nosso corpo docente desconhece isso e reclama intensamente da movimentação de crianças pequenas quando deveriam utilizar o movimento em sua proposta de atividade pedagógica. Nossas professoras questionam como se a mobilidade fosse oposta à nossa capacidade de aprendizagem.<br />
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Discutindo o caso de um aluno de seis anos com uma professora de primeiro ano, ouvi que a criança não sabia usar o livro. Questionei se não seria cedo para usar livro, se não haveriam outras atividades anteriores a esta. A docente me respondeu que, se há livro, ele deve ser usado. Considerei a resposta extremamente superficial e cômoda, mas não segui meu questionamento por receio de melindrar minha relação com a outra profissional. Assisto crianças de quatro e cinco anos aprendendo a escrever seu próprio nome. Não vejo estas mesmas crianças terem oportunidade de manipular diferentes materiais, com texturas variadas de forma a estimular seus sentidos e possibilidade de movimentação. Assim, a educação corporal vai sendo negada aos alunos. Ao questionar tal atitude nos jardins de infância, os gestores me respondem que há exigências de instâncias superiores que envolvem a escrita já nesta idade. Então, aqui eu pergunto quais são os objetivos dos pedagogos que cobram descabidamente o desenvolvimento precoce destas crianças?<br />
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Aqui tivemos o objetivo de questionar o que a instituição escolar provoca ignorando etapas preliminares do desenvolvimento humano e avançando em direção à aquisição da escrita. Ao delegar a aquisição de conceitos básicos à natureza, a escola produz diversas doenças em seus alunos.<br />
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Nossa função enquanto psicóloga/os continua sendo provocar o desenvolvimento dos nossos clientes. Aqui incluo, com bastante veemência, nossas professoras. Devemos achar um caminho entre nossa obrigação e o melindre para efetivamente garantirmos o direito dos nossos alunos à melhor educação. Efetivamente creio que ordens superiores teriam melhor efeito do que o nosso trabalho pontual, mas o desconhecimento do objetivo pedagógico superior (como anteriormente exposto) nos impõe a manutenção do nosso atual estado. Acrescento, entretanto, que nossa situação é restritiva, porém a atuação é possível e imprescindível, principalmente pelo privilégio que temos de estar dentro das escolas.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-68981419201521353712012-05-03T19:30:00.002-03:002012-05-03T19:31:46.840-03:0018.000Marcando mais um milhar. Estou muito pouco produtiva ultimamente e até perdi a virada do penúltimo milhar, o de dezessete mil acessos. Mas creio que isto já está perto de acabar.
Mais uma vez, e como de costume, agradeço aos visitantes, leitores, amigos, pesquisadores que são a razão deste blog.
Um beijo em cada um de vocês,
Vicenza CaponeVicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-5166292582666656812012-04-14T12:41:00.002-03:002012-06-09T11:38:54.190-03:00Livros lidos em 2012A vida secreta de Marilyn Monroe - J. Randy Taraborrelli, São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.<br />
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Taraborrelli se esforça para comprovar sua tese de Marilyn era acometida de doença mental que lhe prejudicou a carreira e contribuiu para sua morte prematura. De qualquer forma, a vida deste ícone da beleza e sensualidade moderno tem todo o seu glamour estampado nas 417 páginas. Apresenta ainda sua filmografia detalhada e comentada. Esta obra permite saber mais do que se apregoa como o ideal de beleza feminino. É de se questionar como a mulher mais sensual do cinema hollywoodiano é também tão frágil, doente, delicada, suscetível, imprevisível.<br />
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Negro, Macumba e Futebol - Anatol Rosenfeld, São Paulo / Campinas: EdUSP, Editora da UniCamp e Editora Perspectiva,1993.<br />
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A análise antropológica da situação social dos negros no Brasil, da macumba e do futebol. Rosenfeld é um mestre da antropologia alemã. Este livro trás três ensaios sobre os temas de título publicados originalmente em alemão nos anos de 1954, 55 e 56. Esclarecem muito sobre nossas práticas interpessoais, preconceitos, paixões cotidianas e impensadas.<br />
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Vale expor aqui um trecho particularmente precioso para nós, trabalhadores da educação. Dados de uma pesquisa sobre a vizinhança de colegas brancos, pardos e negros às carteiras nas salas de aula são assim analisados por Virgínia Leone Bicudo, citada por Rosenfeld: "<span style="font-style: italic;">A rejeição explícita por motivo de cor estava encoberta por uma censura muito forte. As atitudes eestavam marcadas através de uma identificação dos brancos com as qualidades e das pessoas não-brancas com os defeitos.</span>" Na verdade, como análises exatas demonstraram, os alunos preferidos apresentavam em certo grau as características boas e os alunos rejeitados as más características que lhes foram atribuídas. Muitos dos negros menos queridos eram realmente 'maus', 'briguentos', 'descuidados' etc. Uma análise mais acurada da história de vida das crianças e do ambiente familiar resultou no círculo vicioso descrito acima:<br />
"<span style="font-style: italic;">Quando comparamos as condições de moradia dos alunos brancos mais rejeitados com as dos negros mais rejeitados, concluímos que nas casas dos últimos os choques causados pelo meio ambiente foram muito mais intensos, isso por causa de piores condições para o equilíbrio pessoal dos pais, resultantes de piores condições econômicas, sociais e culturais.</span>" Uma das conclusões mais importantes da autora confirma a transferência social - e não hereditária - de geração para geração de muitas características discutíveis sob a pressão de circunstâncias desfavoráveis:<br />
"<span style="font-style: italic;">Encontramos todas as crianças negras rejeitadas em circunstâncias que contituíam estímulos intensos e frequêntes para o desenvolvimento de sentimentos de ódio e medo, relacionados à personalidade neurótica dos pais ou à situação de abandono causada pela orfandade ou ilegitimidade. O estudo da infância dos pais dessas crianças nos levaria à mesma conclusão, ou seja, a de que desenvolveram uma persnonalidade neurótica como consequência de acontecimentos desfavoráveis na infância. Veríamos claramente a neurose passada dos pais para os filhos através de mecanismos sociais.</span>" Característico também é o caso de um garoto negro que nos dois primeiros anos foi um bom aluno, período em que os professores o tratavam bem. No terceiro ano, ele começou a ficar indisciplinado e suas notas pioraram muito <span style="font-style: italic;">"porque a professora não gostava dele, castigava-o e gritava o tempo todo com ele. Já que o aluno se via rejeitado pela professora, seu desempenho piorou, sua posição como aluno modificou-se, o que por sua vez fez com que os outros alunos o rejeitassem.</span>" Considerando-se o acima descrito, concluímos que o círculo começa a fazer efeito muito cedo e frequentemente determina a personalidade da pessoa de cor para o resto de sua vida, de tal forma que ele, por seu lado, transfere as consequencias das rejeições, ofensas, medos e conflitos sofridos para seus filhos através do contato familiar." (p. 35-6)<br />
