quarta-feira, 16 de março de 2011

12.000

Meus queridos e minhas queridas leitoras,
pensem sempre que me sinto honrada pela visita, indicação e leitura de vocês neste blog.
Sinto muito que a minha atualização esteja demorando ultimamente.
Este é o costumeiro marco de mais um milhar alcançado.
Obrigada pela sua visita e apreço,
Vicenza Capone

Relação professor/a aluno/a

O efeito psicológico do contato entre duas pessoas é entendido como empatia. Pode ocorrer a simpatia e a antipatia. Em geral, isso é bem aceito pelas pessoas e bem entendido por pessoas que acabam de se conhecer. As relações evoluem ou involuem em direção a simpatia e, como resultados disso, as pessoas se aproximam ou se afastam, respectivamente.

Na escola, espera-se que as relações entre professores e alunos sempre evoluam para uma ligação mais firme, respeitosa e positiva. As professoras parecem ser formadas com essa premissa. E quando isso ocorre, a satisfação e a alegria florescem no ambiente.

Porém, como em todas as relações humanas, é possível que o contato inicial entre um professor e um aluno cause malestar. Ou, ainda, que a relação inicialmente boa se transforme em uma grande antipatia. Sabe-se de casos em que surgem agressões morais e físicas. Infelizmente, esse tipo de ocorrência não é bem aceita pela sociedade, pela comunidade escolar e, pior, pela própria professora.

Entendida como a relação humana mais próxima da maternidade, a docência não pode gerar sentimentos ruins. Há um conflito interno quando se pensa que uma professora não gosta de sua aluna. A simples leitura dessa frase motiva um pensamento de contravenção. Como a própria professora está na sociedade e participa da comunidade escolar, ela também pensa e sente desta forma, entrando em conflito com seus ideais e reais sentimentos. Há situações em que o docente nega seu sentimento transformando sua ação em fonte de angústia, dificultando seu trabalho.

Todos os profissionais encontram dificuldades em suas atuações e enfrentam-nas com mais ou menos sofrimento. No caso aqui discutido, o real sentimento se embate com um empecilho moral.

É neste momento que o papel do psicólogo escolar ganha espaço. Identificar e tranqüilizar o professor quanto aos seus sentimentos reais e as formas de lidar com ele são parte das nossas ações possíveis.

Mesmo quando a professora não fala abertamente de sua dificuldade emocional com determinada criança, expor a possibilidade e a naturalidade de antipatia entre as pessoas alivia a angústia experimentada pela profissional. Traçar um paralelo entre as relações escolares e as mundanas facilita esse processo de aceitação do próprio sentimento, posto sua normalidade. Apresentar ao docente a possibilidade dessa emoção acontecer evitando confrontação também reduz o sofrimento.

Assim, expõe-se que é possível que o adulto não goste da criança por despertar nele emoções ruins ou ligadas a eventos ruins. A lembrança de alguém semelhante, o movimento similar a alguém, a voz irritante, o jeito implicante, o movimento agressivo são elementos comuns nas relações humanas e, portanto, entre os agentes na escola. É necessário mostrar ao professor que o sentimento deve ser encarado, nunca escamoteado. Ao identificá-lo, é possível atuar sobre ele. Uma vez identificada a emoção ruim, é essencial situar-se enquanto o profissional da relação. É exigido, então, do adulto uma atitude ativa. Assim, mesmo não gostando de seu aluno ou tendo dificuldades com sua forma de agir, à professora é exigido ensinar-lhe como aos demais.

É neste ponto que encontra-se a flor de nossa atuação de psicólogos escolares. A conscientização de sua dor, de seu papel social e de sua função essencialmente transformadora possibilita à professora saltar do impedimento à retomada de atuação. Gera a visão do problema de um novo ângulo. Uma posição sem culpas, sem autorecriminação permite a liberação da profissional.

Seja qual for a personalidade da professora e seu método preferido de ensino, constitui-se um alívio saber que pode sentir algo ruim por sua aluna. Tal sentimento não constitui em si nada de errado, nem impede a execução de seu trabalho. Penso que isso não é tratado nos cursos de formação de professores. O que é uma pena!

É provável que isto seja mais uma falha da nossa ciência psicológica, pois a disciplina universitária Psicologia da Educação não contempla tal conteúdo. De modo diverso, nos cursos que tenho conhecimento, o conteúdo desta matéria envolve as teorias do desenvolvimento e da aprendizagem. Esses conhecimentos nem sempre são relacionados à prática de sala de aula pelos professores universitários. Aos alunos é deixada a obrigação de fazer a ligação com a realidade. Sabemos o quanto isso é danoso para a educação.

Muitos problemas de aprendizagem têm sua origem em dificuldades, malentendidos e crises na relação professor aluno. Muitos destes poderiam ser prevenidos pelo esclarecimento acima durante a formação docente.

A paixão entre professores e alunos é comum também. Sua má interpretação também gera grandes problemas para o profissional e para a instituição educacional. A simpatia exacerbada não costuma ser discutida pela classe docente, assim como pela psicologia escolar. Falar sobre o grande desejo que determinada/o aluna/o gera em um/a professor/a é inesperado, impróprio e imoral. Podemos considerá-lo um verdadeiro tabu.

Falar sobre simpatia e antipatia para professores provoca grande desconforto. Caso tenham oportunidade, não deixem de realizar a experiência de falar desses dois extremos para um grupo de professoras. Vocês notarão como elas se remexem nas cadeiras, bebem água, comentam, meneiam negativamente a cabeça. Com sorte, as ouvintes comentarão o tema com desprezo ou agressividade.

Encontramos aqui mais um tabu da sexualidade humana. O desejo que o outro desperta em mim sendo mal interpretado e convertido em impedimento. Minha proposta é justamente transformar a energia que este desejo desperta para potencializar o ensino. Uma vez identificada a fonte da simpatia ou da antipatia exacerbada, é possível tomar-lhe a força usando-a em prol da educação. Ou pelo menos impedir-lhe os efeitos danosos com a sua aceitação.