domingo, 27 de setembro de 2009

Um caso de indisciplina grave

Como disse na última postagem, há alunos que apresentam comportamentos persistentes de indisciplina. Exponho agora um caso bastante controverso que atendi que é exemplo disto.

L. era um aluno plurirepetente da 5ª série. Sua constituição física já estava completa quando o conheci, devia ter uns 170 cm de altura. Não demonstrava interesse por namoro e brincava com os colegas no mesmo nível. Isto causava muitos problemas porque era visivelmente bem mais forte que os outros.

As professoras se queixavam de que L. não as respeitava, brincava em aula o tempo todo, batia nos colegas durante as aulas e também fora delas, não assumia seus próprios atos.

Soube que o aluno seria transferido. Como eu havia chegado há pouco tempo na escola, interessei-me quando o processo do aluno já se mostrava bem avançado. Conversei com as instâncias superiores e mostrei que os recursos da escola não estavam esgotados porque o caso não tinha passado por mim ainda. Interpretei o sentimento de desconfiança na expressão facial do meu diretor, mas ele aceitou a minha proposta.

Convoquei a mãe para iniciar atendimento psicopedagógico imediatamente. Ela informou que a família impunha limites claros ao filho, ele contava com responsabilidades perante a organização e limpeza da casa e auxiliava no trabalho do pai. Não havia, entretanto, horário para o estudo e nosso aluno era constantemente comparado com o filho mais novo que, segunda a mãe, tinha comportamento exemplar como o mais velho, e que já estava alcançando L. na escola.

Fui exigente com a mãe, estabelecemos algumas regras relacionadas ao estudo, alertei sobre os riscos das comparações e mostrei que eu era a responsável pela permanência do filho naquela escola e, portanto, caso L. fizesse qualquer coisa grave e inaceitável pela escola, todos os outros profissionais viriam sobre mim. Penso que a mãe compreendeu bem a situação e mostrou-se bem agradecida. Era uma senhora consciente dos direitos do filho e lutava firmemente por eles. Bastante cansada de lidar com as travessuras infantis de L., a mãe preocupava-se com uma quarta reprovação e provável evasão escolar.

Começamos a trabalhar no dia seguinte. Meu esquema de atendimento é semanal e grupal. Porém, este era um caso de urgência, eu precisava de resultados rápidos. Além disso, o aluno só poderia comparecer em um determinado horário que casava com o meu e que não havia outro aluno. Assim, delineamos atendimento duas vezes por semana e individualmente.

Na primeira sessão, pude constatar a principal queixa das professoras – L. não se responsabilizava pelos próprios atos, mesmo que eu visse seu movimento e estando apenas nós dois na sala. Mostrei-lhe isto e indiquei as implicações, como este comportamento atrapalhava seu rendimento em sala, que impactos teria em sua vida como adulto, os riscos que estava correndo agindo daquela maneira. Observei também sua inteligência, sua motivação em continuar na escola, sua vontade em aderir ao trabalho proposto por mim, sua inconsciência a respeito de suas ações e possibilidades de atuação sobre a opressora realidade que enfrentava. Percebi que o aluno possuía recursos para ter êxito no meu tratamento e na série. Na primeira sessão, usei um jogo de regras complexas e L. compreendeu-as e usou-as adequadamente, mas com bastante ingenuidade. Na segunda sessão mostrei a ele os recursos que dispunha para ultrapassar seus problemas. Jogamos xadrez (que ele havia aprendido na escola anterior) e fui mostrando para ele como concentrar-se, articular ações, usar as regras do jogo em benefício próprio. L. apresentou claramente neste dia, uma falta de atenção que o prejudicava também. Na terceira sessão, utilizamos novamente o xadrez e trabalhamos sua falta de atenção e como eu também era prejudicada pela minha deficiência de foco. Mostrei erros que nós dois cometíamos e assim, apresentei a ele o mundo real no qual todos somos frágeis e como devemos identificar e modificar comportamentos que nos são prejudiciais.

