sábado, 27 de setembro de 2025

Índice

 Objetivos de Criação (20/04/2009)

 

Questões sobre a instituição escola

Dinâmica laboral de uma escola (27/09/2009)

O que espera a escola (20/07/2009)

Angústia (09/08/2009)

Quando começa o atendimento psicológico (10/04/2010)

Utilizando a técnica da leveza (19/02/2010)

Acolher o problema (25/04/2009)

Reconhecimento de trabalho e frustração (21/04/2010)

Devolutivas de atendimento (10/04/2010)

Conselho de Classe (04/01/2011)

Questão Pedagógica (27/09/2025)

Facilitando o aprendizado (11/06/09)

Elaborando um plano de ação (02/01/2010)

A desistência em aprender ou da “falha” do sistema de 

    ensino tradicional (15/12/2010)

Comunhão Orientação Educacional (20/07/2009)

Avaliações institucionais ou o despreparo da/os 

    psicóloga/os (17/11/2011)

A presença da/o psicóloga/o na escola (24/04/2011)

 

Atuar Psicologia Escolar: temas próprios da nossa área

O poder psicológico (22/07/2009)

Valorização da profissão (04/07/2009)

Ciclo de vida na Psicologia Escolar (18/05/2011)

Prioridades (21/04/2009)

Um certo curso de escutatória (21/11/2009)

Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica 

    (26/12/2009)

Atuação preventiva (24/04/2011)

Lidando com racismo institucional (20/01/2025)

Sensibilização antirracista (30/01/2025)

A necessidade de relações interpessoais (11/04/2010)

Redes de Apoio (05/09/2009)

Parcerias para o trabalho em Psicologia Escolar 

    (22/04/2009)

Redes interinstitucionais (12/10/2009)

Necessidade de trocas afetivas (18/04/2010)

Efeitos da covid-19 (03/02/2025)

Relação professor/a – aluno/a (16/03/2011)

Valorizando propensões (06/07/2011)

Curso de prevenção do uso de drogas para educadores 

    de escolas públicas (21/11/2009)

O afeto como vacina anti-drogas (19/09/2009)

Sobre indisciplina coletiva (25/10/2009)

Um caso de indisciplina grave (27/09/2009)

Homofobia na escola (24/08/2009)

Possibilidades de gênero (05/11/2011)

Comportamentos femininos (20/04/2025)

Outros comportamentos femininos (20/04/2025)

Detalhes de educação (21/01/2011)

Famílias desestruturadas (13/08/2009)

Outros tipos de famílias (15/08/2009)

Violência contra educadores (18/10/2009)

Fortalecimento de ego (18/07/2010)

Jogos de computador e desenvolvimento cognitivo 

    (27/11/2010)

Jogos eletrônicos e sala de aula (13/03/2020)

Altos e baixos (15/12/2024)

Organização vital (16/11/2024)

Sobre ansiedade (24/11/2024)

 

Sobre o masculino e masculinidade

Paternagem (17/03/2014)

Paternidade (23/03/2014)

Paternidade e guarda compartilhada (21/04/2014)

Viva o futebol! (24/04/2014)

Ainda mais sobre futebol (15/12/2024)

Sobre erros e homens (16/11/2024)

Propiciando o desenvolvimento de pais (20/01/25)

O que um parto domiciliar pode nos ensinar? 

    (29/11/2019)

 

Intervenções psicológicas em grupo através de jogos comerciais

Tecnologia psicológica nacional (04/09/2011)

Utilizando jogos: Can Can (12/10/2011)

Utilizando jogos: Damas Chinesas (13/10/2011)

Utilizando jogos: Xadrez (13/10/2011)

Brincadeiras naturais (23/10/2011)

 

Medicalização da infância e diagnósticos na escola

Dificuldade de aprendizagem (20/08/2010)

Doenças escolares e desenvolvimento cognitivo 

    (08/06/2012)

Teste de inteligência: Matrizes Progressivas Coloridas 

    de Raven (11/09/2010)

Sobre o autismo (15/08/2010)

Ainda sobre o autismo (27/10/2010)

Novo tipo de autismo? (18/05/2011)

Mais ainda sobre autismo (11/12/2024)

Taare Zameen Par: Every Child is Special (Como Estrelas

    na Terra: toda criança é especial) (07/02/2010)

Sopa de letrinhas (14/12/2024)

