quarta-feira, 22 de abril de 2009

Parcerias para o trabalho em Psicologia Escolar

Algo raramente estudado durante a faculdade e muito útil na atuação efetiva em Psicologia Escolar refere-se a rede de profissionais de apoio. Pode ser que isso tenha mudado desde que saí da faculdade.
Dentro da escola, o psicólogo escolar trabalha principalmente com o professor. Se não houver envolvimento, bom entendimento entre psicólogo e professor, o primeiro não atua. Parece bastante radical, mas nossa experiência tem nos mostrado sua veracidade e força. Em escolas de ensino fundamental de 1ª a 4ª séries isto torna-se mais claro. Quem lida com o aluno todos os dias da semana durante cinco horas (no caso do Distrito Federal) é o professor. É ele quem conhece o aluno, seu comportamento, envolvimento social, aproveitamento escolar, aprendizado, alterações emocionais. Este profissional é responsável por 35 alunos em média. O psicólogo, quando há, é apenas um para toda a escola. Já trabalhei em uma escola com 500 alunos. Atualmente, tenho 940 sob minha responsabilidade. A nossa dependência do profissional de sala de aula é óbvia.
Outro ente bastante próximo do psicólogo em uma escola é o coordenador pedagógico. Em geral, o coordenador é um professor destacado pelo grupo de colegas para auxiliar no planejamento de ações dentro e fora de sala de aula. Ele está em constante contato com os professores e suas angústias e como também é professor da escola, conhece os alunos. Como este profissional está fora da sala de aula tem-se acesso a ele com maior frequência ou por maior período de tempo.
A direção da escola também é grande parceira da psicologia escolar. Em geral, a direção advém da própria escola e faz parte da comunidade escolar há bastante tempo. Tem idéia global sobre sua clientela, como funciona e o que se pode esperar dela. Acredite sempre no que a direção da escola disser sobre sua comunidade, sem entretanto se deixar levar por pessimismos. As notícias ruins devem ser tratadas como preparações para dificuldades e não como ações desanimadoras.
A seguir temos os demais profissionais da escola que podem ter maior ou menor importância dependendo do seu engajamento com a escola, empenho em auxiliar os alunos, tempo de trabalho na escola. A Secretaria da escola lida diretamente com os pais dos alunos. Lá está toda a documentação deles: de onde vêm, que atendimentos já receberam, quantas advertências e suspensões já levaram e registros de transferências. É importante sublinhar que advertências, suspensões e transferências são registros de punições que a escola usa com seu corpo discente. Em geral, alunos com coleções delas são nossos clientes preferenciais. Devido a esta documentação, os secretários sabem quem são estes alunos e nos encaminham facilmente. Algumas vezes, os secretários têm informações sobre os pais e a sua formação familiar, sabem quem são irmãos e podem dizer se os entes da família que faz parte da escola apresentam os mesmos sintomas ou não.
Os merendeiros costumam observar a quantidade de repetições do lanche oferecendo excelentes dicas sobre as condições econômicas da família, os hábitos alimentares e postura frente à refeição. Informações sobre comportamentos de partilha, avareza, cobiça, gula, futuro problema de disfunção alimentar podem ser obtidas com este grupo de profissionais.
Por falta de um nome melhor, usamos aqui a terminação faxineiros para o pessoal de limpeza. Sabemos que no Brasil esta designação é evitada e vários opções são oferecidas, mas nenhuma designa melhor, penso eu. Agente de educação como todos os que trabalham em uma escola, os faxineiros podem observar comportamentos que passam despercebidos pelo professor, coordenador ou por nós mesmos. Há comunidades em que os faxineiros moram e eles trazem informações extra-escola das famílias. Há pouco tempo ouvi o Gilberto Dimenstein falando sobre uma experiência nova em educação ocorrendo no Rio de Janeiro, referindo-se a profissionais que servem como ponte entre a comunidade e a escola. Estes profissionais buscariam informações sobre ausências prolongadas de alunos e também alimentariam a escola de dados sobre a comunidade. Bem, nós trabalhamos com esse tipo de informação há bastante tempo com os faxineiros das escolas onde trabalhamos. Seguranças e porteiros das escolas também realizam estas atividades. Essas pessoas sentem-se valorizadas quando lhes oferecemos oportunidade de auxiliar um aluno em conjunto conosco.
Em algumas escolas há professores de educação física para alunos de 1ª a 4ª séries, a partir da 5ª série esta disciplina já é obrigatória. No caso de se dispor desse profissional na escola, um trabalho conjunto pode auxiliar na melhoria de lateralidade cruzada e na troca de letras. Esses fenômenos, que apresentam grande impacto no campo pedagógico, recebem grande influência de atividades físicas, pois relacionam-se com a dominância espacial. A medida que trabalham mais com seu próprio corpo e percebem as interações entre os membros, as crianças lidam melhor com seus movimentos e ganham no entendimento de noções espaciais. Além disso, professores de educação física têm posição privilegiada na detecção de abusos físicos através da observação de machucados, esquiva de movimentos e de posições que se mostram desconfortáveis durante suas aulas.
Quando o atendimento de um aluno não se esgota dentro da escola, o psicólogo escolar deve lançar mão de serviços e profissionais externos. Reforços escolares, fonoaudiólogos, psicólogos clínicos, neurologistas, escolas de esportes, conselhos tutelares, postos de saúde, clínicas-escola de psicologia, de fonoaudiologia, oftalmologistas, otorrinolaringologistas, psicomotricistas, psicopedagogos clínicos, bibliotecas, psiquiatras, ortopedistas, professores de educação física, estrabólogos.
Descreveremos em próxima postagem como cada um desses profissionais pode ajudar uma criança ou adolescente.

Um comentário:

  1. O psicólogo Escolar, sem dúvida seria de grande valia para as escolas, visto que, hoje o que mais temos enfrentado, além das dificuldades na aprendizagem, é a agrssividade, ansiedade,o aumento do envolvimento com drogas, lares desestruturado que não ccontrolam seus filho em fase de desenvolvimento. Penso que a solução para as escolas seria a de ter um Psicólogo e um Assistente Social para dar suporte a alunos, professores e famílias.

    ResponderExcluir

Sua mensagem ajudará a melhorar este sítio e nosso desempenho profissional.
Grata por comentar!