Os atendimentos foram seguindo com tranqüilidade, a mãe se mostrava satisfeita e após duas semanas informou-me que L. não precisava mais que lhe indicassem o momento de realizar suas tarefas em casa. Ele atualizou todos os cadernos que estavam disfuncionais e passou a fazer as tarefas que as professoras pediam. Passei a não ouvir mais seu nome nas reuniões ou nos momentos de intervalos das professoras.

Meu momento de pedir retorno sobre este atendimento estava chegando com o fim do bimestre e seu conselho de classe. Costumo participar dele e pontuar ações minhas com os alunos enquanto as professoras fazem suas avaliações coletivas de cada aluno. Porém, antes da discussão chegar à turma de L., fui convocada para compor outra reunião realizada em paralelo na escola. Desta forma, perdi a avaliação do meu trabalho com L. Por falha minha, não consegui resgatá-la posteriormente.

Aquela reunião para a qual fui convocada estabeleceu obrigatoriamente que eu fizesse um curso justamente no meu dia de atendimento psicopedagógico. Como o comportamento de L. já estava se adequando ao contexto escolar e ele mostrava aproveitamento e rendimento, eu havia reduzido seu tratamento para uma vez por semana. Devido a um feriado, um problema de saúde meu e o tempo de organização do horário do meu curso levei um mês sem atender L.

Três dias antes de retomarmos os atendimentos, L. cometeu uma falha grave. Demonstrou um comportamento inaceitável com uma aluna de sua sala. As professoras ouvidas indicaram que ele estava alterado naquela semana e que elas tentaram resolver as situações em sala de aula, porém a última ultrapassou em muito o aceitável pela escola. Todas as professoras ouvidas disseram que L. começou o ano muito mal, com comportamento péssimo e que, por algum milagre (sic) que não sabiam qual era, ele havia melhorado muito, mas que agora estava voltando ao comportamento anterior.

Exponho este relato para mostrar a força do nosso trabalho na escola. Mesmo com ações clínicas sendo altamente criticadas pelas teóricas da nossa área, elas surtem efeito curativo necessário para alguns alunos. A relação de L. com as professoras e colegas de turma foi totalmente restaurado, sem mudança de personalidade. L. continuava brincando com os colegas de modo saudável, tendo cuidado para não machucá-los devido a sua constituição física e nos momentos em que poderia fazê-lo. Passou a ter mais consciência dos próprios atos e controlar seu comportamento. Este último é o sempre o meu objetivo nos atendimentos.

Alerto veementemente para que mostremos para a comunidade escolar nossos êxitos e participações em soluções, pois somente se falarmos claramente sobre nossa ação as pessoas a perceberão.

Dinâmica laboral de uma escola

Ações de profissionais da escola são moduladas por questões como período do ano, aluno com persistente comportamento característico de indisciplina, nível de descontrole comportamental coletiva nas turmas, quantidade de turmas agitadas na escola, competência de atuação da direção da escola, políticas governamentais, nível de influência parental sobre decisões laborais, nível de agressividade da comunidade escolar, clima organizacional, quantidade e qualidade de apoio laboral.

Dentre todas estas questões, algumas são típicas da escola e destas a que merece menção especial por não ser clara é a referente à sazonalidade – o primeiro item da nossa lista acima. A dinâmica de trabalho em uma escola é bastante agitada e se intensifica conforme o ano passa. A falta de evolução de alguns alunos, as brincadeiras conflituosas intraclasses (as denominadas bagunças) que aumentam conforme os laços relacionais dos alunos se consolidam, o impacto do clima sobre a saúde geral (em Brasília, agosto e setembro são meses de seca e índices de umidade relativo do ar muito baixos), o acúmulo do cansaço dos meses anteriores são fatores prejudicadores do bom desempenho das professoras.

