segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Homofobia na escola

A questão de gênero em psicologia ultrapassou os estudos das relações homem-mulher e chega agora às relações afetivas em geral e são tratadas por homofobia. Esta última trata de questões que abarcam gênero e vai bem mais além. Segundo Daniel Borillo,

“A divisão dos gêneros e o desejo (hetero)sexual funcionam mais como um mecanismo de reprodução da ordem social que como um mecanismo de reprodução biológica da espécie. A homofobia torna-se, assim, uma guardiã das fronteiras sexuais (hetero/homo) e de gênero (masculino/feminino). É por essa razão que os homossexuais não são mais as únicas vítimas da violência homofóbica, que se dirige também a todos os que não aderem à ordem clássica dos gêneros: travestis, transexuais, bissexuais, mulheres heterossexuais que têm personalidade forte, homens heterossexuais delicados ou que manifestem grande sensibilidade.” (p.18)

Motivada pela presença de um aluno declaradamente homossexual na escola, busquei estudar este fenômeno e fui agraciada com um ciclo de palestras na Universidade de Brasília, do qual recebemos o livro “Homofobia & Educação: um desafio ao silêncio” organizado por Tatiana Lionço e Debora Diniz do qual retiramos o trecho acima.

Um dos textos do livro indica a dificuldade pela qual passa um homem em encarar a feminilidade de outro, por quais motivos um homem se sente ofendido ao ser cortejado por outro. Daí a necessidade de agressão física para mostrar ao homem mais feminino como deve se comportar. Informa que hoje, em nosso país, ocorre uma morte por este motivo a cada três dias.

Tivemos uma ação nestes moldes em nossa escola quando um grupo de garotos correu atrás do menino com orientação sexual homossexual. Não conseguimos descobrir o que eles fariam se pegassem o menino porque ouve um acidente durante a correria e o motivo dela ficou desprezado. Há dificuldade dos profissionais da escola em tratar o assunto, inclusive entre si mesmos, chegando ao ponto de constrangimentos ao se referirem ao aluno.

Minhas leituras chegaram a uma conclusão simples: a negação da vivência do prazer pela sociedade. É-nos proibida qualquer manifestação de afeto diferente das padronizadas. Homem forte, másculo e provedor. Mulher frágil, suave, submissa e dependente. Mesmo tendo nossos espaços garantidos no mercado de trabalho, vários são as ocorrências que apresentam a valorização da superioridade masculina. A principal para mim é a desvalorização das profissões ditas femininas – as profissões do cuidado. São atuações de segunda classe e têm remuneração diminuída.

Estamos longe da igualdade. Precisamos ainda nos policiar para não repetirmos os padrões que lutamos para substituir ou destruir. Temos na escola um local privilegiado para oferecer novas formas de pensar e agir a afetividade, mas primeiro é necessário vencer o grande preconceito que circunda as questões do afeto. Lionço & Diniz denunciam o grande força que o status quo tem nas instituições educacionais: o silêncio. Percebo-o durante minha atuação como a omissão fácil pela qual optam as profissionais da educação.

Muitas vezes, nós, profissionais da educação, não percebemos o quanto esta limitação de expressão do afeto pode impactar o desenvolvimento de uma pessoa. Talvez se faça necessário informar que a homossexualidade não é uma opção. Não há escolhas neste sentido. Da mesma forma que um indivíduo heterossexual se apaixona ou se sente atraído sexualmente por outro do sexo oposto, um homossexual é atraído por outro do mesmo sexo. Sem opção. Seu corpo se emociona por outro assim como todos os seres do reino animal. Porém, contrariando das regras, sua emoção é dirigida a outro ser do mesmo sexo que o dele/a. Mas, de onde vem a regra? Quem a fez? Qual é o erro do ser emocionado?

Como foi educado/a para se envolver emocionalmente com pessoas do sexo oposto, inicia-se uma grande dificuldade cognitivo-emocional. A percepção das possíveis reações da família e da comunidade é fundamental para esta vivência. Os conflitos podem levar ao consumo de drogas, a negação do seu sentimento verdadeiramente e ao suicídio.

“Diferentemente de outras formas de hostilidade, o que caracteriza a homofobia é o fato de que ela visa mais claramente indivíduos separados e não grupos constituídos a priori como minorias. O homossexual sofre solitário o ostracismo ligado a sua homossexualidade em um ambiente hostil. Ele é, portanto, mais vulnerável a uma atitude de aversão a si mesmo e a uma violência interiorizada que pode levá-lo ao suicídio.” (Borillo, 2009, p. 19)

Um fenômeno com tal risco não pode ser negligenciado por psicólogos. Há uma obrigação em estudar como poderemos auxiliar nossos alunos independentemente de sua expressão. Devemos garantir o direito que têm em mostrar-se desde seus primeiros anos na escola. Sabemos que há alunos e alunas que demonstram seu interesse afetivo desde tenra idade. Não é necessário nos espantarmos com tal ação. Ao contrário, devemos preparar a escola para a aceitação das diferentes formas de amar que o ser humano dispõe. Citando novamente Tolstói em sua Ana Karenina: “Se é verdade que cada cabeça cada sentença, há de haver tantas maneiras de amar quantos os corações.”

Voltaremos a este assunto, posto a complexidade que o envolve.

3 comentários:

  1. Ana Cristina Guedes Rodrigues26 de agosto de 2009 às 18:07

    Adorei ter te conhecido e compartilho com suas idéias... precisamos informar melhor os profissionais em educação para dar o primeiro passo contra esses preconceitos. Parabéns!
    Profa. Ana Cristina - CASEB

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  2. Obrigada, Cristina!
    Exemplos de superação como o seu devem ser usados para melhor nos compreendermos em nossa área da psicologia e fora dela.
    Vamos estreitar nossos laços.
    Vicenza

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  3. Não só na área escolar, mas também na sociedade como um todo.
    O assunto é complexo e, vem de séculos como uma discriminação ferrenha.
    Mas debater o tema em escala nacional, como por exemplo aki no seu blog, parte de uma iniciativa bem intencionada.

    Meus parabéns pelo comentário e pelo seu blog

    Marcio RJ

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