segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Livros lidos em 2015

Markides, Kyriacos C. (2005). Cavalgando o leão: à procura do cristianismo místico. São Paulo: Editora Pensamento.
Este sociólogo greco-estadunidense expõem as teorias sociológicas que embasam fenômenos místicos de forma muito didática e quase romanceada. Através de diálogos e apresentando-se como personagem de várias viagens, Markides escreve de forma leve fundamentando teoricamente suas impressões, conforme seu costume acadêmico.

De Lucca, José Carlos (2012). Alguém me tocou - porque eu senti que de mim saiu poder. São Paulo; Intelítera Editora.
Este livro me foi presenteado por um amigo. Trata-se de reflexões sobre passagens do novo evangélio. Convites para reflexão de ações simples e cotidianas à luz de ensinamentos do mestre espiritual mais conhecido do mundo ocidental. Uma leitura cardecista.

Gutman, Laura (2012). A maternidade e o encontro com a própria sombra. Rio de Janeiro: BestSeller.
Gutman escreve a partir de sua experiência de atendimento psicanalíticos individuais ou em grupos de mulheres em puerpério principalmente. As relações emocionais observadas como padrão na díade mãe-bebê são descritas de forma inteligível, tocando a sensibilidade do leitor. A pérola com que Gutman nos brinda refere-se à confusão emocional que acontece logo que o bebê nasce.
Um grande amigo que me ofereceu o livro, tem-no como o livro mais louco que já leu. Acredito que isso se explica pela linguagem psicanalítica da obra. A leitura é realmente emocional e, por isso, investi bastante tempo para completá-la. Não é um livro comum.
Esta autora nos acolhe enquanto mulheres, mesmo as que não têm filhos, permitindo as sensações que temos e que não são compreendidas por nós ou nossas parceiras de vida porque não nos foi apresentada a possibilidade de sentirmos cruamente. Assim, ela nos possibilita.
Laura Gutman estará em Brasília no dia 16/05, no Parlamund. Eu vou!

Reich, Wilhelm (1936/1984). A revolução sexual. São Paulo: Círculo do Livro. Tradução: Ary Blaustein.
Reich apresenta a fundamentação da moral sexual paternalista que sustenta o sistema capitalista e como ela se dá na primeira parte. A segunda é dedicada à descrição das novas relações esboçadas pela sociedade socialista russa nas primeiras décadas da revolução. A revolução sexual necessária à superação do paternalismo é malograda e Reich expõem sua explicação para tal.
Reich desconstrói toda a base óbvia que sustenta as relações sociais em que vivemos e acreditamos ser a melhor. Mudá-la será realmente revolucionário e assustador. Foi o que aconteceu aos russos. Ele nos mostra com bastante clareza o quanto estamos restritos em nossa possibilidade de desfrutar o prazer sexual e porquê. Trata-se de leitura bastante interessante que propõe um outro olhar sobre nossas relações tradicionais.

Jung, C.G. (2014). Sobre sentimentos e a sombra: sessão de perguntas de Winterthur. Petrópolis: Vozes. Tradução: Lorena Richter.
Jung apresenta de forma direta e fácil suas ideias acerca de questões de amigos com os quais se encontrava periodicamente. Os dois últimos encontros foram gravados e a transcrição das fitas foi publicada. Somente no ano passado, a tradução desta obra foi apresentada ao Brasil.
O título é um excelente resumo. Trago trechos marcantes do texto:
"Passamos por uma renovação pessoal somente quando nos assumimos. Entretanto, pessoas que têm como hábito projetar desejam sempre responsabilizar as outras pessoas, como se os outros fossem responsáveis pelas asneiras que cometemos. Por exemplo, alguém acha que a esposa deve tratá-lo de forma diferente, pois ele mesmo se trata de modo estúpido. Assim a esposa deveria fazer a coisa certa! E assim por diante." (p. 42)
"Estamos de mãos atadas. Pois a sombra é um arquétipo e ela age tomando-nos, apoderando-se de nós. Ninguém é tão burro assim a ponto de cometer de propósito um evidente pecado, pois as desvantagens são tão grandes de modo que nós mesmos o evitamos. (...) E isso é muito desagradável. Não nos permitimos tais coisas, isso não se faz. O que podemos evitar, evitamos de qualquer maneira. Mas diacho! - a questão é que essas coisas se apoderam de nós. Não temos nenhuma saída, nem dá tempo. O pecado foi cometido antes de percebermos que estamos pecando." (p. 62-3)

Castro, Mary Garcia; Abramoway, Mirian e da Silva, Lorena Bernadete. (2004). Juventudes e Sexualidade. Brasília: UNESCO.
As autoras apresentam resultados de pesquisa com adolescentes, seus pais, mães e professores nas capitais das unidades federadas de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo acerca de suas impressões relativas a sexualidade, a saber iniciação sexual, gravidez juvenil, contracepção, aborto, violência sexual/preconceitos e discriminações/incesto.
Considero bastante abrangente e importante os resultados da pesquisa realizada. Porém trata-se de nutrição para proposta robusta de intervenção social na fase em estudo. As recomendações apresentadas pelas pesquisadoras versam sobre o fundamental papel da escola, esquivando-se de alertar órgãos governamentais e supra-governamentais (ONU) da ausência de instituições de agrupamentos juvenis independentes de educação ou religião.
Uma recomendação específica salta particularmente aos meus olhos e aqui a transcrevo:
"A pesquisa aponta algumas diretrizes de trabalho específicas, mais relacionadas com a comunicação escolar, a saber:
(...)
'incentivo em espaço para escuta e debate com os pais e, principalmente as mães sobre temas relacionados à sexualidade dos jovens." (p. 314)
Aqui mostra-se questionável porque tendenciosa e paternalista o acento na responsabilidade da mãe sobre a sexualidade juvenil. Mais uma vez a ciência cumpre seu papel de mantenedora de status quo.
Quase um século depois da primeira edição de "A revolução sexual" de Wilhelm Reich, temos um estudo extenso que sequer menciona a necessidade de se possibilitar locais seguros e adequados para encontros sexuais entre adolescentes.

Foucault, Michel. (??/1984). Doença mental e Psicologia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. Trad.: Lilian Rose Shalders. Coleção Biblioteca Tempo Universitário.
Foucault expõe a impossibilidade de paralelo entre a patologia orgânica e a mental. Apresenta categorias de análise das doenças mentais - evolução humana, história individual, questões existenciais, interpretações culturais.
Suscinto, muito filosófico e, às vezes, complicado, o texto possibilita visão ampla básica para o estudante de Psicologia. Oferece a necessária visão crítica para lidarmos com a avalanche de diagnósticos que enfrentamos atualmente. Com certeza, Foucault teria se divertido lendo O Alienista, se é que não o fez.

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