sábado, 10 de abril de 2010

Quando começa o atendimento psicológico

Existe alguma discussão sobre quando começa o atendimento psicológico?

Em meu trabalho na escola considero que meu atendimento começa quando o/a professor/a fala sobre o/a aluno/a. Isto porque há escuta da questão que angustia a/o profissional. A recepção de sua demanda, o detalhamento da sua visão do problema e sugestões de ação frente ao caso já ocorrem neste primeiro contato.

De forma equivalente, ao receber pais de alunos/as que buscam meu atendimento diretamente, ouço sua demanda e realizo orientações já no primeiro contato, mesmo antes de conhecer a criança ou o/a adolescente em questão.

Esse questionamento nunca havia me passado como fonte de discussão até um dia quando iniciei um atendimento e antes de ver a aluna foco, a professora a encaminhou para uma colega psicóloga que atua na nossa escola em outra função.

Senti-me, então, desrespeitada e o expressei verbalmente para todos os personagens envolvidos. Houve então o questionamento de que meu atendimento não havia começado ainda.

Passei a considerar o início do atendimento na clínica, setor da psicologia socialmente respeitado e já consagrado. O encaminhamento a um/a psicólogo/a por quaisquer profissionais ou leigos em geral se faz com a indicação da necessidade do serviço. Conforme a pessoa indicada sente vontade ou angústia bastante, busca um nome, um profissional com referência para efetivar o contato. Depois desta procura, ocorre o contato propriamente dito e, a partir deste, marca-se a primeira consulta. Este primeiro encontro é tão importante e cheio de sutilezas que alguns psicólogos não o cobram monetariamente e há capítulos e artigos científicos dedicados a ele. Cada uma destas etapas é estudada por teóricos e há amplas discussões sobre as resistências que devem ser quebradas e o que se pode fazer para auxiliar as pessoas a vencê-las.

O profissional clínico, entretanto, encontra-se em um espaço físico e psicológico distante do ambiente corriqueiro do cliente. O estatus social do psicólogo e sua representação social fazem dele um personagem distante. Este fato tem forte impacto sobre as resistências acima indicadas.

O psicólogo escolar está presente nas escolas. Defendo a postura do nosso envolvimento direto nas atividades e decisões do cotidiano escolar. Essa posição faz com que a clássica distância do/a psicólogo/a se desfaça, perdendo seu sentido e suplantando a necessidade de quebra de resistências. Por este motivo, sempre estou com as professoras durante o recreio, compartilhando seu momento de relaxamento entre as aulas, participo de todas as reuniões de coordenação oferecendo minha opinião teórico-profissional e pessoal. No caso da opinião teórico-profissional, para mostrar as possíveis contribuições da nossa área para os demais educadores, de modo a registrar a necessidade da psicologia escolar e seu auxílio potencial nas escolas e/ou no trabalho em sala de aula. Quanto à opinião pessoal, a instituição em que trabalho possui nuanças que, conforme nos posicionamos, somos mais ou menos respeitadas profissionalmente pelas demais colegas. São casos de decisões institucionais, engajamento em luta por melhores condições de trabalho, envolvimento com movimento reivindicatório, incluindo greve. Este fenômeno deve ser observado em outras organizações, mas por ser uma psicóloga técnica somente respondo pela minha experiência.

Uma vez estando envolvida com o corpo de profissionais, a chegada de questões laborais que podem ser beneficiadas com a nossa intervenção passa a ser natural. Desta forma, realizo meu trabalho de higiene mental, cuidando do corpo de servidores de toda a instituição de forma a evitar doenças laborais e, consequentemente, o absenteísmo por falta de saúde física, emocional ou por desmotivação.

Voltando ao nosso paralelismo com a psicologia clínica, consideramos o início de atendimento a uma criança ou adolescente o primeiro contato com os responsáveis por ele/a que nos traz a demanda. Uma vez ouvida a demanda, inicia-se o atendimento, mesmo antes do primeiro contato com o pequeno. De forma equivalente, na escola, uma vez ouvida o/a profissional ou o/a pai/mãe que encaminha o/a aluno/a, o atendimento já se inicia.

Infelizmente, durante a resolução do caso na escola, não tive o tempo de que disponho aqui para argumentar e demonstrar meu raciocínio e entendimento.

Deixo claro, então, que, em minha opinião, um atendimento psicológico inicia-se quando se recebe o caso de fonte envolvida e que possibilita um compromisso, um contrato de trabalho específico e para o qual se realizará, em breve, uma devolutiva.

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