Jogos são simuladores de situações que nos proporcionam vivenciar aspectos da realidade e de nossa personalidade sem riscos para nossa integridade física, psíquica ou emocional. Muitas vezes os limites entre realidade e simulação são desrespeitados pelos jogadores. Isto, entretanto, não invalida a função e os benefícios que os jogos nos oferecem.
Utilizo jogos com meus alunos e alunas para avaliá-los/as e para trabalhar suas fragilidades. Durante as partidas, as crianças agem livremente e se sentem seguras. Nossas intervenções facilitam esta sensação. Quando o rapport está estabelecido é possível mostrar-lhe que comportamentos podem estar influenciando o baixo rendimento escolar, a falta de atenção, os problemas de comportamento, alguns problemas de fala, entre outras questões. Estes sintomas são os mais frequentes que enfrentamos.
As possibilidades de erros, as negociações de regras, as situações imprevistas, as quebras de acordos, os logros, as fraudes que uma partida proporciona ocorrem apenas em uma mesa real. Elas fazem com que as crianças exponham como agem. É no momento em que se detecta uma ação problemática que alertamos a criança, conscientizando-a do que realmente ocorre. A partir deste momento pode acontecer a mudança de comportamento.
Muitas vezes, os pais, irmãos, primos, amigos de uma criança corrigem suas atitudes e conceitos errôneos durante partidas de jogos ou fora deles. A ação terapêutica, no entanto, está ligada a nossa atuação profissional, e pode ser utilizada como instrumento na clínica.
Muito do desenvolvimento cognitivo que os leigos percebem estar ligado aos jogos advém desta possibilidade que os jogos trazem. Mas ela está mais ligadas às relações sociais, suas funções e impactos do que dos jogos em si.
A prática de jogar no computador reduz muito a riqueza que estes simuladores propiciam por cortar as possibilidades de erros, negociações, dilação de tempo e as já citadas. A substituição da atuação no mundo (subir em árvores, pular corda e amarelinha, pique-pega) pelo uso de computadores, internet e playstation é condenável exatamente devido a restrição de convivência social que impõem. Há desenvolvimento sim, mas é restrito, limitado, proporciona indivíduos ensimesmados, autocentrados, que se satisfazem com suas relações homem-máquina. Solidão, individualismo, intolerância.
No computador, não é possível errar, lograr, negociar, refazer as regras. Tudo é rígido é pré-estabelecido. Não há criatividade, espontaneidade, cooperação, tolerância, amizade, companheirismo. Esses valores não são valorizados nos jogos de máquinas mesmo se há outras pessoas operando, como na internet.
Os jogos eletrônicos são úteis, seguros, educativos. Mas estão longe de ser substitutos da vida saudável das ruas e das mesas que, com seus perigos, nos ensinam os riscos reais que a vida com os outros nos trazem. Estes últimos nos ensinam a como lidar com as pessoas, o que e quem devemos evitar e/ou aceitar.
Exposição de experiências em Psicologia Escolar, espaço para discussões, informações para estudantes de psicologia sobre a realidade atual, questões típicas da área, trocas entre profissionais em atuação e acadêmicos.
sábado, 27 de novembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
Dez mil acessos
Quando este blog completou 1.000 acessos, fiz questão de marcar a data com um pequenino texto. Neste eu agradecia às pessoas que me reforçavam em minha tarefa de registrar minha produção intelectual. De lá para cá, todos os milhares foram comemorados com uma postagem entitulada com o devido número. Este novo milhar é bastante significativo para mim, assim como o foi o primeiro.
A escrita é, para mim, uma necessidade. Principalmente, em minha atividade laboral, preciso escrever porque não disponho de colegas psicólogas escolares tão próximas ao ponto de discutir as idéias que me vão surgindo. Meus amigos mais próximos estão sempre ouvindo estas minhas idéias, minhas angústias, meus limites, as barreiras que a psicologia nos impõe, as dificuldades que a instituição em que atuo me apresenta.
Por perceber a solidão típica da psicologia, meu amigo Jorge Pimentel me sugeriu escrever um livro. Minha colega de faculdade e amiga, Ana Karina de-Farias, escritora de vários títulos em Psicologia Comportamental, indicou-me a importância de profissionais práticos como eu teorizar sobre suas áreas de atuação. Disponibilizou-se para escrevermos juntas um livro sobre Psicologia Escolar. Anos depois da primeira sugestão, o mesmo Jorge mostrou-me como seria fácil iniciar um livro com um blog.