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O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial - Domenico de Masi, Brasília / Rio de Janeiro: Editora UnB e José Olímpio Editora, 1999.<br />
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Sob a tese de que há menos trabalho do que mão de obra, de Masi argumenta que é necessária a redução de horas de trabalho, a distribuição de postos de trabalho, a invenção de novos postos mesmo que inúteis já que há necessidade social de estar empregado para aceitação social. De reboque, as ideias de distribuição dos lucros da produção, do poder e do saber são constantemente citadas. Infelizmente, de Masi não nos brinda com sugestões para preencher as horas de ócio consequentes de sua tese. Talvez ele desconheça os efeitos nocivos das horas livres nos bares e praças brasileiras durante as noites e finais de semana.<br />
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Preocupa-se, entretanto, em desfazer a ligação perversa entre trabalho e dignidade que nos persegue. Uma mudança de mentalidade é defendida sob o signo da elevação intelectual com que fomos brindados pelos pensadores gregos. Eles não necessitavam trabalhar pois dispunham de escravos. Nós temos as máquinas e a imensa massa de trabalhadores do terceiro mundo. Tenho aqui as minhas reservas quanto ao benefício que esta obra pode nos trazer, europocentrista que é.<br />
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AvóDezanove e o Segredo do Soviético - Ondjáki, São Paulo: Companhia das Letras.<br />
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Este jovem escritos angolano é um verdadeiro poeta. Este livro trata de suas lembranças de infância romanceadas. É uma mistura de lembranças e fantasias, segundo ele mesmo. Deliciosamente suave e doce, este é o livro mais leve que já li. Um sonho transcrito, com medos, cores, anseios, sabores, prazeres. Um trecho referente a experiência escolar será transcrita porque interessa-nos especialmente.<br />
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Niketche: uma história de poligamia - Paulina Chiziane, São Paulo: Companhia das Letras.<br />
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Trata das relações de gênero em Moçambique. Além disso, mostra as diferenças entre as diversas etnias que formam aquele país. Mostra o sofrimento por que passam as mulheres submetidas a tratamentos vis referendados pela cultura ocidental, pela religião islâmica e católica, pelas tradições tribais, pela brutalidade das condições de guerras civis.<br />
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Transcrevo um pequeno trecho:
"Nós, mulheres, fazemos existir, mas não existimos. Fazemos viver, ma não vivemos. Fazemos nascer, mas não nascemos. Há dias conheci uma mulher do interior da Zambézia. Tem cinco filhos, já crescidos. O primeiro, um mulato esbelto, é dos portugueses que a violaram durante a guerra colonial. O segundo, um preto, elegante e forte como um guerreiro, é fruto de outra violação dos guerrilheiros de libertação da mesma guerra colonial. O terceiro, outro mulato, mimo como um gato, é dos comandos rodesianos brancos, que arrasaram esta terra para aniquilar as bases dos guerrilheiros do Zimbabwe. O quarto é dos rebeldes que fizeram a guerra civil no interior do país. A primeira e a segunda vez foi violada, mas à terceira e à quarta entregou-se de livre vontade, porque se sentia especializada em violação sexual. O quinto é de um homem com quem se deitou por amor pela primeira vez.<br />
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'Essa mulher carregou a história de todas as guerras do país num só ventre. Mas ela canta e ri. Conta a sua história a qualquer um que passa, de lágrimas nos olhos e sorriso nos lábios e declara: Os meus quatro filhos sem pai nem apelido são filhos dos deuses do fogo, filhos da história, nascidos pelo poder dos braços armados com metralhadoras. A minha felicidade foi ter gerado só homens, diz ela, nenhum deles conhecerá a dor da violação sexual."<br />
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Este trecho é uma pincelada de realidade totalmente desconhecida para nós. Não sabemos nada do que acontece em países africanos. Não nos preocupamos com este continente. Sequer nos damos ao trabalho de identificar o país do qual nos referimos, preferimos nos poupar e falar apenas em África como se tratasse de um coisa única.<br />
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Quarto de despejo: diário de uma favelada - Carolina Maria de Jesus, São Paulo: Ática, 1960-2004.<br />
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Este livro é um clássico da literatura brasileira, embora não seja estudado nas escolas ou sequer mencionado em livros didáticos. Esta informação é realmente surpreendente. Quarto de despejo foi traduzido para treze idiomas e ainda é discutido em círculos acadêmicos. Ele apresenta, pela primeira vez, a vida na extrema pobreza brasileira. Carolina era moradora de uma favela paulistana situada na margem do rio Tietê, destruída posteriormente para a construção da avenida Marginal. Ela nos mostra, com crueza, a crueldade de sua vida sem comida, sem recursos, sem esperança. A autora mostra sua fina inteligência ao analisar social, política e estruturalmente a pobreza em que vive.<br />
<br />
História do Rei Transparente - Rosa Monteiro, Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.<br />
<br />
Romance fictício que trata do mundo feminino na idade média francesa. Mostra as relações sociais, de gênero, políticas, religiosas; as perseguições, lutas individuais e classistas; a rigidez de escolhas impostas pelo nascimento. Infelizmente não é possível saber de seu embasamento histórico. A narrativa pode ser comparável com As Brumas de Avalon, porém sem tanta empolgação quanto a empregada por Marion Zimmer Brandley.<br />
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Reminiscências do sol quadrado - Mário Lago. Coleção Depoimentos. Rio de Janeiro: Avenir Editora, 1979.<br />
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Experiências quase anedóticas vividas e ouvidas por Mário Lago durante dois meses de prisão quando do golpe de Estado de 1964. Suave para o tema, este texto mostra a crítica severa que os intelectuais fazem da ignorância policial. Os motivos das prisões são tão grotescos que chegam a ser pândegos. Lago não fala das torturas, cita-as levemente, deixando-nos ainda mais revoltados com o que houve à época justamente por tantos encarceramentos imotivados. O livro traz uma poesia-resumo que eu transcrevo:<br />