Medicalização e pedagogia (23/06/2011)

Diferenças entre expressão de personalidade e falta de educação (27/09/2025)

 

Psicologia Escolar na mira: críticas a execução científica

Dificuldades de publicação e conhecimentos insabidos 

    (30/08/2009)

Desenvolvendo habilidades sociais em adolescentes 

    (22/09/2009)

Cultura e fragilidade humana (18/07/2010)

Ecologia Prática (20/06/2010)

Formação continuada (28/07/2010)

Projeto de Lei 3512 de 2008 (30/01/2010)

 

Outros assuntos

Cuidadores e autocuidado (21/03/2014)

As questões de R. (05/06/2010)

Conhecimentos de Psicologia usados em Psicologia 

    Escolar (18/07/2009)

Excesso de exigência parental (29/04/2009)

Separação por capacidade (07/06/2009)

Psicologia Escolar na internet – uma pesquisa de 

    conteúdo (18/11/2009)

Diferenças entre expressão de personalidade e falta de educação

 A criança não está pronta ao nascer. Ela precisa de muito condução, de muito limite, de muito trabalho de muitas pessoas...

Notar quem é aquela criança, quais são as características específicas daquele indivíduo é importante, mas também devemos identificar quais são as características educáveis. Há comportamentos idiossincráticos que não são sociais. Por exemplo, socar o rosto das pessoas. Me recordo de uma criança que não permaneceu duas semanas em nossa escola porque a mãe achava normal que seu filho batesse nas profissionais da escola. Opa! Eu ouvi em duas oportunidades a mãe proferir após agressões do menino “fica calmo, mamãe está aqui, a mamãe está ao seu lado”. Não! A mamãe não pode estar ao seu lado se você está agredindo outra pessoa. O comportamento violento é intolerável.

Eu chamei esta senhora para conhecê-la, aprender sobre o menino e realizar uma orientação adequada. A criança não aceitou estar ausente da reunião. Eu ofereci uma cadeira e informei que conversaríamos com seu acompanhamento sem interrupções. Eu já havia observado nosso estudante e sua mãe, por isto impus um limite inicial claro. Em determinado momento da conversa, o menino se levantou de sua cadeira, andou em minha direção com o punho fechado e elevado acima de sua cabeça. Sua intenção era óbvia para todas as presentes. Sua mãe estava ao meu lado. Quando ele chegou perto de mim, eu olhei para ela e disse “este comportamento é inadmissível!”. A mãe não aceitou a orientação oferecida por mim e solicitou a transferência do filho de nossa escola no dia seguinte. Não, cara/o leitor/a, esta criança não me golpeou. Note, entretanto, que a senhora atendida não proferiu qualquer censura ao comportamento do pequeno.

Onde esta criança vai estudar? Em lugar algum.

Eu fiz uma intervenção mínima em prol de sua socialização e a mãe não aceitou. Ela me indicou que seu filho pode agir de qualquer forma que terá seu apoio. Não pode!

Será que as crianças que estão sendo diagnosticadas com transtorno opositor desafiador são tratadas com permissividade por suas famílias?

Até que ponto crianças que não conseguem permanecer sentadas, não censuram a própria fala, não sabem como devem se comportar em cada ambiente, que exigem que o seu desejo seja atendido imediatamente, que fazem escândalos controladores do comportamento dos pais não tenham um problema psíquico? Se for possível controlar estes comportamentos através de educação parental, não teremos um quadro de autismo.

Algumas crianças estão sendo medicadas ao invés de serem educadas. Qual será o resultado do desenvolvimento de pessoas que estão crescendo dopadas?

Este texto é sobre as relações sociais recentes que envolvem a expressão típica de uma pessoa, de uma personalidade, mas que confunde esta expressão com falta de respeito, com invasão do espaço pessoal do outro, com falta de educação, com permissividade.

Algumas pessoas estão se acostumando a falar alto.