Pois aqui estamos, após um ano e meio da criação deste blog, atingindo 10.000 acessos.
Minha frequencia de postagens caiu um pouco, mas tenho motivos laborais que explicam isto. Temos escrito muitos relatórios sobre nossos pequenos clientes, seus pais e professores. Isto esvazia um pouco a elaboração intelectual teórica. A intensidade de trabalho prossegue. A quantidade de livros lidos como apoio à prática da psicologia tem aumentado conforme vocês podem conferir na postagem homônima. A novidade que trago agora é que este blog se transformará em livro, conforme a sugestão dos meus amigos queridos já citados.
Meus agradecimentos não são palavras vazias. Agradeço imensamente às pessoas que participaram da elaboração deste blog em todas as suas fases:
Jorge Pimentel,
Nilvania Faria,
Cleide Souza,
Carlos Adamuz,
Lana Vieira,
Veida Capone,
Cristina Ramos,
Ana Karina de-Farias,
Valentina Fonseca,
Alessandra Sousa,
meus alunos e minhas alunas, professoras que atendi, pais provocadores, leitores/as, ex-alunos.
Conforme prometido ao Carlos, a festa de comemoração acontecerá na terça-feira, às 19 horas, no velho e bom Acarajé da Rosa da Asa Norte. Todos estão convidados, exceto os listados acima que são convocados.
Obrigada!
Vicenza Capone
A escrita é, para mim, uma necessidade. Principalmente, em minha atividade laboral, preciso escrever porque não disponho de colegas psicólogas escolares tão próximas ao ponto de discutir as idéias que me vão surgindo. Meus amigos mais próximos estão sempre ouvindo estas minhas idéias, minhas angústias, meus limites, as barreiras que a psicologia nos impõe, as dificuldades que a instituição em que atuo me apresenta.
Por perceber a solidão típica da psicologia, meu amigo Jorge Pimentel me sugeriu escrever um livro. Minha colega de faculdade e amiga, Ana Karina de-Farias, escritora de vários títulos em Psicologia Comportamental, indicou-me a importância de profissionais práticos como eu teorizar sobre suas áreas de atuação. Disponibilizou-se para escrevermos juntas um livro sobre Psicologia Escolar. Anos depois da primeira sugestão, o mesmo Jorge mostrou-me como seria fácil iniciar um livro com um blog.
Pois aqui estamos, após um ano e meio da criação deste blog, atingindo 10.000 acessos.
Minha frequencia de postagens caiu um pouco, mas tenho motivos laborais que explicam isto. Temos escrito muitos relatórios sobre nossos pequenos clientes, seus pais e professores. Isto esvazia um pouco a elaboração intelectual teórica. A intensidade de trabalho prossegue. A quantidade de livros lidos como apoio à prática da psicologia tem aumentado conforme vocês podem conferir na postagem homônima. A novidade que trago agora é que este blog se transformará em livro, conforme a sugestão dos meus amigos queridos já citados.
Meus agradecimentos não são palavras vazias. Agradeço imensamente às pessoas que participaram da elaboração deste blog em todas as suas fases:
Jorge Pimentel,
Nilvania Faria,
Cleide Souza,
Carlos Adamuz,
Lana Vieira,
Veida Capone,
Cristina Ramos,
Ana Karina de-Farias,
Valentina Fonseca,
Alessandra Sousa,
meus alunos e minhas alunas, professoras que atendi, pais provocadores, leitores/as, ex-alunos.
Conforme prometido ao Carlos, a festa de comemoração acontecerá na terça-feira, às 19 horas, no velho e bom Acarajé da Rosa da Asa Norte. Todos estão convidados, exceto os listados acima que são convocados.
Obrigada!
Vicenza Capone
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Ainda sobre o autismo
Os transtornos globais do desenvolvimento (autismo, síndrome de Asperger, síndrome de Rett, síndrome de Klinefelter) se mostram de modos diferentes em cada indivíduo. Ultimamente, o número de casos diagnosticados tem aumentado muito, possibilitando o pensamento de que há uma "epidemia". Na verdade, os especialistas apontam para uma maior sensibilidade por parte dos profissionais para identificar o transtorno. Porém, ainda há despreparo para identificar os sintomas por parte da maioria dos profissionais.