<br />
"Xamego - Síntese para quem tiver preguiça de ler o resto, que é detalhe só.<br />
<br />
Me invadiram a casa toda<br />
(e eram mais de dez)<br />
me viraram tudo nela<br />
(e eram mais de dez)<br />
me cercaram o edifício<br />
(e eram mais de dez)<br />
me impediram o elevador<br />
(e eram mais de dez)<br />
me esvaziaram a calçada<br />
(e eram mais de dez)<br />
me pensando dar um tiro.<br />
Eram mais de dez, eram mais de dez,<br />
eram mais de dez. De dez.<br />
<br />
Me meteram em tintureiro<br />
(e eram mais de dez)<br />
me levaram para o DOPS<br />
(e eram mais de dez)<br />
me enfiaram numa lancha<br />
(e eram mais de dez)<br />
me largaram numa ilha<br />
(e eram mais de dez)<br />
me enfiaram noutra lancha<br />
(e eram mais de dez)<br />
me trancaram no presídio.<br />
<br />
Eram mais de dez, eram mais de dez,<br />
eram mais de dez. De dez.<br />
<br />
<br />
Juntou dia atrás de dia<br />
(e eram mais de dez)<br />
quando fez cinquenta e oito<br />
(e eram mais de dez)<br />
me voltaram para o DOPS<br />
(e eram mais de dez)<br />
me botaram numa sala<br />
(e eram mais de dez)<br />
me sentaram e perguntaram:<br />
(e eram mais de dez)<br />
"sabe por que que foi preso?"<br />
<br />
Uma menina estranha: autobiografia de uma autista - Temple Grandin & Margaret M. Scariano. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.<br />
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Publicado originalmente em 1986 sob o título <i>Emergence: labeled autistic</i>, esta obra única trata da vida de uma autista segundo sua própria visão. Seus esforços para controlar suas crises de agressividade, manter seu interesse na escola, necessidades de afeto com rompantes de aversão. Espantoso e importante para profissionais e pais envolvidos com crianças com características de autismo. O texto é extremamente resumido e pouco dramático. A objetividade em tratar de suas dores, crises, empasses é entremeada com explicações científicas sobre o autismo. Temple tornou-se cientista e empresária de grande sucesso, segundo ela, devido a sua grande perseveração. Este empenho está traduzido em todas as páginas deste texto assombroso.<br />
<br />
Mulheres de Cabul: um comovente depoimento sobre a vida das mulheres no Afeganistão - Harriet Logan. São Paulo: Geração Editorial, 2006.<br />
<br />
O relato de mulheres afegãs antes e depois da queda do regime Taliban. A opressão e o desrespeito com que são tratadas as mulheres do afeganistão e o constante pedido de apoio que expressam. Transcrevo o trecho que mais me chocou:<br />
"Antes do Taliban, os homens afegãos diziam que as mulheres daqui tinham seus direitos, mas não é verdade. Segundo a nossa tradição, os homens nunca devem dar direitos iguais às mulheres. Isso não vai mudar - até os homens instruídos do país têm esse preconceito. E, mesmo se eles permitirem que as mulheres trabalhem ou façam parte do governo, a situação em nossas casas continuará a mesma. No Afeganistão, as mulheres são consideradas propriedade dos homens. Nossos esposos e pais têm o direito de impedir que as meninas frequentem a escola, entre outras coisas. As mulheres devem trabalhar dentro e fora do lar. Os homens esperam que suas esposas e filhas façam tudo por eles. Se a mulher faz algo errado, o homem tem o direito de espancá-la. Não podemos fazer nada a respeito. Isso é normal aqui. Todas nós apanhamos dentro de casa: meus irmãos já me bateram muitas vezes. Por isso, odeio homens e gostaria de nunca me casar.<br />
(...)<br />
'Um dia, eu estava num ônibus que tinha cortinas na seção feminina. Todas as mulheres dentro do ônibus, inclusive eu, tinham os rostos à mostra [com <i>burkhas</i> erguidas]. A polícia do Vício e Virtude nos avistou de alguma forma, apesar das cortinas, entrou no ônibus e bateu em todas nós com bastões. O trabalho deles era espancar mulheres que fizessem algo errado." (p. 95)<br />
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Mamãe e o sentido da vida: histórias de psicoterapia - Irvin D. Yalom. Tradução Lúcia Ribeiro da Silva. Rio de Janeiro: Agir, 2008.<br />
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Relatos de casos psicoterapêuticos de Irvin Yalom. Como sempre, com sua fluência e leveza, Yalom nos leva a viajar por nós mesmos a partir da sua experiência laboral. E como não poderia deixar de ser, há dois capítulos ficcionais deliciosos. Não se engane, essa leitura não é superficial. O texto fácil promove a leitura, mas o aprofundamento é inevitável.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-20786801663738581622011-11-17T23:08:00.004-03:002011-11-18T00:10:30.093-03:00Avaliações institucionais ou o despreparo dos psicólogosMeus leitores sabem que parte da minha atuação profissional é dedicada à avaliação de alunos. Fazemos isso para ajustar as salas de aula e os atendimentos especializados disponíveis pela Secretaria de Educação do Distrito Federal às necessidades educacionais especiais dos alunos.<br /><br />Para ser avaliado, um aluno deve ser encaminhado ao nosso serviço. Sim, burocracia. Enfim, creio que nenhum servidor público está livre desta grande praga.<br /><br />Em meio a muitas fichas de alunos, fui questionada por uma educadora sobre a demora para avaliar os alunos de uma das escolas atendidas pela minha equipe. Ela expôs que acredita no auxílio de instituições particulares para avaliar nossos alunos. Apesar de questionar a validade de tais avaliações externas, eu ouvi atentamente a opinião da professora e discuti as dificuldades do nosso serviço. Ela, muito atenciosamente, buscou um relatório de avaliação feito, a pedido dos responsáveis pelo aluno, por uma faculdade de psicologia. O relatório foi considerado ótimo por ela e pela professora regente do aluno avaliado. Tem cinco páginas com muitas explicações sobre os instrumentos psicológicos utilizados.<br /><br />A professora afirmou que o relatório descreve muito bem o aluno, que mostra quem ele é. Em que isto auxilia o trabalho em sala de aula? Uma ratificação de observação facilita o trabalho pedagógico? A descrição do comportamento do aluno segundo observações em laboratório ajuda a definir o método pedagógico a ser utilizado para facilitar o aprendizado de alguém? Que angústia dessas professoras foi suprida com este relatório? Vou pesquisar essas questões e postarei futuramente uma possível resposta.