Esta dinâmica de eventos só pode ser observada por quem está dentro deste sistema. Um exemplo é a agitação que toma conta de uma escola quando se aproxima o momento das reuniões de conselho de classe. Há uma série de atividades que mostram a previsibilidade disto. As professoras planejam, no início do ano, módulos de aprendizagem com auxílio dos livros didáticos e dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A cada bimestre há uma programação a cumprir e várias atividades da escola concorrem com ela, às vezes beneficiando seu andamento, às vezes interrompendo-o, dificultando-o e mesmo impedindo-o. O nosso atendimento aos alunos é uma dessas atividades, assim como passeios culturais ou de lazer, eventos cívico-culturais da escola, o comportamento coletivo da turma.

O final do bimestre é a culminância de uma série de atividades que o professor desenvolve em sala de aula. O não cumprimento do planejamento bimestral da docente gera-lhe angústia. Os momentos de avaliação deixam as turmas ansiosas. A sistematização das avaliações elaboradas durante o bimestre e sua compilação devem ser realizadas antes da reunião do conselho de classe.

O preenchimento do documento escolar mais importante também gera sofrimento para as professoras. O diário escolar causa arrepios se as regras não estiverem totalmente claras e disponíveis. Este documento pertence ao Ministério da Educação e seu correto preenchimento é exigência deste órgão. Não é permitido qualquer tipo de rasura e ele é o comprovante de freqüência dos alunos, dos conteúdos aplicados, que os temas transversais estão sendo utilizados, que o profissional trabalhou conforme as políticas referentes ao nível educacional em questão. Há muitas e complexas informações neste documento. Todas as pequenas vidas têm sua evolução anual transcritas para o papel no formato do diário escolar. As secretarias de cada escola são responsáveis pelo correto preenchimento e arquivamento deles e exigem que as docentes façam sua parte com perfeição pois os profissionais da escola serão responsabilizados legalmente caso algo saia errado, cada qual em seu âmbito de atuação.

Durante o conselho de classe grande parte dos dados do diário de classe já está preenchida e nele ocorre a finalização das anotações de cada bimestre. Os diários não podem sair das escolas posto serem documentos ministeriais oficiais. Assim, as professoras despendem horas de trabalho para correção de avaliações, sistematizações, preenchimento de diário além das aulas e de seus necessários planejamentos.

Tudo isto faz com que haja uma tensão aos finais de bimestre. O trabalho do psicólogo escolar deve ser sensível a queixas durante esta época, relevando possíveis exageros, mas não deixando de verificar a necessidade de atendimento. Cuidado também deve haver nas intervenções individuais e coletivas, pois há uma maior quantidade de avaliações neste período e uma interrupção neste momento pode ser altamente prejudicial para o aluno ou turma. O momento de saída de um aluno ou intervenção coletiva deve sempre ser cuidadoso e permitido pela profissional regente, mas intensifica-se neste tempo.

É necessário usarmos nossos conhecimentos de psicologia organizacional para diminuirmos as tensões típicas sazonais de modo a oferecer maior segurança e saúde às profissionais que atendemos reduzindo também o impacto destas tensões sobre o comportamento e o aprendizado dos pequenos. Devemos respeitar o movimento da escola, suas tensões e ritmos; devemos estar atentos/as para que nossa atuação tenha mais chances de êxito e sejam de fato aproveitadas pela instituição e seus entes.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Desenvolvendo Habilidades Sociais em Adolescentes

É comum em nosso país a crença de que o Brasil não produz conhecimento. Crença equivocada e preconceituosa, que indica o ainda prevalente europocentrismo com “pitadas” de americanismo. A produção de conhecimento no Brasil é constante, forte e invejável. Outro problema mostra-se grave e talvez seja o causador da continuidade do pensamento equivocado supracitado. Esse refere-se à dificuldade de publicação já que nesta fase é que são conhecidas as produções, mesmo depois se saber que há algo acontecendo. É através de textos científicos que o reconhecimento do que foi realizado ocorre. Sem publicação nada existe de fato.

Acredito que as dificuldades que o português, enquanto língua, carrega e a cultura brasileira que supervaloriza o texto falado sejam coresponsáveis pelas dificuldades em publicar trabalhos científicos.