Ouço de mães e pais a dificuldade em encontrar um diagnóstico para seus filhos/as. Há muitas nuances relacionadas a este problema em particular. Um deles é o desconhecimento dos sinais que indicam problemas na criança por parte de profissionais da saúde. Há estudos que apontam indícios já na primeira infância. O Instrumento de Vigilância Precoce do Autismo: manual e vídeo de C. Lampreia e M.M.R. Lima, já resenhado aqui, apresenta os comportamentos que crianças exibem e que estão ausentes em indivíduos autistas. Infelizmente, não é sempre que encontramos pediatras interessados em transtornos deste gênero. Além disso, os sinais são sutis e podem ser percebidos como temporários.
Outra ordem de questões se relaciona a aceitação do problema. Há famílias que ignoram o diagnóstico. Não percebem comportamentos estranhos, anti-sociais, descontextualizados em seus pequenos. Justificam-nos frente aos questionamentos de amigos e parentes próximos. Lidam com os sinais autísticos como se fossem normais. De fato o são em seu filho, mas não são esperados ou aceitos socialmente. Esta ação dos genitores é justificada pela recusa em ver o filho ou a filha com anormalidades. Ou ainda, recusam-se a admitir um problema.
Há relatos de que bebês autistas são muito quietos. Os pais dos alunos que diagnostiquei apontam para pouco choro e boa adaptação na primeira fase da vida. Na verdade, os sinais podem ser interpretados como baixo envolvimento social, já que o choro é uma forma de comunicação e a peraltice, uma busca de conhecimento sobre o mundo. Além disso, o apego à rotina típico nas pessoas que apresentam transtornos globais do desenvolvimento (TGD) reduz o efeito devastador do problema quando respeitada pelos demais. Os pais também se acostumam com a rotina e a aceitam. Essa "tranquilidade" aumenta o tempo para se chegar a um tratamento adequado. Quanto mais cedo há um diagnóstico, mais rapidamente pode-se ter efeitos benéficos observáveis.
A universalização da educação, com obrigatoriedade de frequencia institucional, possibilita que as crianças entrem em contato com profissionais com outra formação, além da médica. Esta possibilidade permite que o estranhamento se concretize e se fortaleça, principalmente porque as/os educadoras/es comparam os comportamentos de seus alunos/as. Além disso, no caso do rendimento escolar não ser compatível com a turma, é obrigação das/dos docentes indicarem isto aos pais e a outras instâncias educacionais. Muitas vezes é este o momento em que o diagnóstico acontece.
Aqui exponho nossa responsabilidade enquanto psicóloga/os escolares. Precisamos ter noções de psicopatologia para identificarmos sinais autísticos e também devemos saber como anunciar a nossa suspeita de um diagnóstico tão difícil.
Os TGD não são considerados doenças e não há cura. A sociedade tem essa idéia de autismo. E ouvir que um filho pode ter esse diagnóstico não é nada fácil. Várias fantasias caem por terra. Os sonhos não são mais possíveis. As ambições com a criança devem ser reconstruídas. A simples suspeita de que a/o filha/o tem TGD pode levar a depressão, sensações de incompetência, pensamentos suicidas. Temos observado famílias se desintegrarem, casamentos serem desfeitos e afastamento paternos por dificuldades em aceitar ou se imaginar como genitor de uma criança com TGD.
A psicologia trata estas reações como o luto do filho saudável. Uma mãe me procurou, certa vez, e perguntou se esse luto tem prazo. Que tristeza! Não, não há. Não consigo imaginar como seria perder a minha mãe. Penso que choraria pelo resto da vida, sempre que me lembrasse dela depois que isso acontecesse. Talvez algumas pessoas sintam isto em relação a seus filhos/as com TGD. Elas não devem ser julgadas por se sentirem assim. Mais uma vez devemos ser empáticos/as, nos aproximarmos o máximo possível e acolhê-las em sua dor, em seu luto. A dor e o luto não são mensuráveis e não têm tempo. Faz parte do acolhimento dizer isto aos pais e às mães. Informar que eles podem chorar sempre por sua criança não ser como as demais, por não ter problemas que a maioria tem, que seu desenvolvimento acontece, mas de forma diferente. Eles não devem sentir culpa por ter estes sentimentos. Este acolhimento e posterior aceitação da emoção negativa possibilita um fortalecimento do/a cuidador/a da criança.
