terça-feira, 28 de setembro de 2010

9000

Mais uma vez, marcando a data de chegada a mais um milhar, escrevo agradecendo à/aos visitadore/as, amigo/as e frequentadore/as.

Um amigo me parabenizou no domingo por já contarmos com 8900 e poucos acessos. Com a correria do trabalho, somente hoje pude acessar o blog para verificar a marca.

Como sempre, deixo claro a minha alegria em perceber que há pessoas interessadas em Psicologia Escolar. Mais do que isto, há interesse em ler produções sobre a aplicação da ciência psicológica na escola, mesmo que os textos não sejam cientificamente tratados.

Espero prosseguir contribuindo com estudantes de psicologia, profissionais da área e acadêmicos que buscam novidades ou aplicação prática para as teorias psicológicas.

Informo ainda sobre a minha disponibilidade para discussões, críticas e sugestões de temas.

Aos amigos que sempre são citados aqui desde a criação deste blog, alerto para o meu compromisso de festejar o próximo milhar: 10.000. O convite-convocação já está lançado! E o Carlos, como autor da ideia, deverá ser o primeiro a chegar na comemoração.

Obrigada pela frequencia, questões, incentivo e amizade!
Vicenza

sábado, 11 de setembro de 2010

Teste de inteligência: Matrizes Progressivas Coloridas de Raven

Os testes psicológicos são um dos instrumentos que mais caracterizam a nossa prática perante a sociedade. Os psicólogos são conhecidos e descritos pela ação em consultórios particulares, nas terapias, e na mensuração ou caracterização de elementos idiossincráticos relativo a populações. Somos reconhecidos pelas produções nessas duas vertentes do nosso trabalho.

É por esse motivo que este texto se torna delicado. Particularmente, não sou afeta à aplicação de testes. Creio que nós, humanos somos muito mais capazes de mensurar qualquer característica que desejarmos. Talvez seja óbvio esta informação. Assim, os testes viriam ratificar uma opinião profissional de forma a fortificá-la. Mas este argumento não me parece ter sentido.

Sabemos, através do estudo da história destes instrumentos psicológicos, que os primeiros testes inventados foram os de inteligência e que surgiram com o objetivo de classificar crianças de forma a facilitar o ensino. Seu crescimento ocorreu devido à urgência em se treinar soldados para a guerra sendo usados para excluir indivíduos com baixa capacidade intelectual e que aumentavam o tempo e o custo do treinamento.

Pois bem, lanço aqui uma questão prática quanto a utilização de testes de inteligência no Brasil. Usamos, aqui no Distrito Federal, no âmbito da Secretaria de Educação, nas escolas públicas, o teste chamado Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – ou o teste Raven de inteligência.

O senso comum nos informa que as crianças a cada geração estão mais espertas. Nos assustamos com o uso de palavras e expressões avançadas para a idade em nossas crianças. Qual seria a validade atual deste instrumento na aplicação deste teste hoje? Será que o resultado de percentil 50% de um aluno corresponde realmente a média de inteligência da população à qual esta criança pertence? (Verificar Efeito Fynn)

A outra questão que faço é respondida com muita tranqüilidade por especialistas da área de medidas psicológicas: o traço inteligência em nossa cultura é a mesma de outros lugares do mundo? E, em sendo o mesmo, pode ser atingido da mesma forma? É certo que nossa base cultural valorizada social e educacionalmente é a mesma – a cultura greco-romana. Mas a inteligência brasileira não é a mesma européia ou americana, certo?

Minhas questões tomam por base conhecimentos de senso comum, mas também tem fundamento nos conceitos das medidas psicológicas: a fidedignidade do fator a ser medido, a validade do instrumento e a padronização do mesmo. Afirmo aqui que o teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven está ultrapassado, não mais pode ser usado para referenciar o nível mental de nossos alunos.

Meu argumento prático, que se une ao argumento científico acima mencionado, foi a aplicação deste teste em um aluno que apresenta um atraso em seu desenvolvimento intelectual. Este atraso refere-se principalmente a sua falta de atenção, motivo pelo qual ele foi encaminhado ao nosso serviço. Sua falta de atenção provavelmente tem sua origem na superproteção do pai que tem seu primeiro filho com deficiência auditiva e que encontra neste segundo filho o seu ideal em desenvolvimento. A exigência imposta pela mãe não encontra resposta no filho que, indulgente, se apóia no pai e permanece sem crescimento e responsabilidade, provocando também baixo rendimento escolar. Vários são os sintomas psicológicos que este pai gera em seu filho, inconscientemente, é claro. Gostaria de destacar sua insegurança que o impede de oferecer uma resposta afirmativa para perguntas simples. Nosso aluno não tem certeza nem do que está diante de seus olhos ou tem medo demais de errar e ser criticado por isso. Nossa aplicação do teste em pauta resultou inteligência média neste aluno. Todos os nossos outros instrumentos – observação de interação entre pares, desempenho acadêmico, desempenho em jogos lúdicos entre pares e com adulto (com ou sem mediação), avaliação clínica indicaram uma inteligência abaixo da média.

Que respaldo nos dá este teste? Se ele não oferece este mínimo, para que serve então?

Buscando referências para as questões aqui lançadas encontrei o artigo Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Escala Especial: Normas para Porto Alegre, RS de Denise Ruschel Bandeira, Irai Cristina Boccato Alves, Angélica Elisa Giacomel, Luciano Lorenzatto, in Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 3, p. 479-486, set./dez. 2004. Disponibilizado em http://www.scielo.br/pdf/pe/v9n3/v9n3a15.pdf, 11/09/2010.