Sheila G. Murta ultrapassa essa suposta dificuldade e demonstra o quanto está implicada em fazer conhecer o trabalho que desenvolve e no qual acredita.
Seu livro Programa de Habilidades de Vida para Adolescentes: um manual para aplicação é um documento que os profissionais de prevenção dispõem para pronto uso. A introdução e segundo capítulo intitulado O processo de implementação do programa: cuidando para o programa dar certo apresentam a população que pode ser beneficiada pela proposta, os doenças e/ou transtornos que podem ser prevenidos e tratados através da aplicação, a justificativa para se trabalhar as habilidades de vida com adolescentes e jovens, o cuidado que o profissional deve ter para realizar o programa com efetividade e baixa frustração.

Com objetivo de expandir o conhecimento e presentear as pessoas que trabalham com jovens, a autora baseia sua proposta na Psicologia Positiva, na Teoria da Aprendizagem Social e no conceito de resiliência.

Um dos destaques que podemos aqui fazer é a lista de “habilidades sociais educativas” que o facilitador deve ter para obter sucesso na empreitada proposta. A lista não é simples, mas explicada ponto a ponto mostrando o que significa cada item e porque ele é importante para a realização do trabalho.

O livro de Murta apresenta um total de dezesseis encontros pormenorizadamente preparados para aplicação nos quais se trabalha habilidades sociais como identificação de habilidades pessoais; conscientização de auto-críticas; assertividade; uso dos próprios recursos para solução de problemas reais; administração de estresse; escuta empática; fazer amizades.

A Psicologia Preventiva nos ensina que habilidades sociais e redes sociais são elementos promotores de saúde psíquica e física que provocam a saúde social. Ao pensarmos nas comunidades carentes que se encontram fragilizadas pelos mais diversos motivos, este manual proposto por Murta pode ser considerado como um instrumento promotor de saúde comunitária (ou grupal) já que promove o ensino e treino de habilidades sociais que poderão formar redes sociais efetivas.

O livro tem como segundo subtítulo um resumo de seu conteúdo. Nele é possível perceber a abrangência de possíveis aplicadores, contextos, níveis sociais e efeitos benéficos:
“Um livro para profissionais de saúde, educação e assistência social usarem na comunidade para prevenir problemas emocionais e comportamentais entre adolescentes.”

A psicóloga Sheila Murta apresenta nesta obra sua face prática. É exemplo de profissional que publica pelo benefício que pode trazer a comunidade acadêmica e profissional prática, tendo em vista que a publicação é uma fase da pesquisa científica. Também é uma amostra de que a crença na baixa produção científica brasileira deve ser colocada de lado.

Murta, S.G. (2008). Programa de Habilidades de Vida para Adolescentes: um Manual para Aplicação. Goiânia: Porã Cultural.

sábado, 19 de setembro de 2009

O afeto como vacina anti-drogas

A recuperação de um dependente químico é longo e intenso nas palavras de Maria de Fátima R. Padin, Psicóloga e Coordenadora do Ambulatório de Adolescentes do UNIAD/UNIFESP. Padin apresentou o funcionamento do ambulatório em um workshop promovido pelo Adolescentro – Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção ao Adolescente em Família (Secretaria de Estado de Saúde – DF).

Padin fez questão de mostrar as dificuldades do processo de recuperação e salientou que não há ex-dependente químico, mas dependente em recuperação. As possibilidades de recaída são reais e devem ser monitoradas constantemente. No início da abstinência isto mostra-se com bastante agudeza1.

Ao final do workshop, todos nós questionávamos os custos do tratamento oferecido pelo Ambulatório da UNIAD. Quando finalmente alguém expôs a pergunta, Padin respondeu estar em torno de R$ 250,00... por dia. Ela informa que é difícil dizer o valor do tratamento pois há muitas avaliações em questão e a quantidade de especialistas envolvidos é proporcional aos danos provocados. Assim, quanto mais necessidade de tratamento maior o custo dele posto que diversos exames e terapêuticas serão oferecidas ao dependente químico em recuperação.
"O custo do tratamento sempre depende da avaliação. Que deve ser feita por equipe multidisciplinar (psicólogos-psicodiagnóstico e avaliação da gravidade da Dependência / psiquiatra- verificar comorbidades psiquiatricas/ pedagogas: avaliação acadêmica/ neuropsicólogas: investigação do funcionamento cerebral e avaliação clínica-hebiatra) Somente apos essa avaliação traçamos o plano de tratamento."
(Padin, em comunicação pessoal)
Alguns pacientes contam ainda com Acompanhantes Terapêuticos além do custo com o tratamento no ambulatório.