É extremamente importante observar cuidados ao se comunicar a suspeita e a definição do diagnóstico. Neste momento, é imperioso prever a dor dos genitores e acolhê-la. Não há como evitar tal emoção. Permitir que ela venha a tona e que possa ser experimentada é função nossa. A psicologia nos treinou para reduzirmos o impacto negativo da notícia. Temos obrigação de atuar neste sentido.
Estou sendo muito firme nesta proposição, porque já ouvi relatos de traumas advindos de diagnósticos apresentados de chofre. Muitos médicos não são treinados para oferecer este tipo de informação com delicadeza. E nós, psicólogos e psicólogas, não podemos nos furtar do nosso papel de facilitadores de emoções difíceis.
Nosso principal apoio são as possibilidades que se abrem após a nomeação da síndrome. As melhorias no processo de adaptação dos pequenos. As possibilidades de tratamentos com bons resultados. Quanto mais cedo for identificado o transtorno, melhor para o desenvolvimento do indivíduo. E os resultados positivos facilitam o enfrentamento por parte da família.
Como fiz anteriormente, indico o sítio do Movimento Orgulho Autista do Brasil (MOAB) e informo que há reuniões promovidas pelo MOAB entituladas Desabafo Autista. Nessas ocasiões, são convidadas todas as pessoas que, de alguma forma, estão envolvidas com o tema. Assim, mães, pais, psicólogos, professoras, diretores de escolas, orientadoras educacionais, terapeutas, autistas têm espaço para falar o que e como quiserem sobre sua vivência com pessoas com TGD. Essas reuniões são sempre emocionantes e esclarecedoras. Mostram-nos como é importante a possibilidade de auto-exposição quando nos encontramos em um lugar tão difícil tal qual o de cuidador de uma pessoa com TGD. Em Brasília, esses encontros acontecem uma vez por mês, preferencialmente nos terceiros sábados do mês. Indicarei a programação em breve.
Indico para leitura outra postagem deste mesmo blog:
http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com/2010/08/sobre-o-autismo.html
Neste endereço encontrarão o endereço do Movimento Orgulho Autista Brasil e links para o filme After Thomas: um amigo inesperado.
Ouço de mães e pais a dificuldade em encontrar um diagnóstico para seus filhos/as. Há muitas nuances relacionadas a este problema em particular. Um deles é o desconhecimento dos sinais que indicam problemas na criança por parte de profissionais da saúde. Há estudos que apontam indícios já na primeira infância. O Instrumento de Vigilância Precoce do Autismo: manual e vídeo de C. Lampreia e M.M.R. Lima, já resenhado aqui, apresenta os comportamentos que crianças exibem e que estão ausentes em indivíduos autistas. Infelizmente, não é sempre que encontramos pediatras interessados em transtornos deste gênero. Além disso, os sinais são sutis e podem ser percebidos como temporários.
Outra ordem de questões se relaciona a aceitação do problema. Há famílias que ignoram o diagnóstico. Não percebem comportamentos estranhos, anti-sociais, descontextualizados em seus pequenos. Justificam-nos frente aos questionamentos de amigos e parentes próximos. Lidam com os sinais autísticos como se fossem normais. De fato o são em seu filho, mas não são esperados ou aceitos socialmente. Esta ação dos genitores é justificada pela recusa em ver o filho ou a filha com anormalidades. Ou ainda, recusam-se a admitir um problema.
Há relatos de que bebês autistas são muito quietos. Os pais dos alunos que diagnostiquei apontam para pouco choro e boa adaptação na primeira fase da vida. Na verdade, os sinais podem ser interpretados como baixo envolvimento social, já que o choro é uma forma de comunicação e a peraltice, uma busca de conhecimento sobre o mundo. Além disso, o apego à rotina típico nas pessoas que apresentam transtornos globais do desenvolvimento (TGD) reduz o efeito devastador do problema quando respeitada pelos demais. Os pais também se acostumam com a rotina e a aceitam. Essa "tranquilidade" aumenta o tempo para se chegar a um tratamento adequado. Quanto mais cedo há um diagnóstico, mais rapidamente pode-se ter efeitos benéficos observáveis.
