terça-feira, 21 de abril de 2009

Prioridades

Em uma escola os papéis são bem definidos. Os professores têm como prioridade dar aulas. Não há discussão quanto a isso. A direção da escola administra a instituição e isto inclui orientação de pais e alunos. Merendeiros e faxineiros também têm suas atividades bem delimitadas. Porém, no nosso caso, não há certeza do alcance das ações. Nós devemos ter clareza dele, mas a demanda por parte dos outros profissionais nos puxa para diversos lados.
Há que se ter firmeza do seu papel principalmente porque os demais atores da educação não o conhecem.
Quem o psicólogo escolar atende? Toda a comunidade escolar. Alunos, pais, professores, diretores, merendeiros, faxineiros, seguranças, donos de cantinas, coordenadores, disciplinadores.
A demanda escolar pode vir de diversos ângulos e por isso dizemos que toda a comunidade escolar é por nós atendida. Nosso objetivo central é o processo ensino-aprendizagem e quando a questão extrapola isso devemos encaminhar o caso a outras instâncias.
Parece muito, mas nossa função é detectar possibilidades de problemas e impedir que eles aconteçam. Assim, além de aguardar que as queixas apareçam por parte dos profissionais da educação, o psicólogo deve estar atento para disfunções na escola.
Didaticamente, tratemos agora das prioridades quanto às queixas. Com a chegada de uma questão, por exemplo, por parte de uma professora, ouvir a professora é o primeiro passo para identificar suas dificuldades em relação ao que expõe. Isso possibilitará saber o que a incomoda e se há problema com a criança objeto da queixa.
Tal perspectiva choca os demais profissionais da educação em sua maioria, mas o olhar do psicólogo deve ser diferenciado. Há sim, grandes possibilidades do problema estar no próprio professor. Assim, a prioridade número 01 é detectar a fonte da questão.
Em psicologia clínica, o foco é sempre o cliente. A demanda é dele e é ele que se propõe a mudar ao se submeter a psicoterapia. Mas há que se detectar qual é a demanda central.
Em psicologia escolar, devemos observar qual é o ator foco do problema. Por isso, nossa atuação demora para ter resultados e devemos ter paciências com as críticas sofridas desta característica.
Voltando ao exemplo da queixa da professora; entrevistas com os personagens de seu relato são importantes para detecção do foco da questão.
Certa vez atendi uma professora que se queixava de grande dificuldade com um aluno. Ele apresentava ótimo comportamento, porém seu texto era incompreensível apesar da ótima letra. A professora desconfiava de dislexia. Em contato com o aluno, observamos grande insegurança com nossa presença, através da manipulação contínua das próprias mãos. O aluno contou sobre sua rotina e quando solicitado a escrevê-la, o fez com poucos erros ortográficos, mas muitos gramaticais (falta de pontuação, desobediência às regras de letra maiúscula e margens). Em um segundo encontro, verificamos que o aluno seguia regras sem dificuldades, leu um texto sem entonação ou respeito às pontuações, adivinhou palavras. Ao copiá-lo apresentou muitos erros, omitindo pontuação e alterando letras maiúsculas. Diagnóstico: alfabetização incompleta. Durante a devolutiva para a professora, identificamos a recusa não dita em trabalhar o problema em sala de aula. Assim, o corpo de profissionais extra-classe assumiu a questão e auxiliou o aluno a concluir sua alfabetização.
Neste exemplo, observamos que havia realmente uma séria questão com o aluno. Porém, a professora também demonstrou um problema: a recusa em trabalhar a demanda do aluno em sala de aula. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira e o Regimento Escolar indicam que a professora deveria atuar sobre a demanda do aluno em sala. Porém, impor esta obrigação à professora geraria grande desconforto à comunidade escolar. Assim, a ação do psicólogo é de dirimir problemas da forma menos dolorosa possível e mais rápida.
A partir da detecção da fonte do problema, traçar o modo mais prático de sua solução e os personagens a executá-la é o passo seguinte. Essa é a prioridade do trabalho. Como no exemplo acima, a prioridade é extinguir a queixa. Quem mais sofria com o problema, sem dúvida alguma, era a criança. Ele percebia que havia algo errado mas não há desenvolvimento ainda para perceber onde estava a questão. E a professora, ocupada demais com seus trezentos alunos, deixou-se levar pela moda de diagnosticar alunos apressadamente.
Todos os atores da escola são fontes de queixas sobre o processo ensino-aprendizagem. Certa vez, o merendeiro da escola nos apontou um aluno com problemas de comportamento. Em conversa posterior com a professora, verificamos sua dificuldade de aprendizagem apresentada como agressividade perante os colegas.
Um psicólogo dentro de uma escola deve estar atento a todos os discursos pois eles são reveladores de demandas, de futuros problemas e de prováveis soluções. A prioridade de atendimento refere-se a solução de problemas de ensino-aprendizagem.

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