sábado, 26 de dezembro de 2009

Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica

Estive afastada das minhas atividades ligadas ao blog devido a exigências típicas de fim de ano.

Neste ínterim participei do Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica(FMEPT) que ocorreu em minha cidade, Brasília. Um evento de tal grandeza levou-me a esforçar-me para comparecer. As conferências e encontros individuais com outros educadores nutriram-me de idéias dignas de exposição. Uma delas, creio, deve ser apresentada dada a justificativa para nosso acompanhamento no evento.

Sabemos que trabalho em uma escola pública de 1ª a 6ª séries do ensino fundamental. Fui questionada sobre o que estava fazendo em um Fórum de Educação Profissional e Tecnológica. Muito simples, para chegar à educação técnica é necessário passar pela educação fundamental.

Esta primeira resposta teve eco na conferência de Márcio Porchmann no primeiro dia. Este educador é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, professor da UniCamp e descreveu sucintamente o atual estado da sociedade brasileira em seus aspectos econômicos e relacionais. Falou sobre a nova constituição familiar, com menos crianças e vários enlaces amorosos e o conseqüente predomínio de famílias monoparentais. Em contraste com as constituições anteriores, na qual um aniversário ou comemoração reunia dezenas de pessoas sem contar os agregados, nessa perspectiva há redução da possibilidade de socialização através da família devido a sua evidente redução de entes. Esse dado implica em importante queda de qualidade de vida, de oportunidade de conhecimentos e diminuição drástica nas redes sociais (vide Redes Sociais, neste sítio, setembro de 2009). As soluções dos problemas surgidos com esta nova constituição familiar deverão ser dadas por alguém ou alguma instituição. É claro que a solução deve ser oferecida pela escola. Estava, eu, pois, no lugar certo!

Fomos brindados também pela conferência de Leonardo Boff. Apesar deste senhor dispensar apresentações, meu colega de lado perguntou-me qual era a instituição que ele representava. Quem me conhece deve imaginar a cara que fiz: assombro total. Boff foi aplaudido sete vezes em uma hora de palestra. Seus argumentos vão de bactérias a vários universos ao invés de um; corrigindo-me, conforme Boff, pluriverso. Devo acrescentar que as informações que Boff apresenta são assustadoras, mas perfeitamente aceitáveis, talvez pela forma com que ele as profere, talvez pela sua aparência doce e confiável.

É de Boff a responsabilidade do meu atraso em escrever resumidamente os novos conhecimentos adquiridos no Fórum. Não aceitei escrever sem um link para sua palestra. Tal complexidade ela contém que não me senti capaz de resumi-la. Sua principal idéia, para mim, é a nossa dependência do planeta. A Terra pode ficar sem os seres humanos, mas nós não temos outro veículo. Não é apenas uma dependência alimentar. Necessitamos deste abrigo. Não podemos estar em outro lugar. No entanto, estamos destruindo quem nos acolhe e oferece tudo de que necessitamos. Sua conferência é emocionante e não nos permite alternativa senão lutar incansavelmente pela recuperação de nossa casa – segundo ele, nossa Mãe Terra. Na última semana de novembro, período em que se realizou o FMEPT, a Cop 15 ainda não havia começado. Talvez a desesperança provocada por Copenhagen possa ser reduzida com a sua conferência: http://sitefmept.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=347&catid=39&Itemid=220

No dia 26 de novembro, os trabalhos do FMEPT foram abertos com a Caravana da Anistia, em sessão solene de julgamento do processo de anistia de Paulo Freire. A vida deste exemplar educador foi apresentada, assim como sua perseguição política pelo Estado Brasileiro. Após aprovação unânime do parecer do relator do processo, a palavra foi dada a sua viúva. Preparada e ansiosa por vivenciar este momento, a representante de Paulo Freire expôs, com veemência, o sofrimento provocado pela ditadura ao homem que tanto amava sua Recife. Durante sua fala, podíamos ouvir os sons típicos de choro em toda a platéia. Quanto a mim, não presenciei palestra mais emocionante. Além do momento histórico que presenciávamos, o pedido oficial de desculpas do governo brasileiro a tão nobre cidadão, a forma com que tudo se deu, o local mais que apropriado, as palavras ricamente escolhidas por Ana Maria Araújo que possibilitavam a empatia e compaixão pelo sofrimento provocado em Freire pela sua expulsão compulsória do seu país, tudo isto justifica nossa expressão de emoção. http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u657969.shtml

Ao fim do FMEPT eu percebia o quanto a educação ainda é tida como a redenção para os problemas que vamos enfrentar. Acredito que a crise pela qual passamos ainda não acabou, principalmente após ouvir Boff, e que continuaremos sem apoio real para realizarmos o que sociedade e intelectuais tanto esperam de nós. Assim como o método de Paulo Freire nunca foi implantado no Brasil, também nós modificamos vidas em nossas escolas com nosso esforço pessoal. Conforme proferiu Moacir Gadotti, momentos depois do julgamento da anistia citada, Paulo Freire somente será realmente anistiado quando não mais houver analfabetos no Brasil.