<br /><br />Sobre o relatório, o primeiro parágrafo escrito sobre o aluno propriamente dito indica sintomas típicos de Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD). Como tenho achado muitos alunos dentro do espectro autista, achei que era imaginação, erro meu. Prossegui na leitura e não tive mais dúvida. Defronte a pilha de encaminhamentos sem avaliação, eu fui apresentada a um aluno que precisa de atendimento diferenciado e que não foi sequer encaminhado para minha avaliação. Sim, querida/os leitora/es, este aluno nunca foi encaminhado ao meu setor. Além desse problema, não há menção do diagnóstico vislumbrado por mim. Este aluno deve ser avaliado por um psiquiatra, já que somente um médico pode fechar o diagnóstico de TGD. A supervisora da estagiária que avaliou nosso aluno não percebeu a gravidade dos sintomas. <br /><br />Aqui cabe a minha crítica mais forte: nós, psicóloga/os, saímos da faculdade sem saber avaliar o psiquismo de nossos clientes. Independentemente da discussão sobre rotular ou não uma pessoa, a preocupação com o melhor tratamento deve estar presente em nossas ações. Que formação damos aos psicólogos latentes? Apesar do fenômeno de medicalização da aprendizagem ser contundente e perigoso, alguns problemas são notados apenas na escola. E, como nesse caso, às vezes nem por ela.<br /><br />Esta criança merece ser vista com outros olhos e é isso que nos oferece um diagnóstico. Uma pessoa que tem um transtorno global do desenvolvimento não apresenta marcadores físicos. Este é um problema do qual sabemos ainda muito pouco. Mas podemos dizer, por exemplo, que não é pirraça suas crises de agressividade; não constitui preguiça sua dificuldade em registrar; não podem ser considerados teimosia ou veneta seus momentos de isolamento.<br /><br />Como expressei na postagem anterior (16.000) apresento aqui a minha angústia: a busca da pedagogia por não se sabe o quê, a falta de preparo da psicologia em oferecer um bom serviço, a ignorância geral que permite uma criança chegar à 4ª série sem ninguém desconfiar de um transtorno tão sério, a burocracia que emperra o serviço público, a grande demanda que representa uma escola para seu/sua psicólogo/a.<br /><br />Esta postagem será revisada em breve!Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-75964656283574297512011-11-10T21:56:00.002-03:002011-11-10T22:00:53.871-03:0016.000Tradição deste blog é marcar o milhar de acessos.<br />Mais uma vez, e como sempre, agradeço a frequência e o acesso de todos e de cada um.<br />Este blog é escrito com muito carinho e, às vezes, com muita raiva e angústia.<br />Compartilho aqui minhas descobertas enquanto psicóloga escolar.<br />Meu objetivo é trocar com colegas e com alunos de psicologia que se interessam pela aplicação desta ciência nas escolas.<br />A intenção é o crescimento mútuo e constante.<br />Vicenza CaponeVicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-86057531906752413842011-11-05T06:33:00.002-03:002011-11-05T06:38:02.972-03:00Possibilidades de gêneroAcabo de entrar em contato com o drama de uma pessoa que nasceu com um sexo, mas pensa, sente e age conforme outro gênero.<br /><br />O corajoso João Nery nos apresenta o conflito em que vive desde os quarto anos de idade quando começou a agir conforme seu gênero: masculino. Ele mostra a rigidez da sociedade moderna em aceitar as pessoas como elas simplesmente são e como isto dificulta todas as ações de quem não se enquadra em seus preceitos. É muito complicado se colocar no lugar de João mesmo lendo o livro. Suas dificuldades são de todos os níveis: afetivo, físico, postural, relacional, profissional. Até ir ao banheiro é complicado. Ao ir a um banheiro feminino, João era expulso por demonstrar ser homem. No banheiro masculino, não é possível usar o mictório, esperar pela cabine era questionado pelos demais usuários. Nas ocasiões em que todos os homens vão às árvores, João sempre precisou de banheiro formal. Todos os conhecidos lhe cobravam uma postura feminina, mesmo tendo diante de si um homem.<br /><br />João perdeu toda sua produção reconhecida socialmente ao decidir ajustar seu corpo à sua personalidade. Seu diploma, seus direitos trabalhistas, seu currículo, seu nome. Nasceu de novo. Recomeçou. Mesmo já estabelecido profissionalmente, João preferiu modificar seu corpo a prosseguir em desajuste com ele. Além disso, pode ser considerado um criminoso por ter alterado seus documentos ilegalmente para evitar constrangimentos (vê-se um homem que tem documentos femininos): falsidade ideológica. <br /><br />Solicito que façam uma análise agora: diploma, carreira em ascensão, reconhecimento profissional dispensados por um corpo em conformidade com a sua auto-imagem. Imaginem o sofrimento por que passa esta pessoa!<br /><br />Precisamos mesmo testemunhar o sofrimento atroz de alguém para que possamos aceitá-la por piedade? Não deveríamos compreendê-la e aceitá-la como é e receber sua oferta social sem cobranças preconcebidas?<br /><br />Imagino que a/os leitora/es estão questionando porque resumo a história dramática de João neste blog de Psicologia Escolar. Explico: nossa sociedade é preparada na família e na escola. Minhas professoras costumam me encaminhar crianças que não seguem os padrões de gênero que demonstram. Gays, Marias João estão nas escolas durante a infância e nossos detectores de desvios os anunciam rapidamente. As crianças os apontam, desrespeitam. São pessoas que devem ser adaptadas, curadas, consertadas. E quem melhor do que um psicólogo para realizar tal ajuste?<br /><br />Nós precisamos estar preparadas para esta demanda. O que diremos quando uma/um professor/a nos solicitar atendimento neste sentido? Entendemos que as pessoas têm direito de se manifestarem como são? Compreendemos que orientação sexual não é uma opção? Vislumbramos as possibilidades de gênero que o ser humano apresenta? Percebemos que a sociedade não oferece liberdade de ação, mas exige que se cumpram seus padrões? Sabemos que a fuga das normas sociais tácitas impõe sérias restrições e punições severas? Estamos preparados para nos colocar no lugar do ente que sofre ao invés de julgá-lo como todos os outros agentes sociais fazem? Que diferença a psicologia pode fazer para as pessoas de orientação sexual diferente do padrão estando dentro das escolas?<br /><br />A professora de João sempre o aceitou sem dizer à família que havia algo errado com ele.<br /><br />Indico a autobiografia de João W. Neri – Viagem solitária: memórias de um transexual trinta anos depois.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-38097672944920799142011-10-23T14:40:00.008-03:002011-10-23T15:32:41.000-03:00Brincadeiras naturaisJá falei aqui sobre o impacto de jogos eletrônicos sobre o desenvolvimento. Reintero minha opinião e acrescento que atividades que restringem o movimento corporal ou que não o promovem e estimulem, prejudicam o desenvolvimento psicomotor, o processamento visual e o auditivo.<br /><br />A psicomotricidade relaciona-se aos sentidos cinestésico e vestibular. Sempre nos foi dito vulgarmente que o homem tem cinco sentidos. Mas a ciência acrescenta-nos ainda os dois acima relacionados. O sentido cinestésico refere-se à percepção que temos do nosso corpo em relação a si próprio. Mesmo sem utilizar a visão é possível saber onde estão braços e pernas, em que posição estão cada uma das mãos e pés. Com o sentido vestibular nos referimos à capacidade de ter consiciência do nosso corpo em relação ao solo. Neste, utilizamos o labirinto cujo líquido sofre influência da gravidade e receptores informam ao cérebro sua posição. Estes dois sentidos trabalham juntos informando o sistema central de forma a podermos nos movimentar ou permanecermos parados.