sábado, 21 de novembro de 2009

Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas

Em todas as escolas há drogas... A média de idade do primeiro contato com substâncias psicoativas é de 12 anos... A escola é espaço privilegiado para prevenção porque todas as crianças e adolescentes devem freqüentá-la.

O problema do uso, abuso e dependência de drogas está relacionado à nossa cultura. O uso de psicoativos sempre esteve presente nas sociedades humanas, porém associado a rituais. A sociedade ocidental descontextualiza o uso de elementos alteradores de consciência, transformando essa prática em problema.

A proibição não diminui o uso de psicotrópicos. A informação oferecida pelas muitas mídias não reduz os índices de uso a ponto de diminuir a preocupação dos órgãos governamentais de saúde. Os efeitos do abuso de drogas sobre o próprio organismo não inibe a continuidade do uso. Apesar da aparente impossibilidade de solução deste problema, não é possível também que esperemos os efeitos sem qualquer ação. Assim, cabe principalmente à escola o serviço público de alertar para os efeitos e perigos associados ao uso de drogas psicoativas.

O Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas (PRODEQUI), a pedido do Ministério da Educação em associação com a Universidade de Brasília, elaborou o Curso de Prevenção de Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas com objetivo de “capacitar educadores para uma abordagem de forma aberta, integrada, cooperativa e eficiente das situações do cotidiano escolar relacionadas ao uso de drogas, bem como para o adequado encaminhamento de usuários e familiares para a rede de serviços especializados; [e de] instrumentalizar os educadores com conhecimentos científicos e técnicos que lhes permitam planejar e executar ações preventivas no âmbito da escola.” (Guia do Aluno)

O curso, além de informações sobre os diversos tipos de drogas, seus efeitos e impactos sobre a família e a sociedade; também apresenta características importantes da adolescência enquanto fase da vida. As diferenças na propensão e impactos que substâncias psicoativas podem apresentar sobre o organismo humano também são expostas, alertando para diferenças individuais. São informadas como características de vulnerabilidade individual na adolescência “baixa auto-estima, falta de autoconfiança, dificuldade de tomar decisões; fatores biológicos; conflitos familiares e violência doméstica; fracasso ou exclusão escolar; regras e sanções ambíguas ou inconsistentes na família ou na escola; falta de vínculos afetivos com a comunidade; falta de consciência dos efeitos das drogas; ausência de participação social e de um projeto de vida.” (pág. 95) Além disso, há “condições sociais como o desemprego, a discriminação, o empobre-cimento, a violência, assim como a disponibilidade de acesso às drogas, são fatores importantes na configuração do abuso de drogas.” (pág. 95)

A instrumentalização das possíveis ações a serem desenvolvidas pelos alunos-educadores advém das leis brasileiras; da teoria sistêmica utilizando a compreensão contextual do uso, abuso e dependência; e do estudo das redes sociais pessoais e da instituição de ensino como fatores de proteção ou de risco para o uso de psicoativos. A partir destes instrumentos, os educadores são convidados a buscar parcerias na comunidade que abarca a escola e a residência dos alunos atendidos. Formas de envolver a família dos alunos também são propostas, assim como as possibilidades de empoderamento das mesmas de modo a potencializar a ação preventiva desenvolvida pelos educadores na escola.

Muitas são as possibilidades de se tratar o assunto nas atividades escolares, tradicionais ou não:
integrando o assunto nas disciplinas ministradas de modo a provocar sua discussão e conseqüente familiarização/desmistificação pelos alunos;
envolvendo o tema na programação de eventos que a escola organiza durante o ano;
estabelecendo ações e prevendo eventos no projeto pedagógico da escola;
envolvendo o professor pessoalmente, fazendo-o repensar sua vivência com as drogas, o impacto dela em sua vida e sua reações a ela objetivando a possibilidade de tratar do assunto com maior tranqüilidade e segurança;
promovendo a formação de adolescentes multiplicadores de informações de prevenção ao uso, abuso e dependência de psicoativos.

