sexta-feira, 21 de março de 2014

Cuidadores e auto-cuidado

Aprendemos, durante o curso de Psicologia, que os profissionais clínicos precisam de supervisão para auxiliar nos casos em que se encontra mais dificuldade. Há situações em clínica que a evolução do/a cliente emperra por causa de demandas nossas. Não podemos fazê-lo/a avançar porque temos questões impeditivas para ele/a e para nós. Assim, a supervisão é um dos instrumentos da psicologia para aumento da segurança do trabalho.

Este instrumento é constituído por um profissional da psicologia mais apto do que nós na mesma área em que atuamos. Por isto este nome: super-visão. Alguém com maior experiência e, provavelmente, maior competência, poderá alertar para erros de condução, conduta e questões pessoais.

Lembrando que sou psicóloga escolar pública, tenho muitos colegas que atuam na mesma área e com as mesmas atribuições que eu na mesma instituição. Nos encontramos todas as semanas para informações da nossa central, haja vista a quantidade de núcleos a que pertencemos. Quem é servidor público sabe que quem está na área fim responde a uma infinidade de chefias. Quando temos questões complicadas no trabalho, pedimos a um/a do/as colegas para nos ouvir rapidamente durante o momento do café nas reuniões semanais. Isso nos alivia e oferece novos horizontes. Percebemos que não estamos tão sozinha/os como imaginávamos. Muitas vezes, aquele/a colega que nos ouve tem o mesmo problema ou sua questão é bem mais grave e assustadora que a nossa. No fim a ajuda acaba sendo mútua.

Como esse tempo é curto, embora semanal, as minhas questões começaram a extrapolar o campo laboral e invadir a área social. Minhas/meus amiga/os mais próxima/os passaram a ouvir minhas angústias. Ela/es me ouviam muito bem, mas eu não podia entrar em detalhes. Algumas vezes perguntaram coisas que me faziam entender o meu erro. Isso também atrapalhava a minha relação com ela/es. Enfim, percebi que minha atitude era absolutamente inadequada.

Busquei, então, um atendimento psicológico individual diverso ao espaço de supervisão. Frequento uma psicoterapia cujo único tema é o meu trabalho desde dezembro de 2013. Fui frequente inclusive nas férias, durante as quais municiei minha psicoterapeuta com informações estruturais da minha função e instituição de modo que, quando as encrencas começassem, ela já estaria preparada e entenderia os personagens e as ações enredadas.

É-me impossível exprimir o alívio que eu sinto com este instrumento funcionando!

Sinto-me mais leve, trabalho melhor, com mais rapidez. Ajo com mais diligência, prudência, integridade. Minha memória melhorou. Agora sou eu quem lembra as colegas pedagogas dos casos em atendimento. E ainda estimulo-as a aumentarem sua produtividade!

Tenho uma hora por semana para ser ouvida e cuidada por uma profissional competente, habilitada na função da escuta. A fala desta semana durou 45 minutos. Quando terminei, perguntei: quanto tempo temos? Ainda faltam quinze minutos, ela respondeu. Ah, ainda falei uns vinte! Que delícia!

Correta estava Anna O.: esvaziar a chaminé é realmente fantástico.

Há uma experiência que não posso deixar de compartilhar. Eu trabalho em quatro escolas. Uma delas é pouco iluminada e ventilada, seu pátio amplo é pouco ornado, as pessoas são pouco afáveis, parecem distantes. Esta é a minha percepção e isto fez com que meu trabalho surtisse pouco efeito. Como não me sinto bem lá, meu desempenho caiu sensivelmente e meus horários de frequência na escola passaram a ser torturantes. Enfim, quando minha visita ocorria no período vespertino, eu tinha indisposições físicas.
Quando voltei das férias, uma das minhas sessões foi de lamúrias sobre a escola. Minha psicóloga identificou o problema e aplicou uma técnica de fantasia, segundo ela. Pois a tal técnica funcionou perfeita e imediatamente.

Hoje, atuo nesta escola de forma mais fluida e ágil. Converso com os colegas, mesmo quando estão emburrrados e principalmente se assim estão. Atendo-os. Esforço-me para alegrar a escola e logo, logo darei sugestões para transformar o ambiente, deixando-o mais vivo. Entendo que, muito provavelmente, não sou somente eu que me sinto desta forma, mas cabe mim modificá-lo.

Definitivamente, minha atuação profissional mudou completamente depois da introdução de auto-cuidado. E para muito, muito melhor!

Nada de desídia!

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