<br /><br />A coordenação de músculos e informações é estabalecida e fortalecida com o uso. Nascemos com esta capacidade, mas ela tem que ser desenvolvida. Um bebê apresenta movimentos des desordenados e cresce em direção ao auto-domínio. A movimentação coerente, ritmada, a boa mira, o alcance de objetos móveis, são aquisições no escopo da psicomotricidade. Pressionar, segurar um objeto e realizar movimentos determinados com ele também são da ordem da psicomotricidade. São ações necessárias para a escrita.<br /><br />Aqui é possível perceber com muita clareza que várias informações devem ser coordenadas, analisadas e, posteriormente, utilizadas. Este raciocínio é fácil quando o foco é movimento, mas talvez não seja tão claro para visão e audição. A organização dessas informações é chamada de processamento. Talvez seja um paralelo com a teoria dos computadores.<br /><br />Assim, temos o procesamento visual e o auditivo. Estes dois não se relacionam à área médica correspondente aos órgãos. Isto torna complicada a detecção de problemas, pois a nossa sociedade é centrada em defeitos clínicos e não funcionais, como é o caso do que tratamos aqui. Quando há problema, os pais levam os filhos aos médicos que detectam defeitos ou dificuldades e não encaminham os pacientes para outros profissionais.<br /><br />O processamento visual é a junção das informações que vêm de cada olho. Se os olhos não focalizam a mesma coisa, temos um problema no procssamento. Isto ocorre, de forma simplificada, pela diferença de tônus muscular dos olhos. Sim, os olhos têm músculos que os fazem mover-se em todas as direções e os impedem de girar para trás. É fácil pensar que todos os movimentos que ocorrem ou podemos executar são realizados por músculos, sejam lisos ou estriados. Que me corrijam os especialistas no assunto. Temos trÊs pares de músculos em cada olho e eles estão sincronizados entre os dois olhos. A falta de tônus em um músculo de um olho já faz com que seu movimento não seja completo, provocando a distorção na junção das imagens.<br /><br />Enfim, o processamento auditivo refere-se à decodificação dos estímulos elétricos traduzidos da vibração causada pelo som a nível cerebral. De forma simples, a informação não é compreendida quando há falha no processamento. Neste caso, temos uma surdez funcional. Clinicamente tem-se o aparelho auditivo perfeito. Suas funções e estruturas estão preservadas, mas, por algum motivo, o cérebro não decodifica suas informações.<br /><br />Por que falo destes três elementos se no início da postagem referí-me a jogos eletrônicos? Porque as brincadeiras ao ar livre - subir em árvores, conhecer pássaros pelo canto e localizá-los, brincar com formigas, pular corda, brincar de bola, jjogar pique-pega, jogar bola de gude ou biloca (se preferirem), ouvir histórias, brincar de finca, bocha, fazer e soltar pipa, correr atrás de pipa voada, brincar de elástico, pular amarelinha, brincar de esconde-esconde, cabra-cega - proporcionam o desenvolvimento do processamento auditivo, visual e da psicomotricidade, necessários para uma vida saudável.<br /><br />A busca de escolinhas de esporte pelos pais modernos é bastante saudável, eu assim o considero. Entretanto, os esportes direcionados e os jogos em X-box (bem melhores que os sedentários vídeo-games clássicos) não suprem em força, agilidade, diversão aprendizagem e prazer as brincadeiras "naturais". Basta pensar na localização de um fruto maduro, a observação do caminho para chegar nele, a subida na árvore (força, agilidade, raciocínio motor), o alcance da fruta, o desfrute saboroso do objeto conquistado, a nutrição biológica, psicológica e social resultante.<br /><br />Parques, chácaras e acampamentos podem propiciar este desenvolvimento caso as crianças sejam estimuladas pelos pais. Digo isso porque não se deve esperar que uma criança criada em apartamento suba numa árvore assim que a veja ou reconheça uma fruta pelo pé. A insegurança das cidades faz com que a criação dos filhos se torne uma tarefa muito mais complicada do que outrora foi.<br /><br />Deixo como sugestão para os pais que aproveitem esta indicação de atividade com os filhos para desestressar de seus problemas cotidianos. Pensem que os aparelhos e a indústria modernos já <span style="font-weight:bold;">economizam muito</span> do nosso tempo. Imagine quanto tempo deve ser gasto para se plantar, colher, secar, torrar, moer, coar para que finalmente se possa tomar um café. Este tempo economizado deve ser investido em seres humanos mais saudáveis. Ofereça exemplos de saúde ao seu filho.<br /><br />E para você, psicóloga/o latente ou profissional, oriente o seu cliente a abandonar atos auto-destrutivos. Estimule o convívio com a natureza indicando com ações simples. Nossos corpos, intelecto, crianças e futuro agradecerão.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-4617231991196844202011-10-13T20:10:00.006-03:002011-10-17T11:22:26.562-03:00Utilizando jogos: Damas ChinesasEste é um jogo muito pouco conhecido pelos brasileiros. Apesar de estar quase sempre disponível em caixas com múltiplos jogos, como o Clube Grow, não conheço ninguém que saiba suas regras entre colegas, pais e crianças.<br /><br />Mais um jogo de tabuleiro que pode ser jogado entre duas até seis pessoas. Seu tabuleiro é uma estrela de seis pontas. Uma estrela de Davi. As pontas das estrelas são divididas de modo a formar um hexágono regular ao centro. Toda a estrela é pontilhada. Nas pontas deve haver dez pontos. Nestes pontos coloca-se peças (botões, tampas, tachinhas, moedas). O objetivo do jogo é levar os botões para o triângulo diametralmente oposto. Move-se as peças de pontos em pontos ou pulando-se as peças pelo caminho. Os pulos podem ser múltiplos e devem sempre ocorrer em linha reta, mas entre um pulo e outro pode-se angular. A internet disponibiliza este jogo, caso queiram visualizar, estudar as regras e/ou jogar.<br /><br />Este é um exemplo de jogo cooperativo. Não há captura de peças dos oponentes. Pode-se pular peças próprias ou de outrem. Há movimentos de defesa, mas ao se preocupar com isso, perde-se muito tempo e, provavelmente o jogo. Apesar disso, ele ainda é um jogo competitivo, porque alguém ganha.<br /><br />No Damas Chinesas é possível trabalhar bastante a estratégia. Crianças pequenas e deficiêntes mentais não conseguem pular longas distâncias sem estímulo constante. Mesmo quando se mostra a possíbilidade de fazê-lo, em outra oportunidade não há repetição. Assim, antes da capacidade de abstração estar iniciada, não há planejamento. Isto é facilmente perceptível neste jogo.<br /><br />Trabalhamos neste jogo a observação da movimentação dos oponentes, a percepção de tempo disponível para agir, a perspicácia em perceber caminhos novos que os outros jogadores abrem, o planejamento, a ansiedade, a aceitação de ações dos outros que atrapalham o planejamento feito, o respeito pela vez do colega.