O incômodo que espero ter provocado nas/nos leitoras/es refere-se ao valor da prevenção. Os custos do tratamento foram até agora apresentados somente sob seu ângulo financeiro. E neste ponto o custo da prevenção que evita os danos causados pelo vício são ínfimos. Devemos contabilizar ainda os custos emocionais, afetivos, relacionais, familiares, laborais, patrimoniais, educacionais, orgânicos que a dependência química provoca. O impacto de um problema como esse em uma família é devastador conforme Padin nos relatou. A UNIAD conduz uma pesquisa nacional sobre esses impactos.

O esforço despendido para recuperação é imenso e envolve o próprio dependente, seus familiares, seu/sua companheiro/a e amigos/as.

Mais simples, muito mais barato e mais eficaz é o trabalho preventivo.

Como espaço privilegiado para a prevenção, a escola mostra-se mais uma vez como instituição de ponta para a realização deste trabalho. E nós, psicólogas/os escolares, somos as principais atrizes deste tipo de prevenção juntamente com as orientadoras educacionais.

É justo esclarecer que palestras sobre os perigos que as drogas trazem não são o bastante para evitar o uso, o consumo e o abuso de substâncias psicoativas. A iniciação às drogas acontece geralmente no ambiente familiar pelas mãos dos próprios pais e através do álcool.

Por este motivo, a orientação das famílias quanto a comportamentos, relacionamentos e eventos propícios ao estabelecimento de vício é essencial. Trabalhar a família particular ou coletivamente é necessário como prevenção efetiva. Dentro desta orientação deve haver informação sobre as substâncias psicoativas e sintomas do uso2; ensino de trocas afetivas não erotizadas3; comunicação efetiva com base na confiabilidade; estabelecimento e manutenção de momento compartilhado de ações; fortalecimento da família quanto ao seu papel educativo e afetivo3.

Esclarecemos que as famílias estão perdidas quanto à forma de educar seus filhos. Demonstram consciência de que o castigo físico não é adequado, porém não sabem estabelecer limites e restrições que demarquem a importância e a seriedade das regras. Conhecem o poder do Conselho Tutelar, respeitam sua ação e buscam-na para atuar junto às crianças. Eu, pessoalmente, sou procurada pelos pais que se sentem perdidos na educação dos pequenos. Neste contexto, nossa atuação dentro das escolas mostra-se essencialmente preventiva e, em alguns momentos, emergencial curativa.

O ensino da afetividade na comunicação e no contato físico intrafamiliar é básico para a prevenção do consumo de substâncias psicoativas e da busca de relacionamentos afetivos prejudiciais. A idéia é que se a criança e o adolescente têm sanadas suas necessidades afetivas, não procurará fora do lar relações que a satisfaçam. Principalmente, se há falha em algum sentido, a comunicação intrafamiliar não pode faltar. A/o psicóloga/o como agente de relações humanas privilegiado deve se colocar na posição de resgatar a comunicação e confiabilidade familiar. Aprofundamento neste sentido pode ser obtido em Bezerra & Linhares (2003).

E para os casos em que a família se nega a receber atendimento, o Conselho Tutelar deverá ser acionado. Nossa parceria com o CT costuma ser bem sucedida.

A política pública preventiva brasileira chega a ser ridícula. Leis que vinculem o funcionamento das escolas à presença do psicólogo escolar propiciarão uma queda nos custos do resgate dos consumidores de drogas, por exemplo. Trazemos neste espaço, os benefícios que representamos ao contexto escolar. Precisamos pressionar o poder público, não por corporativismo, mas como fator de saúde pública.

1.http://www.uniad.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=577&Itemid=155 III Semana do Adolescentro, em 19 de setembro de 2009.