Eu observei uma turma certa vez para colher informações acerca de uma criança em avaliação. Uma menina, F., estava sentada em dupla com outra. Eu costumo me sentar atrás das crianças para não lhes atrapalhar a visibilidade do quadro ou da professora. Me envolvo com o ambiente, se há uma explicação de conteúdo ou de atividade a ser elaborada pela/os estudantes, eu não converso com a criança para que ela preste atenção. Muitas vezes, uma criança vem falar comigo e eu respondo “você precisa prestar atenção agora” de forma a que eu atrapalhe o mínimo possível o trabalho docente. F. falava tão alto que meu ouvido doía. Todas as crianças falavam um pouco alto, mas F. usava um volume destacado. Eu a alertei: “você fala muito alto”. Ela me respondeu: “eu sou assim. Esta é a minha marca, eu falo alto mesmo.” Argumentei: “encontre outra marca para te distinguir porque esta é muito feia.” F. se assustou. Prossegui: “você está atrapalhando a aula. A professora está concorrendo com a sua voz para conseguir ser ouvida pelas outras crianças. Assim não é possível.”

Quem permitiu que F. falasse tão alto? Pensemos: sua família, a professora (a profissional não a alertou?), as outras crianças (não se incomodaram com tal volume?). A docente me respondeu que já havia chamado a atenção da pequena, mas não obteve efeito algum. Se um comportamento desagradável não é contido, houve permissão para se manter.

As pessoas precisam ser educadas. Não é possível conviver com uma pessoa que fale tão alto, é desagradável. Será que estamos nos acostumando a aturar ações desconfortáveis de outras pessoas?

Sons agudos e volume alto me afligem pessoalmente. Eu respondo mais rápido que a maioria das pessoas ao incômodo com ruídos. Quando eu desligo máquinas que emitem barulhos contínuos no meu trabalho, as pessoas ao redor suspiram de alívio e algumas chegam a me agradecer. Temos aqui um fator de estresse no trabalho. As pessoas são afetadas pelo ruído contínuo, mas não expressam isto. Elas vão ficando cansadas e não conseguem identificar a origem do cansaço.

As nossas crianças brincam de gritar. Eu não consigo imaginar a reação da minha mãe a uma brincadeira como esta. As crianças brincam durante o recreio gritando. Por vezes, elas estão apenas gritando uma nos ouvidos das outras. Meninas e meninos gritam muito alto, muito agudo.

Eu, com minhas dificuldades pessoais, estou trabalhando (respondendo um formulário, escrevendo um relatório, atendendo uma pessoa, lendo um documento, elaborando um texto, checando a caixa de mensagens eletrônicas) e meu raciocínio fica impedido, suspenso. Como o trabalho está parado, eu me dirijo à pessoa que está gritando e falo diretamente com ela. “Estes gritos são perturbadores. Eu peço que você grite baixo. As crianças podem gritar durante o recreio, mas não podem incomodar as demais ou interromper o trabalho da escola que segue durante o intervalo de aulas.”

E qual é a dificuldade que as famílias têm de dar estes limites? Qual é o problema, o que está acontecendo?

As crianças devem ser ensinadas a comer sentadas, a usar os talheres porque em nossa cultura come-se com instrumentos. Se a família não ensina essas coisas desde que a criança é um bebê, então a escola não vai dar conta.

E por que eu estou falando desde bebê?

A família não pode permitir que seu fruto se expresse de qualquer forma a título de amor, de aceitação da personalidade daquela criança.

Uma coisa é a criança ter um determinado perfil. Outra coisa é ela ser mal educada.

A falta de educação tem sido diagnosticada como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Eu tenho acompanhado muitas crianças com diagnóstico de TDAH. Após instrução da família quanto a condução da educação doméstica de uma criança, os sintomas que geram o diagnóstico desaparecem. Assim, é preciso avaliar se a criança está sendo educada, pois os sintomas diagnosticados podem se tratar de falta de contenção.

Uma pessoa não aprende a se conter sozinha. Ela precisa de sinais do mundo social para desenvolver isto. E qual é o mundo social principal de uma criança que não a família. Ela precisa de sinalização de que está muito agitada.

Outro sintoma que tem se mostrado bastante comum é a “falta de filtro” para falar. Tornar-se adulto sem polimento da expressão verbal demonstra uma falha na educação também. Alguém precisa dizer para a pessoa: “você não pode falar isto!”. Se a pessoa recebeu limites para sua expressão e não consegue utilizá-los, não consegue se censurar antes de falar, temos um problema, um sintoma. Mas se não lhe foi ensinado, se não lhe foi oferecido sinais de que algo dito é inconveniente, se tudo que ela diz é aceito, então não temos um sintoma, temos falta de educação. O movimento de contenção social informa que aquela ação é inadequada, às vezes absurda, às vezes rude. Esta informação precisa ser oferecida à criança e preferencialmente explicada. Nenhum de nós tem autorização para falar o que pensa para qualquer pessoa.