<br /><br />Em especial a ansiedade é trabalhada quando se percebe um caminho possível, mas não é o momento de agir ainda. É necessário esperar que todos joguem para atuar e quando é chegado a hora, muitas vezes o caminho visto já foi modificado. Então, é preciso refazer o plano. Crianças por volta de dez anos já demonstram sinais agudos de ansiedade. Neste jogo podemos mostrar a elas como controlar esta emoção danosa e indicar os prejuízos que dela podem surgir.<br /><br />Alguns de meus alunos hiperativos demonstram maior contato com as atividades dos colegas do que com a sua própria. Eles dão sugestões do que os outros devem fazer mas não conseguem agir corretamente ou com aproveitamento. Enfim, são como Donas Fifis que se ocupam da vida alheia. Durante jogos coletivos este comportamento fica muito evidente. Em geral, expresso com voz suave a incoerência de seu ato. Digo claramente que devem criar estratégias para si e não para os outros, principalmente porque atrapalha o plano e a estratégia alheia. A voz suave é usada para contrastar com sua agitação habitual. A suavidade causa um choque que lhe chama a atenção para a informação. Após a primeira indicação, quando ocorre a repetição do comportamento indesejado, indico com uma interjeição em tom de voz grave de modo a lembrar-lhe o que foi corrigido.<br /><br />Essa forma de agir, é absolutamente idiossincrática. Mostro aqui que coisas sutis, como tons de voz diferenciados e expressões faciais, são muito eficazes na mudança de comportamento.<br /><br />Relembro que o objetivo das postagens sobre uso de jogos comerciais é a exposição da minha técnica de trabalho com alunos hiperativos e com problemas de aprendizagem.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-29908517225288983602011-10-13T18:52:00.010-03:002011-10-13T20:09:13.973-03:00Utilizando jogos: XadrezProsseguindo em nossa análise de jogos para atendimento psicológico com enfoque nas demandas escolares, estudaremos o Xadrez. Antigo, percebido inicialmente como chato ou jogo para velhos pelos pequenos, depois que aprendem as regras eles ficam fascinados. E elas são muitas. Mas considero o Can can mais complexo que o Xadrez, embora mais fácil de jogar e de ganhar. O Xadrez é tranquilo para se jogar, mas difícil de ganhar.<br /><br />Jogo tradicional, de tabuleiro e muito estético, um jogo de Xadrez montado é artigo de decoração. O encantamento dos meus alunos começam por aí. Eles respeitam muito aquelas pequenas esculturas. Talvez pensem que não é para eles. Dizem sempre que não sabem jogar e não se arriscam.<br /><br />Aqui podemos começar a trabalhar a confiança da criança em nós e, em seguida, nela mesma. Como este jogo é considerado típico de intelectuais ou de classe social abastada, nossos alunos consideram-no difícil. Mostramos as possibilidades de usá-lo, ensinamos as regras e elogiamos sempre que acertam para fortalecê-los perante o objeto antes distante.<br /><br />As regras são quase restritas ao movimento das peças. Os peões movem-se para frente, de casa em casa, exceto pelo primeiro movimento que pode ser duplo, conforme queira o jogador. As torres se movem por quantas casas se desejar, vertical e horizontalmente. Os bispos são movidos também por várias casas, mas na diagonal. A rainha une os movimentos da torre e do bispo. O rei movimenta-se como a rainha, porém casa a casa, como o peão. O cavalo movimenta-se em "L" e é a única peça que salta as outras. O objetivo do jogo é conquistar o rei adversário. Adquire-se as peças do oponente por substituição na casa e não passando-se por cima dela como no jogo de Damas. Se o peão chegar ao final do campo, pode-se solicitar uma peça adquirida pelo oponente de volta ao jogo, em substituição. Há o roque, uma jogada de defesa em que a torre não movida troca de lugar com o rei. No roque não pode haver nenhuma peça entre as duas que se movem. O roque pode ser pequeno e grande, a diferença se dá pela distância entre o rei e a torre. Deve haver mais jogadas especiais como o roque e a troca do peão, porém eu não as conheço e não utilizo com os alunos.<br /><br />Aqui não é possível o jogo em grupo de alunos. Utilizamos vários tabuleiros e vamos supervisionando. Isto dificulta muito a interpretação dos eventos que surgem durante as jogadas. Entretanto, é possível trabalhar com dois ou três duplas se o objetivo é trabalhar a atenção, a concentração, o planejamento de ação, a previsão das jogadas do oponente, o respeito pelo momento do outro jogar.<br /><br />Caso seja possível trabalhar com apenas um aluno, é possível provocá-lo com jogadas. A exploração de erros mostra-se como terreno fertilíssimo para interpretações clínicas. Durante o que se mostra como um jogo comum, se transforma na leitura fidedigna do que acontece normalmente na vida da pessoa. Como ele se coloca perante o mundo, como age frete a dificuldades, como lida com a distração dos outros, por exemplo.<br /><br />Relatei um caso aqui de um aluno que eu quase sempre atendia jogando Xadrez (http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com/2009/09/um-caso-de-indisciplina-grave.html). Mostrei-lhe todos os seus comportamentos equivocados através de movimentos reais durante as partidas. Ele superou sua dificuldade de aprendizagem e seu comportamento infantil e irresponsável foi desvendado para ele mesmo. Assim foi possível avançar em seu desenvolvimento global.<br /><br />Creio ser o Xadrez o jogo mais poderoso disponível para trabalhar planejamento de ação. É possível perceber quais são as futuras jogadas do aluno, dificultar sua ação, perceber se se distraiu de seu objetivo parcial, se está te distraindo para preparar outra jogada (L. sempre fazia isso, demonstrando sua inteligência e a minha falta de atenção).<br /><br />Enfim, este jogo é muito frutífero. As estratégias de ação são muito variadas e as possibilidade de interpretação clínica também. Tenho muito sucesso com jogos clássimo.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-528486514929818462011-10-12T19:45:00.006-03:002011-10-13T14:08:17.015-03:00Utilizando jogos: Can canExistem muitos jogos no mercado, como afirmei anteriormente, que podem ser usados durante os atendimentos direcionados para melhoria do desempenho escolar. Como prefiro trabalhar em grupo, discutirei inicialmente jogos coletivos.<br /><br />O mais usado por mim é o Can can da Grow. Esta empresa tem baixado bastante a qualidade de seus produtos. Imagino que seja a concorrência severa dos produtos chineses. Enfim, os jogos antigos são bem melhores que os modernos. As cartas novas estão transparentes sendo fácil visualizar as cores que os oponentes têm em suas mãos.<br /><br />Gosto muito deste jogo porque ele possui muitas regras. Apenas crianças inteligentes conseguem coordenar todas as normas para jogar. Em geral, durante minhas avaliações psicológicas também o utilizo por isso. Expresso todas as regras inicialmente. Se a criança lembra-se de como jogar e coordena as regras na segunda partida, a suspeita de deficiência mental está descartada.