2. Nicastri, S. (2003). Drogas: classificação e efeitos no organismo. Em: Secretaria de Estado de Saúde do DF. Adolescentes. Pensando Juntos. Manual do Facilitador.

3. Bezerra, V.C. & Linhares, A.C.B. (2003). A família, o adolescente e o uso de drogas. Em: Secretaria de Estado de Saúde do DF. Adolescentes. Pensando Juntos. Manual do Facilitador.

sábado, 5 de setembro de 2009

Redes Sociais

O estudo das redes sociais apresentou-me conhecimentos que os leigos intuem e que são extremamente importantes para a saúde mental. Com redes sociais queremos dizer que:

“as fronteiras do sistema significativo do indivíduo não se limitam à família nuclear ou extensa, mas incluem todo o conjunto de vínculos interpessoais do sujeito: família, amigos, relações de trabalho, de estudo, de inserção comunitária e de práticas sociais.” (p. 37)

Em Psicologia Ambiental estudamos planejamento urbano e, no escopo deste, a segurança. A principal informação que esta área da ciência traz é que uma rua é segura quando está sendo usada pelas pessoas e não quando há policiais fazendo-lhe a ronda. Assim, as pessoas na rua, ocupando-a, usando o espaço público é que efetivamente instala a segurança em um local, não sendo apenas uma sensação.

De maneira similar, quanto mais pessoas em nossas vidas, mais estamos seguros pessoal, social e psicologicamente. Para isso, precisamos nos fazer presentes nas vidas das pessoas e mostrar-lhes o quanto poderemos fazer falta. A busca mútua entre as pessoas parece ser uma vacina para nossa atual “histeria”: a depressão.

A compreensão de que cada pessoa pode atuar em funções diferentes também é bastante útil para não sobrecarregarmos as expectativas que temos. Nós e os outros nos colocamos em posições tais que devem ser respeitadas e utilizadas com cuidado. Esperar que uma pessoa atue de forma diferenciada que aquela que costuma atuar pode gerar frustração, desentendimentos desnecessários e rupturas. Na verdade, tal atitude pode ser reajustada quando se compreende os diferentes papéis que as pessoas têm nas nossas vidas, e que aquele comportamento inesperado não indica desinteresse.

As redes sociais têm como características estruturais:
Tamanho – números de pessoas na rede;
Densidade – conexão entre membros independentes do informante;
Distribuição – quantidade de indivíduos em cada grupo em estudo (família, amigos, comunidade, escola, trabalho, grupos desportistas – observadas as características de cada cliente);
Dispersão – distância entre os elementos da rede;
homo/heterogeneidade – diferenças etárias e sócio-culturais entre os componentes da rede.1

Os elementos da rede social podem ter diversas funções. Estas por sua vez podem ser exclusivas ou associadas. As funções são:
companhia social;
apoio social;
apoio emocional;
guia cognitivo e conselhos;
regulação social;
ajuda material e de serviços;
acesso a novos contatos.

Uma pessoa pode ser companhia social (acompanha a festas) e apoio emocional (nos casos em que há crises, o amigo mostra-se presente). Uma amiga pode ser apenas guia cognitiva e de conselhos, mas não ser boa em ajuda material devido a sua estrutura familiar super exigente e a falta de tempo.

Características e funções da rede social de um cliente (aluno, professor, pai de aluno, diretor da escola, auxiliar de serviços gerais) podem ser analisadas objetivando detectar melhores adaptações, explorações e ajustes para ultrapassar dificuldades psicológicas. A possibilidade de usar estas informações torna-se um importante instrumento clínico.

Solicito que busquem mais informações em

Sluzki, C.E. (1997). A rede social: proposições gerais. Em: C.E. Sluzki. A rede social na prática sistêmica: alternativas terapêuticas. São Paulo: Casa do Psicólogo.

posto que este nosso texto traz apenas um aperitivo do que realmente se conhece e instrumentaliza de redes sociais. Como sempre, trago para os leitores deste blog novidades para mim que considero úteis para os psicólogos escolares.