Todas essas ações devem ser desenvolvidas com integração da maior quantidade de profissionais possível e sempre com a participação ativa de professores, pois estes são os atores principais de uma instituição escolar. É necessário estabelecer a demanda da escola, os objetivos a serem atingidos e as metas a curto, médio e longo prazo, qual população será alvo do trabalho. A comunidade escolar deve estar envolvida nas atividades desde o seu início e a programação deve constar em um plano de ação.

O curso aqui analisado sugere que após o conhecimento da escola e/ou da comunidade é possível realizar o diagnóstico da instituição na qual se aplicará o plano através do levantamento de informações sugerindo-se a utilização dos seguintes instrumentos: contato com informantes-chave; observação; pesquisa; expectativas; demandas.

Este diagnóstico será um dos itens do projeto de atuação anti-drogas a ser realizado como trabalho final dos alunos-educadores do curso aqui analisado. Os alunos são estimulados a desenvolver o projeto definindo atividades, sensibilizando as pessoas da instituição ou da comunidade para sua implantação, selecionando o material educativo adequado à população-alvo, capacitando recursos humanos para o trabalho preventivo, realizando oficinas para disponibilizar conhecimentos e desenvolver habilidades, realizando atividades com alunos, identificando os recursos necessários, avaliando custos, construindo parcerias, definindo prazos e formas para avaliar o projeto.

Percebe-se que o curso apresenta sugestão para a alusão do assunto de forma individual a ser usado no caso de alunos que estão usando produtos psicoativos sem oferecer fórmulas. Há indicações de leis e órgãos a serem buscados para auxiliar nestes casos. Assim, o educador deixa de sentir-se abandonado com um grande problema que detectou.

Outra questão bastante interessante é a possibilidade de uso das informações e do enfoque usado com os alunos, em grupo ou separadamente, embasados no tempo presente. Isto é considerado importante porque crianças e adolescentes não apresentam pensamento projetivo ou abstração desenvolvidas como os adultos. Não é possível, portanto, analisar um assunto argumentando sobre o tempo futuro quando seu interlocutor é muito jovem – os efeitos do consumo após dez anos, o impacto da falta de estudos na vida adulta, a redução da capacidade de raciocínio devido à dependência, as restrições no campo social. O enfoque do discurso que causa efeito nessa faixa etária deve ser dado no tempo presente e este curso apresenta argumentos que possibilitam esta abordagem.

Sabe-se que o curso em análise tem sido aplicado desde 2004, sendo o presente ano o terceiro. No primeiro ano foram atendidos cinco mil alunos-educadores; em 2006 o número de estudantes cresceu para dez mil e em 2009, são vinte e cinco mil cursantes em todo o Brasil. É provável que no ano de 2010 não haja ampliação deste número. O curso é desenvolvido à distância com monitoramento constante. Conta com várias mídias como auxiliares do processo de ensino, a saber, livro, cd-rom, fórum de debates na internet, grupos de estudo, exercícios a cada lição, consulta a monitores on-line. A programação prevê dezesseis lições com um curtametragem associado. Na última lição, são oferecidas informações para a montagem do plano de ação antidrogas que foi construído durante todo o curso através dos exercícios.

Infelizmente não há garantia de que os alunos-educadores efetivarão o plano construído nem há compulsoriedade desta ação. Consequentemente, a avaliação do curso, ou seja, o impacto dele sobre as comunidades atingidas não ocorre. Em entrevista a coordenadora do PRODEQUI, Professora Doutora Maria Fátima Olivier Sudbrack, relatou a preocupação do órgão com este ponto. Estuda-se métodos para o acompanhamento pós-curso como forma de garantia de execução e ganhos efetivos para a comunidade escolar.

Para outras informações sobre o curso, acesse:
http://www.prodequi.unb.br/moodlesenad/

Um comentário:

  1. Este curso é muito importante. Este trabalho deveria ser desenvolvido durante todo o ano letivo, acho importante também envolver os pais e toda a comunidade.

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