<br /><br />O Can can é um baralho de 116 cartas, divididas em quatro cores (amarela, vermelha, verde e azul), quarenta numeradas de um a dez, quatro figuras e dois coringas.<br /><br />A regra básica é seguir em cor ou desenho a carta que está sobre a mesa, lembrando que um número é um desenho. Assim, se temos um cinco amarelo poderemos jogar uma carta amarela ou um cinco de qualquer cor. Há cartas especiais chamadas figuras. Elas possibilitam pular o próximo jogador, reverter a ordem do jogo entre horário e anti-horário, fazer o jogador seguinte pegar duas cartas e não jogar, e obrigar o jogador anterior a comprar uma carta. Há ainda os coringas que podem ser usados sobre qualquer cor com a diferença que o coringa +4 obriga o próximo jogador a pegar quatro cartas e não jogar. O coringa +4 só pode ser descartado caso o jogador que possuí-lo não tiver descarte possível. Porém, é permitido o blefe. Este pode ser questionado por quem se sente prejudicado. No caso de verificado o blefe, o dono do coringa deve recolhê-lo e comprar quatro cartas, descartando a carta possível. Em caso de ato correto, o acusador comprará mais duas cartas além das quatro. A verificação é feita com o jogador dono do coringa mostrando suas cartas ao acusador. Para os dois tipos de coringas é necessário que quem o descartou escolha a cor que o jogador seguinte deverá usar. É possível rebater as figuras +2, neste caso somam-se as cartas quando o jogador não puder rebatê-la. Quando um jogador estiver com apenas uma carta na mão, deverá anunciá-lo de viva voz, dizendo "Can can" ou "estou por uma". Caso esqueça, será punido com mais duas cartas, saindo assim da possibilidade de ganhar a partida. Após o "bate", o jogo segue até chegar novamente em quem bateu. Ganha quem termina o partida sem cartas na mão e o jogo, quem tem menos pontos. Os pontos são contados considerando-se o valor nominal das cartas simples, vinte pontos para as figuras e cinquenta pontos para os coringas.<br /><br />Espero que o/a leitor/a tenha percebido porque entendo como inteligente a criança que consegue jogar o Can can na segunda partida sem dúvidas sobre as regras. Assim como as regras sociais, elas devem ser coordenadas constantemente. O movimento dos oponentes também deve ser observado para saber quais as melhores atitudes a tomar. Quais cartas descartar, quando blefar, quando fazer o jogo mudar de direção. Faço sempre um paralelo entre a complexidade deste jogo e as regras sociais. Principalmente, digo aos meus alunos que eles devem conhecer as regras com profundidade para que possam usá-las em benefício próprio e, assim, ganhar no jogo e na vida. O primeiro e mais simples exemplo é a explicação da professora. Ao prestar atenção na professora, fica fácil entender o que se deve fazer. É ela quem diz as regras. Seguir o que ela diz agiliza a execução da tarefa e será possível iniciar outra atividade em seguida.<br /><br />Sim, eu sei que isto pode complicar a professora. Meus colegas psicólogos que não entenderam serão esclarecidos imediatamente: o aluno que termina rápido, brinca. A professora deve estar preparada para isso. Como a maioria dos meus alunos é hiperativa, tem assim a sua atenção treinada. Se atentos, compreendem rapidamente o que deve ser feito. Finalizam sua atividade e começam a atrapalhar a aula com suas conversas e brincadeiras, nem sempre saudáveis. Em geral, solicitamos às professoras que tenham mais atividades para eles enquanto os demais da turma estão finalizando a tarefa proposta para o momento.<br /><br />Além de usar as regras, meus alunos devem estar atentos para seu momento de jogar e para o sentido em que o jogo está andando. Sou exigente e gosto de jogar rápido justamente para treinar sua atenção. Eles têm respondido bem a minha forma de atuar. Brigo com eles quando não sabem de quem é a vez de jogar ou quando não entendem o que está acontecendo: significa que estão desatentos.<br /><br />Muito de nossos alunos são desorganizados o que lhes prejudica muito a atuação em sala de aula e a elaboração dos deveres de casa. Durante as partidas de Can can é fácil notar quem é desorganizado. Como atendemos em dupla, eu e a pedagoga, ao notarmos que a criança está atrapalhada, uma de nós vai até ela e mostra-lhe como organizar as cartas em sua mão. Há casos em que a coordenação deve ser trabalhada. Demonstramos como segurar as cartas, como movimentá-las facilitando assim a visualização de todas e portanto a organização de materiais. Aos poucos vamos levando nossos alunos a generalizar a ordem para outras áreas de sua atuação.<br /><br />Outro ponto trabalhado é a observação social. Treino a leitura da reação dos colegas, da sua própria reação e seu auto-controle durante o jogo. Muitas vezes emoções fortes vêm a tona. Estes são momentos ricos em todos os jogos. São situações que devem ser pontuadas e interpretadas clinicamente. Tenho conseguido grandes ganhos com esta atitude. Ajo paralizando totalmente a partida, mudo o tom de voz, exijo a atenção de todos e mostro o que está acontecendo. Como uma intervenção pontual em grupo terapêutico de adultos, funciona muito bem com as crianças. Os próprios pequenos interpretam corretamente e, às vezes, mostram mais elementos do que eu havia notado. Talvez por serem crianças, suplantamos sintomas de dificuldade de aprendizagem com muita rapidez usando este método. Costumo usá=lo também para problemas que vão além da escola, por ter oportunidade, entendimento e disponibilidade para tal.<br /><br />Em grupos de crianças pequenas, pode-se usar este jogo mais pedagogicamente, ensinando as cores básicas que o compõem, os números, inserindo as regras complexas aos poucos. Ao final, sempre exigimos a realização das contas. Caso os alunos já estejam no quarto ano, podemos solicitar multiplicação. Se foi um aluno que ganhou a partida, ele faz a nossa conta. Muito raramente ele se nega a fazê-lo. Já entendemos isso como um sintoma. Trabalhamos sua resistência a luz de sua dificuldade. Não podemos perder oportunidade de atuação. Temos sempre muito cuidado em fortalecer sua auto-estima e sua capacidade mental, mas a ideia central é provocar o seu desenvolvimento global.<br /><br />Em todos os jogos, mostramos aos nossos alunos suas capacidades e desviamos sua fixação em erros. A maioria chega até nós desacreditados pelos professores, pelos pais e por si mesmos. Realizamos este resgate pela própria pessoa que se apresenta e a partir de sua mudança, os outros personagens passam a vê-lo de modo diverso.<br /><br />Trabalhamos também a presença deles e assim seu investimento emocional e energético no que estão atuando. Fazemos isso através do contato físico nos braços e nas mãos. Os toques são inicialmente suaves e passam a ser pressões com a mão, chamando a pessoa para o momento presente. Esta técnica também é utilizada com os pais e professoras durante entrevistas. Ultrapassa-se, desta forma, barreiras psicológicas, dificuldades de envolvimento, entraves emocionais.