sábado, 19 de setembro de 2009

O afeto como vacina anti-drogas

A recuperação de um dependente químico é longo e intenso nas palavras de Maria de Fátima R. Padin, Psicóloga e Coordenadora do Ambulatório de Adolescentes do UNIAD/UNIFESP. Padin apresentou o funcionamento do ambulatório em um workshop promovido pelo Adolescentro – Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção ao Adolescente em Família (Secretaria de Estado de Saúde – DF).

Padin fez questão de mostrar as dificuldades do processo de recuperação e salientou que não há ex-dependente químico, mas dependente em recuperação. As possibilidades de recaída são reais e devem ser monitoradas constantemente. No início da abstinência isto mostra-se com bastante agudeza1.

Ao final do workshop, todos nós questionávamos os custos do tratamento oferecido pelo Ambulatório da UNIAD. Quando finalmente alguém expôs a pergunta, Padin respondeu estar em torno de R$ 250,00... por dia. Ela informa que é difícil dizer o valor do tratamento pois há muitas avaliações em questão e a quantidade de especialistas envolvidos é proporcional aos danos provocados. Assim, quanto mais necessidade de tratamento maior o custo dele posto que diversos exames e terapêuticas serão oferecidas ao dependente químico em recuperação.
"O custo do tratamento sempre depende da avaliação. Que deve ser feita por equipe multidisciplinar (psicólogos-psicodiagnóstico e avaliação da gravidade da Dependência / psiquiatra- verificar comorbidades psiquiatricas/ pedagogas: avaliação acadêmica/ neuropsicólogas: investigação do funcionamento cerebral e avaliação clínica-hebiatra) Somente apos essa avaliação traçamos o plano de tratamento."
(Padin, em comunicação pessoal)
Alguns pacientes contam ainda com Acompanhantes Terapêuticos além do custo com o tratamento no ambulatório.

O incômodo que espero ter provocado nas/nos leitoras/es refere-se ao valor da prevenção. Os custos do tratamento foram até agora apresentados somente sob seu ângulo financeiro. E neste ponto o custo da prevenção que evita os danos causados pelo vício são ínfimos. Devemos contabilizar ainda os custos emocionais, afetivos, relacionais, familiares, laborais, patrimoniais, educacionais, orgânicos que a dependência química provoca. O impacto de um problema como esse em uma família é devastador conforme Padin nos relatou. A UNIAD conduz uma pesquisa nacional sobre esses impactos.

O esforço despendido para recuperação é imenso e envolve o próprio dependente, seus familiares, seu/sua companheiro/a e amigos/as.

Mais simples, muito mais barato e mais eficaz é o trabalho preventivo.

Como espaço privilegiado para a prevenção, a escola mostra-se mais uma vez como instituição de ponta para a realização deste trabalho. E nós, psicólogas/os escolares, somos as principais atrizes deste tipo de prevenção juntamente com as orientadoras educacionais.

É justo esclarecer que palestras sobre os perigos que as drogas trazem não são o bastante para evitar o uso, o consumo e o abuso de substâncias psicoativas. A iniciação às drogas acontece geralmente no ambiente familiar pelas mãos dos próprios pais e através do álcool.

Por este motivo, a orientação das famílias quanto a comportamentos, relacionamentos e eventos propícios ao estabelecimento de vício é essencial. Trabalhar a família particular ou coletivamente é necessário como prevenção efetiva. Dentro desta orientação deve haver informação sobre as substâncias psicoativas e sintomas do uso2; ensino de trocas afetivas não erotizadas3; comunicação efetiva com base na confiabilidade; estabelecimento e manutenção de momento compartilhado de ações; fortalecimento da família quanto ao seu papel educativo e afetivo3.

Esclarecemos que as famílias estão perdidas quanto à forma de educar seus filhos. Demonstram consciência de que o castigo físico não é adequado, porém não sabem estabelecer limites e restrições que demarquem a importância e a seriedade das regras. Conhecem o poder do Conselho Tutelar, respeitam sua ação e buscam-na para atuar junto às crianças. Eu, pessoalmente, sou procurada pelos pais que se sentem perdidos na educação dos pequenos. Neste contexto, nossa atuação dentro das escolas mostra-se essencialmente preventiva e, em alguns momentos, emergencial curativa.

O ensino da afetividade na comunicação e no contato físico intrafamiliar é básico para a prevenção do consumo de substâncias psicoativas e da busca de relacionamentos afetivos prejudiciais. A idéia é que se a criança e o adolescente têm sanadas suas necessidades afetivas, não procurará fora do lar relações que a satisfaçam. Principalmente, se há falha em algum sentido, a comunicação intrafamiliar não pode faltar. A/o psicóloga/o como agente de relações humanas privilegiado deve se colocar na posição de resgatar a comunicação e confiabilidade familiar. Aprofundamento neste sentido pode ser obtido em Bezerra & Linhares (2003).

E para os casos em que a família se nega a receber atendimento, o Conselho Tutelar deverá ser acionado. Nossa parceria com o CT costuma ser bem sucedida.

A política pública preventiva brasileira chega a ser ridícula. Leis que vinculem o funcionamento das escolas à presença do psicólogo escolar propiciarão uma queda nos custos do resgate dos consumidores de drogas, por exemplo. Trazemos neste espaço, os benefícios que representamos ao contexto escolar. Precisamos pressionar o poder público, não por corporativismo, mas como fator de saúde pública.

1.http://www.uniad.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=577&Itemid=155 III Semana do Adolescentro, em 19 de setembro de 2009.

2. Nicastri, S. (2003). Drogas: classificação e efeitos no organismo. Em: Secretaria de Estado de Saúde do DF. Adolescentes. Pensando Juntos. Manual do Facilitador.

3. Bezerra, V.C. & Linhares, A.C.B. (2003). A família, o adolescente e o uso de drogas. Em: Secretaria de Estado de Saúde do DF. Adolescentes. Pensando Juntos. Manual do Facilitador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua mensagem ajudará a melhorar este sítio e nosso desempenho profissional.
Grata por comentar!