domingo, 18 de outubro de 2009

Violência contra educadores

Hoje recuperei um relato meu sobre uma crise de aluno durante atendimento psicopedagógico. Muitos foram os fatores posteriormente identificados que provocaram uma forte reação agressiva por parte deste meu aluno. Trago meu próprio relato para mostrar o pânico que os educadores sofrem quando lidam com casos de agressividade dentro das escolas. O problema que enfrentei teve sua origem nas instituições e não na criança atendida. Um dos fatores identificados como propiciadores de sua reação foi a falta de acompanhamento dos responsáveis pelo abrigo que acolhia esta criança. Além disso, a falta de apoio dos gestores da educação e a incompreensão que sofri por parte dos colegas de trabalho me deixaram chocada com a forma que a situação foi conduzida (na verdade, percebo hoje que havia um desejo de que a situação fosse simplesmente ignorada).

Passei a atuar como psicóloga escolar este ano e em minha escola estuda um ex-menino de rua. Após conhecer um pouco da história do menino, decidi fazer uma intervenção mais freqüente com ele que agia de forma completamente diferente dos outros. Ele tem sete anos e já passou por tudo que meninos de rua costumam passar. Após três meses de atendimento, eu ainda não conhecia muito o menino, pois ele fala muito pouco. Devido a uma mudança de horário, um dia o menino agitou-se a ponto de me jogar todos os móveis que havia em minha sala assim como todos os objetos pequenos. Eu o atendia com mais duas crianças que foram tiradas às pressas da sala para não serem machucadas. À noite, minha mãe me perguntou se eu tinha ido fazer exame de corpo delito e eu respondi, alarmada, que não, claro que não! Ela então me disse: “até quando vocês vão apanhar dessas crianças?” Liguei então para uma amiga/colega de trabalho e ela foi mais enfática que minha mãe. Fazer o exame e um relatório para minha central explicando o fato. Fui então à delegacia onde o policial me explicou que nada aconteceria com o garoto e que não havia outra forma de realizar o exame, comprovando a agressão. Não tive apoio na escola onde atuava, pois ela é considerada muito tranqüila e a direção questionou meu relatório. Aparentemente estavam com medo de alguma coisa que ainda não consegui perceber. Quando fui entregar meu relatório na central, a outra chefia perguntou qual era a escola e uma vez respondida ela disse: "mas é uma escola tão tranquila!" Ainda não sei o que esse povo quis dizer. Quarenta dias depois do ocorrido, a conselheira tutelar que toma conta do menino visitou a escola. Perguntou o que tinha acontecido. Contou a história de vida do menino. Ao final, ela questionou quem era a vítima da história e disse que eu não deveria ter ido à polícia. Eu não esperei que ela dissesse a razão para não ir, respondi-lhe que não havia outra forma de fazer o exame de corpo delito e que o policial me garantiu que nada aconteceria ao garoto. Nossa infância está dilacerada! As pessoas que estão em idade reprodutiva não são adultas para educar suas crias. Nós da educação não conseguimos lidar com essas crianças tão protegidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Temos que compreender como pensam essas novas crianças de modo que elas também nos compreendam. Mas será que elas têm algum interesse em ser compreendidas? E o que podemos dar para essa nova geração? Nossa ciência não oferece subsídios para essa realidade tão crua e nós, que estamos com as mãos na carne, temos que inventar alguma coisa para evitar esse caos que tão rapidamente se aproxima.

O crescimento da violência nas escolas toma um vulto que chegamos a pensar na mudança de leis ou criação de outras. O Jornal do Senado, em sua edição semanal de 12 a 18 de outubro de 2009, tem a violência escolar como manchete principal. A matéria intitulada “Violência escolar explode no mundo todo” e toma toda a página central do periódico legislativo. Ela informa a inclusão da cultura da paz entre os objetivos básicos da educação nacional. Para íntegra da matéria, acesse http://www.senado.gov.br/JORNAL/arquivos_jornal/arquivosPdf/091012.pdf

Uma das colunas será aqui transcritas na íntegra devido a sua importância e alcance conforme nosso julgamento.

O que fazer em cada caso
Quando ocorre violência na escola, é preciso tomar atitudes imediatas. Veja como o professor deve agir nas seguintes situações:
Aluno armado na escola: só converse com a criança/adolescente se sentir que o diálogo é possível. Peça à direção que chame a polícia, cujo dever é abrir processo no juizado da infância e da juventude.
Ameaça ao professor: a vítima deve registrar ocorrência na delegacia de polícia, pedir a intervenção do conselho tutelar, conversar com os pais e a comunidade. Em último caso, pode ser inevitável solicitar a transferência do aluno.
Agressão: informe a direção da escola e a diretoria regional de ensino, registre a ocorrência na polícia, de preferência acompanhada pelo diretor da escola. Se o agressor for menor de 12 anos, é obrigatória a convocação de representante do conselho tutelar.
Arrombamentos e furtos: dar queixa na polícia é obrigatório.
Suspeita de abuso em casa: é obrigação da escola comunicar o conselho tutelar. O mesmo vale para ausência prolongada do estudante.”

No caso de agressão, acrescento que o relatório encaminhado a cada uma das instâncias acima indicadas deve ter uma cópia encaminhada à Promotoria da Educação (ProEduc) do Ministério Público. Os casos de violência sofridos pelos profissionais da educação devem ser denunciados e não esquecidos, escamoteados. E os profissionais devem ser apoiados. Se as políticas de prevenção propostas para a nossa sociedade passa pela escola, os educadores devem ser empoderados em sua ação ao invés de massacrados por exigências de outras instâncias públicas e falta de respeito de alunos, pais e gestores como vem ocorrendo.

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