Devemos perceber que estar com o outro de forma agradável é algo aprendido também. Trocas afetivas precisam ser ensinadas.

Questões Pedagógicas

            Hoje de manhã, uma colega pedagoga perguntou a minha opinião a respeito da aquisição da alfabetização universal, ou seja, se eu considero que todas as pessoas são capazes de serem alfabetizadas. Calei. Refleti sobre a questão. Concluí que nunca havia pensado nisto, que não tenho competência para emitir opinião sobre o assunto, não tenho conhecimento bastante para analisar a questão, nem sei por onde começar. Pensei mais um pouco e entendi que esta questão é da ordem da pedagogia.

            O posicionamento de retirada perante uma questão que não compete a nós respondermos é uma atitude respeitosa com a outra área.

            Há anos (e de forma cada vez mais corriqueira) temos recebido laudos médicos de nossa/os estudantes com instruções (vejam bem, não são orientações) de como agir com a referida criança na escola. O curioso é que as instruções são iguais para cada diagnóstico como se as crianças fossem a mesma, como se tendo o mesmo diagnóstico, elas apresentassem o mesmo comportamento.

            Fundamenta esta ação médica sua autoridade social. O/A médico/a informa à professora como deve agir para melhor ensinar aquela criança. Porém o que sabe um/a médico/a sobre o processo ensino-aprendizagem? Mesmo que um determinado médico tenha formação em pedagogia ou tenha cursado o magistério, ele não conhece aquele “paciente” com profundidade bastante para saber quais ações a professora deverá escolher para potencializar ou garantir o aprendizado daquele/a estudante específico/a. Ele não conhece a escola, a/os colegas de turma ou de turno, não sabe dos recursos disponíveis para o ensino na instituição, muitas vezes não foi informado das condições de vida da família a qual a/o estudante pertence nem os recursos de sua vizinhança.

            Eu julgo esta ação desrespeitosa. O/A profissional de medicina não tem competência para orientar a ação da professora em sala de aula. Aqui me refiro a competência formal e legal.

            Então, por que as professoras seguem o que um/a médico/a lhes indica? Por que a professora pergunta a profissionais de outras áreas o que deve fazer com seu/sua estudante? A profissional de sala de aula não se sente desrespeitada?

            Sim, minhas professoras esperam que eu lhes diga como devem agir com seus/suas estudantes. Eu lhes digo que não sei. E reforço dizendo que não tenho competência legal para emitir tal opinião.

Quando me retiro da posição de responder uma questão pedagógica, não abandono minha professora a própria sorte. Ao contrário, coloco ela no local protagonista de resolução, de posse do conhecimento, de poder.

            Quando dizemos a alguém “vá! Você é capaz de resolver esta questão com autonomia.” não a/o estamos abandonando, mas depositando nossa confiança de que encontrará a melhor solução ou construirá a resposta mais adequada. Esta ação possibilita o fortalecimento personológico e profissional de quem se considera inapta/o. São desafios propiciadores de desenvolvimento.

            Realizar por é prejudicial mesmo na fase adulta. Realizar com, cooperar respeitando os limites de competência de cada área de atuação é engrandecedor.

            Por acreditar nesta ideia, sempre que um/a médica/o, um/a mãe ou pai, um/a psicóloga/o, uma psicopedagoga emite uma sugestão de ação docente ou escolar, eu declaro em alto e bom som “quem esta pessoa se considera para ordenar algo às minhas professoras?”. Assim, não defendo minhas colegas de trabalho, exijo delas que se coloquem no lugar de poder que a pedagogia tem, no lugar de transformação de mundo que o conhecimento organizado, científico, cultural propicia ao indivíduo que aprende, no local mágico de promover outro ser humano à posição de conquista do arcabouço cultural e científico de todas as áreas do conhecimento de forma autônoma sem perder seu potencial curioso, criativo e divertido. A pessoa que propicia o alcance do entendimento dos códigos linguísticos e matemáticos tem reservado para si o papel de transmutação definitiva de um ser humano. Ela possibilita o domínio sobre muito do conhecimento guardado em livros àquele indivíduo. Quão grandioso é este lugar e a pessoa que o ocupa!

            Este lugar é da pedagoga.