A universalização da educação, com obrigatoriedade de frequencia institucional, possibilita que as crianças entrem em contato com profissionais com outra formação, além da médica. Esta possibilidade permite que o estranhamento se concretize e se fortaleça, principalmente porque as/os educadoras/es comparam os comportamentos de seus alunos/as. Além disso, no caso do rendimento escolar não ser compatível com a turma, é obrigação das/dos docentes indicarem isto aos pais e a outras instâncias educacionais. Muitas vezes é este o momento em que o diagnóstico acontece.
Aqui exponho nossa responsabilidade enquanto psicóloga/os escolares. Precisamos ter noções de psicopatologia para identificarmos sinais autísticos e também devemos saber como anunciar a nossa suspeita de um diagnóstico tão difícil.
Os TGD não são considerados doenças e não há cura. A sociedade tem essa idéia de autismo. E ouvir que um filho pode ter esse diagnóstico não é nada fácil. Várias fantasias caem por terra. Os sonhos não são mais possíveis. As ambições com a criança devem ser reconstruídas. A simples suspeita de que a/o filha/o tem TGD pode levar a depressão, sensações de incompetência, pensamentos suicidas. Temos observado famílias se desintegrarem, casamentos serem desfeitos e afastamento paternos por dificuldades em aceitar ou se imaginar como genitor de uma criança com TGD.
A psicologia trata estas reações como o luto do filho saudável. Uma mãe me procurou, certa vez, e perguntou se esse luto tem prazo. Que tristeza! Não, não há. Não consigo imaginar como seria perder a minha mãe. Penso que choraria pelo resto da vida, sempre que me lembrasse dela depois que isso acontecesse. Talvez algumas pessoas sintam isto em relação a seus filhos/as com TGD. Elas não devem ser julgadas por se sentirem assim. Mais uma vez devemos ser empáticos/as, nos aproximarmos o máximo possível e acolhê-las em sua dor, em seu luto. A dor e o luto não são mensuráveis e não têm tempo. Faz parte do acolhimento dizer isto aos pais e às mães. Informar que eles podem chorar sempre por sua criança não ser como as demais, por não ter problemas que a maioria tem, que seu desenvolvimento acontece, mas de forma diferente. Eles não devem sentir culpa por ter estes sentimentos. Este acolhimento e posterior aceitação da emoção negativa possibilita um fortalecimento do/a cuidador/a da criança.
É extremamente importante observar cuidados ao se comunicar a suspeita e a definição do diagnóstico. Neste momento, é imperioso prever a dor dos genitores e acolhê-la. Não há como evitar tal emoção. Permitir que ela venha a tona e que possa ser experimentada é função nossa. A psicologia nos treinou para reduzirmos o impacto negativo da notícia. Temos obrigação de atuar neste sentido.
Estou sendo muito firme nesta proposição, porque já ouvi relatos de traumas advindos de diagnósticos apresentados de chofre. Muitos médicos não são treinados para oferecer este tipo de informação com delicadeza. E nós, psicólogos e psicólogas, não podemos nos furtar do nosso papel de facilitadores de emoções difíceis.
Nosso principal apoio são as possibilidades que se abrem após a nomeação da síndrome. As melhorias no processo de adaptação dos pequenos. As possibilidades de tratamentos com bons resultados. Quanto mais cedo for identificado o transtorno, melhor para o desenvolvimento do indivíduo. E os resultados positivos facilitam o enfrentamento por parte da família.
Como fiz anteriormente, indico o sítio do Movimento Orgulho Autista do Brasil (MOAB) e informo que há reuniões promovidas pelo MOAB entituladas Desabafo Autista. Nessas ocasiões, são convidadas todas as pessoas que, de alguma forma, estão envolvidas com o tema. Assim, mães, pais, psicólogos, professoras, diretores de escolas, orientadoras educacionais, terapeutas, autistas têm espaço para falar o que e como quiserem sobre sua vivência com pessoas com TGD. Essas reuniões são sempre emocionantes e esclarecedoras. Mostram-nos como é importante a possibilidade de auto-exposição quando nos encontramos em um lugar tão difícil tal qual o de cuidador de uma pessoa com TGD. Em Brasília, esses encontros acontecem uma vez por mês, preferencialmente nos terceiros sábados do mês. Indicarei a programação em breve.
Indico para leitura outra postagem deste mesmo blog:
http://atuarpsicologiaescolar.blogspot.com/2010/08/sobre-o-autismo.html
Neste endereço encontrarão o endereço do Movimento Orgulho Autista Brasil e links para o filme After Thomas: um amigo inesperado.
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