<br /><br />Usamos o Can can também aproveitando sua estimulação visual, a força do grupo, a diversão, a competição para motivar os alunos em participar de suas aulas. Traçamos um paralelo entre este jogo e as aulas em vários momentos. É imprescindível estarmos presentes e atentas para as ocorrências e realizarmos as ligações possíveis para efetuar a relação adequadamente.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-34716890125870133332011-09-04T21:26:00.002-03:002011-09-06T10:48:42.658-03:00Tecnologia psicológica nacionalNa semana passada tivemos a oportunidade de assistir a palestra "A Neuropsicologia de Vigotski-Luria e a correção nas dificuldades do ensino" proferida pela Professora Tatiana Akhutina, que trabalhou como fonoaudióloga no laboratório de Neuropsicologia do Instituto Neurocirúrgico Budenko, sob a orientação de A. R. Luria. Ao final da explanação Akhutina foi aplaudida e saudada pela sua generosidade em expor de forma clara e profunda sua técnica de trabalhar a atenção de crianças com problemas de aprendizagem. Ela trabalha em uma clínica multiprofissional chamada Escola de Atenção.<br /><br />Eu estava frustradíssima!<br /><br />A tecnologia russa exposta com tanta clareza, gentileza e profundidade pela doce Akhutina me pareceu chata e ultrapassada. Fiquei imaginando meus alunos, tão exigentes que são, me olhando após a apresentação da sequencia de instrumentos que ela nos mostrou.<br /><br />Nossos alunos questionam o método de ensino que é utilizado com eles e nos gritam isso com seu sintoma. Eles querem algo além, querem algo dinâmico e divertido. Sua atenção é flutuante, atentam-se a tudo ao mesmo tempo. Como isto não é valorizado pela escola, se tornam um problema em sala de aula. Não posso falar nada sobre os alunos russos. Acrescento que esta idéia sobre a denúncia de erros através de sintomas de dificuldade de aprendizagem não é minha. Quem me dera!<br /><br />Posso afirmar que realizo trabalho de treino de atenção há dez anos com meus alunos e que, além de atenção, desenvolvo junto com eles sua capacidade de análise, adaptação dos instrumentos, postura corporal propícia ao estudo, percepção de suas próprias necessidades, respeito ao entendimento e tempo dos colegas, cooperação, coordenação motora, raciocínio lógico-matemático, uso de regras em benefício próprio.<br /><br />Meu choque com a palestra proferida por Akhutina mora na ignorância da academia com as ações realizadas por profissionais práticas como eu. Não é por acaso que nunca recebemos um comentário de uma acadêmica neste blog.<br /><br />Por causa deste choque resolvi colocar em ação o plano antigo de compartilhar o método de atendimento psicopedagógico que desenvolvi com meus pequenos. A partir desta publicação apresentarei os diversos instrumentos de apoio ao desenvolvimento infantil encontrados em lojas de brinquedos: os jogos de tabuleiro.<br /><br />Referência:<br />http://www.uniceub.br/noticias/not001_visualizarnoticia.aspx?ID=56d44c3649, em 06/09/2011Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-31483847951163939132011-08-30T18:49:00.003-03:002011-08-30T18:59:57.098-03:0015000Mais uma vez, registramos como de costume o alcance de novo milhar.
<br />Esta marca deve ter sido atingida ontem, mas não pude acessar a internet.
<br />Informo que minha falta de novidades relaciona-se estreitamente com a quantidade de relatórios que tenho produzido no meu trabalho de psicóloga escolar.
<br />Talvez este seja um bom tema para próxima postagem.
<br />Agradeço às/aos visitantes, às/aos seguidores, amigos e amigas que apóiam minhas publicações e ideias.
<br />Um beijo em cada um de vocês!
<br />VicenzaVicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1618405688094915422.post-4469623658753089112011-07-06T10:53:00.004-03:002011-07-07T20:05:44.302-03:00Valorizando propensõesStendhal, na verdade Henri Beyle, em seu clássico <span style="font-style:italic;">O vermelho e o negro</span>, nos aponta um exemplo de má interpretação da personalidade e dos interesses de outrem:<br /><br /><blockquote>"... procurou inutilmente Julien no lugar que ele deveria ocupar, ao lado da serra. Percebeu-o a um e meio ou dois metros mais acima, sentado a cavalo sobre uma das vigas. Em vez de vigiar atentamente a ação de todo o mecanismo, Julien lia. Nada era mais antipático ao velho Sorel; teria talvez perdoado a Julien sua frágil estatura, pouco adequada para os trabalhos de força e tão diversa da de seus irmãos; mas esta mania de leitura lhe era odiosa; ele não sabia ler.<br />'Foi em vão que chamou Julien duas ou três vezes.<br />'A atenção com que se entregava a seu livro, bem maior do que o barulho da serraria, o impedia de escutar a terrível voz de seu pai. Enfim, apesar de sua idade, este saltou lestamente sobre a árvore submetida à ação da serra e daí para a viga transversal que sustinha o teto. Um golpe violento fez voar no regato o livro que Julien segurava; uma segunda pancada também violenta, dada em sua cabeça, em forma de cacholeta, o fez perder o equilíbrio. Ia cair a quatro ou cinco metros abaixo, no meio das alavancas da máquina em ação, porém seu pai o reteve com a mão esquerda:<br />'- Muito bem, preguiçoso! Sempre lê seus malditos livros enquanto cuida da serra? Fique com eles à noite, quando vai perder seu tempo na casa do cura."<br /><br /></blockquote><span style="font-style:italic;">O vermelho e o negro</span> foi publicado em 1830.<br /><br />Nossa escola valoriza exatamente o comportamento do personagem Julien, concentrado, calmo e afeto às letras. Mas, infelizmente, somente este perfil. Sabemos que as propensões são tantas quantas as profissões. Mas nem sempre nos lembramos disso, não é? A professora maluquinha de Ziraldo nos mostra isso quando oferece a cada um de seus alunos uma medalha adquirida em concursos de <br /><br /><blockquote>"... a melhor redação, a voz mais grossa, o melhor desenhista, a melhor <span style="font-style:italic;">mão </span>para plantar flor, o melhor cantor, o mais engraçado, o que tinha a melhor memória... Só agora percebemos que, primeiro ela descobria uma qualidade destacável de um de nós e aí, então, inventava o concurso, segura de quem seria o vencedor. No fim do ano, todo mundo tinha ganho uma medalha. O último, parece, ganhou o primeiro lugar em cuspe a distância."</blockquote><br /><br />Gardner fez esta percepção de habilidades se tornar científica com a sua teoria de inteligências múltiplas. Apresentou à sociedade formalmente o que nossas avós já diziam: cada um é bom em uma coisa.<br /><br />Mas a teoria demora muito a entrar no sistema. E a supervalorização da intelectualidade prossegue ferindo nossas crianças. Mais um alerta para psicóloga/os escolares: observar e ouvir os alunos com abertura para compreender suas facilidades e características além das dificuldades de vida que enfrentam. Mostrar à comunidade escolar quais são as propensões dos alunos que nos chegam pode mudar radicalmente a condução educacional tomada com o aluno.Vicenza Caponehttp://www.blogger.com/profile/03046737482576767214noreply@blogger.com0