domingo, 7 de junho de 2009

Separação por capacidade

Estive afastada da alimentação deste blog por motivo de viagem.

Durante este período, entrei em contato com uma colega de profissão que informou sobre o sistema educacional suíço. Como ela não tem filhos, deu notícias superficiais, mas que já possibilitam alguns pensamentos comparativos em relação ao nosso.

Conversávamos sobre capacidade intelectual diferenciada entre as pessoas. Ela então informou que o sistema educacional suíço trabalha com a seleção de alunos por rendimento escolar. Assim, os alunos que demonstram melhor desempenho ficam juntos em uma turma e tem como futuro o encaminhamento para a academia. Os seguintes ficam em uma segunda turma e podem ir para faculdade ou para cursos técnicos. Os piores (por que não usar esta palavra?) também são agrupados juntos e são preparados para cursos técnicos.

Quem tem mais de trinta anos deve se lembrar de algo parecido com isso aqui no Brasil. As turmas A, B e C dos anos 70 se parecem com este sistema. Mas não sei se havia, naquele tempo, essa correspondência com o futuro dos jovens como há hoje na Suíça.

A ciência psicológica assume que os seres humanos possuem capacidade mental diferenciada. Os programas de altas habilidades que temos aqui em Brasília são prova desta assunção. Os alunos que apresentam capacidade intelectual superior a média, que demonstram facilidade em algum aspecto da ação humana (habilidades) e não têm problemas graves de comportamento entram no programa especial oferecido pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, seja ele aluno da rede pública ou privada.

Entretanto, estes alunos seguem estudando nas mesmas turmas onde sua característica de inteligência diferenciada foi detectada. A teoria que baseia esta ação é a de que qualquer diferenciação entre as turmas se apresentaria como discriminação entre os indivíduos. Além disso, todas as pessoas merecem a melhor educação e por isso a separação não faria qualquer sentido. Ao final dos estudos básicos, no nosso sistema dito fundamental, o próprio indivíduo escolheria o que fazer.

Particularmente, vejo sentido em ambas as ações. Porém, o nosso sistema escamoteia uma prática bastante cruel amplamente denunciada por especialistas pedagogos. Aqui a educação é igual para todos, mas a escolha não é dada ao indivíduo, como na Suíça; as oportunidades não são iguais.

As escolas públicas do Distrito Federal recebem alunos das classes mais baixas da nossa sociedade. Seus pais não têm condições de pagar outra escola. A partir da classe média as crianças estudam em escolas particulares.

Minha realidade é a da escola pública e das classes sociais menos favorecidas economicamente. As professoras sobre as quais tenho responsabilidade indicam a falta de motivação de seus alunos além da falta de respeito que sofrem por parte deles. Os alunos que apresentam essas características com mais intensidade são encaminhados para meus cuidados. Percebo que não vêem sentido nas informações que estão recebendo, não sabem como lidar com ela e não percebem a importância da educação em suas vidas. Essa minha conclusão é também bastante antiga, pois já li sobre isso em clássicos da pedagogia.

A maioria esmagadora dos nossos alunos, de escola pública, não prossegue sua educação na academia e muitas vezes não fazem sequer um curso técnico. Penso eu que a escolha já foi feita para eles pelo sistema educacional brasileiro desde seu ingresso, porém tal falta de opção não é explícita. Aí mora a crueldade anteriormente citada.

A educação igual para todos é hipotética e talvez possamos usar a palavra utópica. Em minha escola, as professoras fazem adaptações para seus alunos compreenderem o conteúdo e provavelmente não consigam aprofundá-los como desejariam.

A distância entre a educação e sua realidade é tão grande que os alunos não percebem sua função. Nós, profissionais em educação, expomos ao máximo as razões da obrigatoriedade do ensino e de modo que nossos alunos possam compreendê-las (pensamos nós). Mas, há casos em que o aluno não alcança a idéia que nossa sociedade cultiva sobre a educação. Eu, particularmente, acredito que pela realidade em que vive, nosso aluno não acredita em um futuro tão distante quanto um prazo de mais de quinze anos. Talvez nossos conceitos não façam muito sentido para eles e assim o que dizemos não represente qualquer idéia concretizável. Assim, nosso esforço para motivá-los resulta totalmente vão.

Ora, um indivíduo que não compreende o que o outro diz, por não compartilhar os mesmos conceitos básicos, não poderá aprender com ele antes que haja pontos de partida comuns. Um aluno que não entende os conceitos de triângulo, linha, ponto, ângulo; não poderá aprender trigonomeria.

Assim, o ideal de educação para todos, com educação igual para todos resulta na manutenção da desigualdade social. Há muitos anos, diversos intelectuais da pedagogia denunciam esse alto risco, mas provavelmente, nosso ministério não conseguiu ainda montar uma proposta de educação para um país tão grande, com tanta diversidade, a ponto de abarcar realmente todos democraticamente, atingindo-os.
Talvez seja também cruel da minha parte comparar o sistema educacional de um país tão pequeno quanto a Suíça com o nosso, continental. Mas uma coisa deve ser bem apresentada, e o temos como objetivo aqui neste texto: o indivíduo realmente tem escolha?

Minha amiga afirma que na Suíça, se o aluno se esforçar na turma C, modificará sua classificação e poderá galgar postos até a turma B ou A. Isso também ocorre aqui, quando um aluno de escola pública chega a uma universidade também pública. Coisa tão rara que chega a ser notícia de jornal.


Acrescento o comentário que nossa colega na Suíça fez sobre este texto antes de sua exposição neste blog:
“Uma coisa acho que valia a pena apontar como uma possibilidade. Você sabe, a Suiça é um país muito pequeno, mas tem 26 cantões diferentes e em cada cantão há uma política educacional. Eles tem autonomia.
O Brasil é muito grande e muito centralizador. Acho que deveria haver maior autonomia dos governos de promover suas próprias políticas educacionais e aí quem sabe o sistema se adaptasse melhor as diferenças enormes entre o sul e o norte do país. Alucinar que essas diferenças não existem não ajuda em nada o nosso país.”

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